terça-feira, 9 de junho de 2015

A Fonte

Lendo o Patheos eu cheguei a uma série de textos ateus falando da Wicca e ali tratam de um assunto pouco comentado entre pagãos, bruxos e wiccanos: a Fonte.
Em algumas versões da Carga da Deusa temos o seguinte trecho:
“Quando se reunir em meu nome eu te darei conhecimento do espírito eterno”.
O mistério wiccano não é baseado em um livro, nós não somos uma “religião de revelação”, onde um texto sagrado é toda verdade, mas sim que deve ser interpretado.
Vamos analisar o texto. A poesia fala de um espírito eterno em terceira pessoa. Então de quem a Deusa está falando? Certamente a Deusa não fala de si mesma, visto que endereça a outro princípio divino. Eu poderia inferir que Ela fala do Deus, mas a forma quase impessoal de tratamento destoaria da forma como a Deusa trataria seu Consorte. Alguns autores e sacerdotes wiccanos falam de um Uno, uma Fonte, ou mais especificamente, do Dryghtyn.
O site Sacred Texts cita uma poesia de Vivianne Crowley:
“Em nome de Dryghtyn, a Antiga Providência, que era do inicio e é pela eternidade, Masculino e Feminino, a Fonte Original de todas as coisas”.
Uma análise textual denota que falamos da união do Deus com a Deusa, que é a função do Hiero Gamos, sem o qual o Universo não existiria. Esta Fonte não é nem Ele nem Ela, mas um Aquilo, indistinto, impessoal.
Os conceitos mais próximos dessa fonte seriam:
1)      O mítico Andrógino, que é a natureza original da Humanidade.
2)      A Mônada, dos Gnósticos e Neoplatônicos.
3)      O mundo das ideias, do Platonismo.
Algumas vertentes do Paganismo Moderno são monistas, outras são monoteístas, outras são henoteístas e as demais são politeístas. O Dianismo e as religiões da Deusa costumam confundir seu monoteísmo da Deusa com o monismo, mas a Mônada é impessoal, indistinta, não pode ser identificado com o Deus ou a Deusa, não é Ele nem Ela, mas um Aquilo.
Sobre o mito andrógino, eu escrevi sobre isso no texto “Interpretando os mitos andróginos”. Sobre o mundo das ideias, eu tenho um texto sobre isso em “A origem do Logos”. Sobre o Neoplatonismo, eu tenho um texto sobre isso em “Sobre os Deuses”. Sobre a Mônada, eu tenho um texto sobre isso em “Henosis a união com o divino”.
A Mônada, para o Paganismo Moderno, assume a função do Terceiro Divino, mas não podemos confundir este conceito com a Tríade da Deusa. Ressaltando as diferenças, o monoteísmo abraãmico tem esse Terceiro Divino, chamado de Espírito Santo, a Shekinah, o Profeta. Não obstante, estas personalidades divinas são manifestações do Deus de Abraão. A Mônada ou a Fonte é uma manifestação divina por si, quando a Dualidade Divina [o Deus e a Deusa] se unem e se confundem no arrebatamento do Hiero Gamos. Disto percebemos o mistério do Grande Ritual.
Tratando do assunto, a série de artigos dos ateus analisando a Wicca, ressalvando a simplificação e generalização, os artigos fazem um bom trabalho. Exceto quando citam trechos de textos de autores wiccanos. Não podemos esquecer que a Wicca não é uma “religião de livro” e que livros, por mais que sejam escritos por altos sacerdotes ou altas sacerdotisas, expressam a opinião de cada um. Uma das citações e análises define a Fonte como a derradeira divindade. Esta declaração soa estranha, afinal nós acreditamos no ciclo da existência, então não há uma derradeira divindade. Se considerarmos a Fonte como a união do Deus com a Deusa e do Hiero Gamos se manifesta o Universo, então podemos entender que tudo é divino [inclusive a ciência e o ateísmo], mas não que o Todo é a derradeira divindade.

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