sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Monoteísmo Pagão

Parece que há uma contradição quando dizemos paganismo e monoteísmo na mesma frase. A definição geral do monoteísmo é a crença em um único Deus, mas mesmo esse conceito e teologia têm uma complicação, se analisarmos as religiões que são consideradas exclusivamente monoteístas.

São três as grandes religiões monoteístas, isto é, que creem em um único Deus: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Entretanto, estas religiões possuem vertentes que indicam uma forma velada de panteísmo, henoteísmo e monismo. Muito embora creiam em um Deus Uno, possuem uma politeologia. Se por dentro existe um problema doutrinário, por fora o problema se multiplica, pois há um conflito de concepção por serem credos exclusivistas.

Entretanto existem religiões pagãs monoteístas que creem em um único Deus, com um tempero politeísta, panteísta, henoteísta e monista. São elas o Hinduísmo, o Mazdeismo, as religiões da diáspora africana e o Dianismo. O Hinduísmo, o Mazdeísmo e as religiões da diáspora africana são bem antigos, tem uma longa tradição, sacerdócio, ritual e mistérios próprios. O Dianismo é parte do Paganismo Moderno, tem uma tradição escassa ou inexistente, seu sacerdócio não tem base, seus rituais são meras imitações e seus mitos são inventados.

Enquanto as três religiões abraâmicas disputam entre si pelo monopólio do divino, as religiões pagãs monoteístas tradicionais não tem tal estresse, são religiões que convivem com as crenças populares. Apenas o Dianismo, esse monoteísmo pagão da Era Moderna, tem copiado o estresse do monoteísmo abraâmico, querendo disputar o monopólio do divino com sua Jeovulva, sua Santa Ameba.

O monoteísmo abraâmico com seu Deus Uno provocou terríveis consequências para a história da humanidade. O monoteísmo pagão construiu uma cultura e impérios que ajudaram a formar a humanidade contemporânea.

As antigas religiões eram politeístas, mas como a maioria elegia um Deus dentre muitos para ser o Pai, podemos descrever como sendo religiões que poderiam desenvolver em uma forma de monoteísmo. Os cultos a Zeus, Júpiter e Cesar ficaram bem próximos desse tornarem uma religião de massas. O culto a Mithra foi tão bem sucedido que foi assimilado pelo surgente Cristianismo.

O monoteísmo pagão tradicional acredita em um Deus Uno, mas não é exclusivista. O monoteísmo pagão moderno acredita em uma Deusa Una, mas tem copiado o péssimo hábito das religiões abraâmicas. Diante da experiência humana, esse exclusivismo, esse monopólio da Deusa pode acabar provocando as mesmas terríveis consequências do monoteísmo abraâmico.

Para o pagão moderno, com diversas teologias, o divino é uno ou múltiplo, é imanente e/ou transcendente, os Deuses são identidade distintas [politeísmo], são emanações de um Deus/Deusa [henoteísmo], ou que somados resultam em um Deus/Deusa [panteísmo], ou que todas essas manifestações são emanações de um Uno indistinto [monismo]. O grande diferencial do Paganismo Moderno é essa diversidade. O Paganismo Moderno é um espaço de inclusão, debate, conhecimento acadêmico. O pagão moderno não tem desculpa para cometer os mesmos erros do cristão. Para manter nossa liberdade e tolerância, nós não podemos permitir, sob a alegação de liberdade de religião e expressão, esse discurso, esse monólogo exclusivista do Dianismo.

Esta distorção tem um histórico, teve início na Era Moderna com as teorias furadas de Marija Gimbutas e a ficção teísta de Dion Fortune. Antes disso, a única Deusa que podia pleitear o trono de Deusa Una foi Isis, graças a Alexandre o Grande, que conquistou o Egito e, pela helenização do mundo clássico, o culto de Isis passou de um culto étnico a um culto multinacional. Foi neste cenário que Lucio Apuleio compôs o Asno de Ouro, um texto clássico citado falsamente pelo Dianismo como a base histórica para o inexistente Antigo Culto da Deusa Mãe.

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