quarta-feira, 24 de junho de 2015

A fantástica fábrica da religião

Posso te contar um segredo? Algo que eu raramente digo em voz alta, algo que eu muitas vezes me pergunto que pode ser o elefante na sala?
Às vezes, quando as coisas ficam tranquilas ou duras; às vezes, quando eu me sinto sobrecarregada com tudo, eu me pergunto: "E se nós estivermos inventando tudo isso?"
O que quero dizer com "tudo"? Eu quero dizer os Deuses, os espíritos, o esforço, as máscaras e nuances, as performances de normalidade e cultura: tudo mesmo.
Finja até conseguir
Quantos de nós passam pela vida se sentindo uma fraude? Como se, a qualquer dia, a qualquer momento, alguém vai sugerir que você não está usando qualquer roupa ? Eu me senti desse jeito e ainda sinto às vezes. Você pode se surpreender com o número de professores universitários - pessoas com doutorado, que são especialistas em seus campos - que também se sentem assim. Eu ainda não posso acreditar que as pessoas não apenas leem o meu blog, mas continuar  me incentivando a escrever. Quer dizer, o que eu sei ?
E se eu estou fabricando tudo isso? E se eu apenas estou solitária, com uma ativa imaginação, sensível demais para funcionar no "mundo real"? Você não estaria errado se achar isso. Mas o "mundo real" é criado também. Fazemos dinheiro, dívida e gênero. Criamos hierarquias, popularidade e estilo.
"Fingir até realizar" não é viver uma mentira, muitas vezes é um grande mecanismo de defesa, uma conversa pessoal estimulante, ou uma forma de experimentar uma atitude, uma idéia, ou algum item físico para aumentar. Às vezes é um glamour.
Ocasionalmente, é aconselhável deixar o glamour ir e perguntar: O que eu tenho assimilado e o que eu preciso deixar de lado? Eu quero continuar usando isso? O que é a coisa verdadeira ? Os momentos que nos sentimos como uma fraude são humilhante, mas eles tornam os momentos brilhantes da profunda verdade mais preciosos.
Teologia Narrativa
Outra maneira de fazer as coisas é contar histórias. Que história que você está contando? De que história você é parte?
Há um tipo de teologia pós-moderna, a teologia narrativa, que olha para a maior narrativa cultural numa determinada religião. Encontramo-nos recontando as histórias que nós escolhemos fazer parte e, em seguida, por meio de nossas vidas, continuar essa história. Costumo rir com os pagãos que parecem estar vivendo o Senhor dos Anéis, de Tolkien. Eu costumava zombar desta tendência entre os pagãos a se envolver em uma fantasia até que eu percebi que todos nós estamos vivendo as histórias que fazemos parte. Alguns de nós mudou a narrativa, o narrador, até mesmo o gênero.
Uma das coisas bonitas que eu vi no Neo-paganismo é a idéia de que podemos abraçar uma narrativa fora do padrão histórico e estético dominante. Se tudo é feito de qualquer maneira, eu quero escolher a fantasia que eu estou vivendo. Terá mais força para você se você prefere um mundo quase medieval! Não há nada de errado ou bobo em se esforçando para alinhar sua vida diária com virtudes heróicas, contos de aventuras épicas e batalhas com dragões, quem entre nós não tem alguns animais para matar, domomesticar, ou ser amigo?
Re/encantar enquanto se Re/tece a narrativa
Eu quero uma vida cheia de encantamento, dedicação, beleza, relacionamento, reciprocidade, hospitalidade, resistência e libertação. Estes são valores que associamos com a Bruxaria e o melhor no Paganismo. Eu quero acreditar que as vozes que ouvidmos e os espíritos vistos são reais. Eu quero acreditar que a minha intuição e meus sentimentos são tão valiosos quanto a minha razão. Eu quero um mundo onde existem Deuses, onde os reinos são interdependentes.
Então, eu ajo como se essas coisas são verdadeiras. Alguns dias eu sinto como se a meditação é nada mais do que uma ladainha mental de listas de tarefas e o sofrimento nas minhas pernas. Claro, eu tenho lido vários artigos sobre a ciência da meditação. Alguns dias fazendo oferendas em meus altares, dizendo bom dia para os Deuses e espíritos me faz sentir como se eu desperdiçasse dinheiro que eu não tenho em flores e conversando com uma cômoda.
Eu prefiro ter um mundo onde a terra é compreendida, onde as forças de vida, morte e libertação são honrados, onde a beleza é cultivada. Quero prateleiras e cantos preenchidos com penas, pedras e ícones. Eu quero feriados que reflitam o fluxo de nossas estações e comemoram a narrativa da história que eu estou vivendo - não a história que meus vizinhos estão vivendo.
Somos criativos, criando seres criados. I corajosamente escolhi desestabilizar a narrativa que me foi dada e eu prossigo, escrevendo uma nova narrativa com cada passo que dou.
Autora: Niki Whiting, publicado no Patheos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário