sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Guia para urbanoides celebrarem Lughnasad

Em todas as culturas, em todos os países, existe algum tipo de Festival da Colheita. O mês onde isso acontece é tão variável quanto o tipo de plantação, solo, semente, ambiente e clima local.
Sable Aradia recorda que muitos pagãos modernos vivem em cidades e existe polêmica suficiente quando reforçamos o estereótipo de que “pagão” é apenas o “habitante do campo” ou quem mora em “comunidades rurais”.
Mas a bigorna caiu na Comunidade Pagã quando John Halstead publicou um texto intitulado “Por que eu vou boicotar Lughnasad”. Jason Mankey deu uma excelente resposta ao publicar o texto “Não se pode boicotar um sabat”. A polêmica inflamou, como é de se esperar em uma página [Patheos] que reúne tantos tipos de pagãos modernos.
Curiosamente, os oito sabats celebrados por pagãos de diversas vertentes tem sua origem no sistema que Gerald Gardner nos legou com a Wicca. Meu lado tradicionalista vai sustentar os oito sabats como parte dos princípios e valores da Wicca Tradicional. Meus lados pagão e historiador tenderão a discordar dessa “universalização”, simplesmente por que não se sustenta, historicamente, culturalmente, antropologicamente e ambientalmente.
Se fosse esse o argumento de John, eu poderia concordar, mas ele extrapolou quando deixou claro que iria boicotar a celebração da colheita. John é um pagão moderno humanista. Parece contraditório um pagão ateu, mas levando em conta que existe o “cristão progressista”, eu estou disposto a assimilar a contradição, levando em conta que o ateu tem sua forma de espiritualidade, como eu escrevi em “Ensaio sobre a cegueira”. Jason foi bem feliz nesse sentido, afinal, nós somos parte da natureza, a estação, qualquer nome pela qual seja celebrada, marca um evento que ocorre dentro de nós, ainda que moremos em cidades urbanizadas.
Outro equivoco que precisa ser desfeito é o estereótipo que o “pagão” é o “habitante do campo” ou quem mora em “comunidades rurais”. Em seu apogeu, o Paganismo, ou as religiões antigas que precederam o Cristianismo, os rituais aconteciam mais em cidades do que no campo. As urbes romanas e as póleis gregas foram os arquivos que resistiram à destruição causada pela imposição do Cristianismo. Sem os pergaminhos escritos por personagens letradas, nós jamais teríamos conhecido qualquer das histórias que fazem parte da mitologia clássica. Os habitantes do campo tem seu próprio jeito de lidar com as mudanças, ainda existe muito folclore antigo sendo preservado dentro de embalagens sincréticas.
Quem vive em cidades rurais tem mais oportunidades e mais variedades para celebrar os processos ligados ao campo. Como praticamente a subsistência dos agricultores depende do consumo de nós, urbanoides, nós também podemos perceber as diferentes safras pelos produtos que consumimos e a dança das estações observando as plantas que ornamentam nossos jardins públicos. Nós não “colhemos” os frutos que plantamos no solo, mas colhemos os “frutos” de nosso trabalho. Não é mera coincidência que a maior festa do trabalhador seja o primeiro de maio. A nossa “colheita” vem por salários, férias, 13º, hora extra. Além dos “frutos” físicos, podemos incluir a “colheita” de pensamentos, ideias, sonhos, projetos, objetivos.
Desta forma, o urbanoide pode celebrar sua “colheita”, em seu lar, sozinho ou com seus familiares. O urbanoide pode também celebrar a memória de seus ancestrais, visto que o primeiro de agosto é, em muitas culturas e povos, chamado de Candlemas, a Festa das Luzes, em memória dos que nos deixaram.

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