quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

A fábula do Sapo

“Religion shouldn’t be about being right, or serving god or duty, or heritage. It should be about fulfillment, growth and love”.

Jason Mankey divulgou um texto intitulado “A Witch’s Tale” no Patheos e para começar o ano bem, eu acho que é o momento certo para falar a fábula de Joãozinho.

Eu comecei minha jornada no colegial, depois que o conhecimento secular finalmente atingiu uma espinha. Ao contrário de muitos cristãos [seja qual for sua vertente] eu li a bíblia para entender a diferença entre o conhecimento secular e o conhecimento bíblico. Ao contrario de muitos cristãos [seja qual for a vertente] os fatos estavam contra a bíblia e este livro sagrado foi descartado como fonte de conhecimento confiável e por um bom tempo eu fui ateu.

No entanto, ao contrário dos descrentes, eu não aceitava simplesmente as soluções ou explicações científicas. Quando eu era pequeno eu desenvolvi um interesse e curiosidade sobre o mundo espiritual, praticamente depois que meus primos e meu irmão tentaram me apavorar contando histórias de fantasmas ou me deixando de fora da “brincadeira do copo”. O que eu mais gostava eram histórias de terror e eu queria saber mais da história dos monstros, de preferência contada por eles.

Ainda que de forma velada, a bíblia conta de práticas e crenças que são definidas por bruxaria. Isso me levou a pesquisar sobre as crenças e religiões dos povos antigos. Ali começou minha jornada, em busca de minhas origens, de minhas raízes, de minha identidade.

Eu também estava em busca de aceitação, reconhecimento ou de pessoas que pensassem como eu, pois o que mais se tem nessa sociedade cristã é violência, segregação, preconceito, intolerância, ódio. Por um bom tempo eu estudei a história do Cristianismo para me livrar de vez dessa crença imposta.

Quando eu estive no fundo do poço, quem esteve do meu lado foram entidades que, para a concepção cristã, eram demônios e o Diabo. Então eu também fui satanista, por um bom tempo, até perceber que isto estava mais para uma paródia do que um sistema coerente ou original. Foi quando eu comecei a acessar a internet e encontrei, por fim, o Paganismo Moderno, a Bruxaria Tradicional e a Wica.

Eu tive a feliz oportunidade de aprender os valores e princípios da Wica Tradicional com alto sacerdotes e alta sacerdotisas de covens que pertencem ao conjunto da Wica Tradicional Britânica. Eu tive péssima experiência com a Comunidade Pagã Brasileira e com grupos de Wica, em redes sociais, simplesmente por defender os princípios e valores da Wica Tradicional. Em alguns textos eu deixei bem claro que este é um dos defeitos que o Paganismo Moderno tem. Eu também narrei a saga de Joãozinho, não vou usar este blog para fazer acusações ou mea culpa. Acabou, foi-se, está enterrado. Meu foco neste ano estará na minha jornada.

Minha epifania com a Deusa não veio com hora marcada, não veio em um ritual, não veio em uma rede social, nem em um fórum eletrônico. Eu senti um enorme impacto, uma presença tão real, tão vívida, tão absoluta, que nada me restou senão me entregar ao arrebatamento. Eu estava no ônibus, indo para algum lugar. Eu senti um cheiro de rosas tão notável e tão presente que eu fiquei surpreendido. Vivendo em São Paulo, o que mais sentimos é poluição e eu tenho rinite alérgica que me deixa quase insensível ao cheiro. Não tinha uma mulher próxima de mim, nem tinha passado uma mulher perto de mim. A sensação de calor, de conforto, de acolhimento completou e confirmou que a Deusa estava presente, embora eu não a visse. Se eu tivesse visto a Deusa, certamente seria constrangedor, pois eu teria uma ereção no meio do ônibus.

Curiosamente eu vejo poucos testemunhos ou epifanias com o Deus. Eu compreendo e entendo. Nós viemos de um histórico traumático, de uma cultura judaico-cristã, cheio das neuroses do Cristianismo e de problemas com o Deus Cristão. Falar de uma epifania do Deus, principalmente se considerarmos a presença massiva das “religiões da Deusa” e do Dianismo, falar do Deus ainda que em forma de metáfora ou analogia é pedir por problemas. Estar diante do Senhor não é algo fácil nem simples de traduzir em palavras. Meus leitores interessados deverão encontrar os rastros.

Eu concordo com a ideia que religião não é sobre estar certo, a obsessão pela certeza nos torna monstros. No entanto, nós devemos nos ater a certas definições e convenções para poder afirmar nossas práticas, crenças e religião, do contrário nós perdemos a seriedade e a sinceridade. Eu discordo sobre não ser a respeito de servir aos Deuses, o próprio sentido de um ritual, de um mito, de uma prática, está em volta do sentido de espíritos e entidades. O devido serviço demanda uma obrigação, celebramos porque devemos, porque é nosso serviço. O devido serviço é aprendido com quem possui a experiência e isso demanda uma herança, uma linhagem, o sentido do sacerdócio e o cerne de uma iniciação.

O primeiro efeito quando se serve aos Deuses, não a agendas pessoais, não ao ego, não nossas vaidades, é o sentimento de plenitude. O crescimento vem ao se assimilar que nosso corpo, nosso desejo, nosso prazer, amor e sexo, são sagrados, divinos e ferramentas para acessar ao divino. Nisso consiste a melhor parte de trilhar o Caminho no Bosque Sagrado. O nosso acesso ao divino está conosco, em nossa volta, em todo lugar.

Saiba, caro leitor, que você não precisa procurar por aceitação, reconhecimento. Saiba que você não precisa entrar em alguma comunidade, virtual ou não, não precisa entrar em um coven. Você não precisa de um mestre, um mentor, um guru, um sacerdote. Tudo que você precisa é da Natureza, de si mesmo, de seu corpo, de sentir, de praticar. Tudo que você precisa é Amor.

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