quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O fantasma na concha

Deleuze e Guattari descrevem, no Anti Édipo, conceitos de filosofia e psicanálise bem provocantes.

Para os autores, o ser humano, a sociedade, o governo, são máquinas desejantes. Para compreender a obra, temos que considerar que órgão se refere tanto as partes que formam um corpo quanto as partes que formam uma maquina. Portanto, nós, humanos somos máquinas naturais e os aparelhos são máquinas artificiais.

A provocação consiste quando inserimos que a maquina tem uma função que é a de produzir algo. Uma maquina deixa de ser funcional quando suas partes (órgãos) estão quebradas, defeituosas, desreguladas, desgastadas. Para cada máquina e problema, existem técnicos para produzir o conserto ou substituição da peça.

Nós vemos constantemente no serviço uma placa avisando: “em manutenção”. Em inglês, o sentido fica mais interessante: “out of order”. A provocação fica evidente quando passamos das maquinas artificiais para as maquinas naturais.

O que fazemos com um indivíduo, uma pessoa, quando ela fica “fora de ordem”? Nós a mandamos, ou para a prisão, ou para o manicômio. Com esse sentido, aqui entramos no assunto do livro, a psicanalise e a preocupação dos autores em indicar os motivos pelos quais nós maquinas piramos: pelos desejos que produzimos. Por isso que falam em maquinas desejantes.

O sistema, outra maquina desejante, formada pelas maquinas desejantes chamadas sociedade e governo, funciona de forma cruel e sádica. Ora instiga, provoca e patrocina o desejo. Ora limita, proíbe e reprime o desejo. Por isso que falam que o capitalismo é esquizofrênico.

O que há de tão misteriosos, místico e perigoso nesse tal de desejo, que pode produzir tanto o recalque quanto o fetiche, pode produzir tanto o reacionário quanto o revolucionário?

Não é mera coincidência que o título desse texto seja uma referência ao anime “Ghost in the Shell”. O desenho não é explícito, mas dá a entender que, em um futuro utópico, androides enlouqueceram porque desenvolveram uma alma humana. Seria o desejo a alma, a essência humana?

Quanto a isso, a cultura oriental se sai melhor do que a ocidental. No oriente, todas as coisas possuem um espírito. No ocidente existe apenas o niilismo. No oriente, o sexo é visto como algo normal, natural e saudável. No ocidente ainda somos assombrados pela esfinge de Édipo e tentamos matar toda forma de espiritualidade para resolver nossos problemas com a figura paternal.

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