quinta-feira, 1 de maio de 2014

Por um 1º de maio pagão

Todos os anos as centrais sindicais reúnem os trabalhadores para comemorar o Dia do Trabalho ou o Dia do Trabalhador. Os meus amigos ateus, socialistas e comunistas que me desculpem, mas esse dia tem suas origens muito mais anteriores ao surgimento do sindicalismo.

“Na Roma antiga, o primeiro dia de maio caía durante o festival chamado Florália, dedicado à Flora, deusa da primavera e das flores. Era uma época de canto, dança e desfiles com muitas flores coloridas. As prostitutas romanas apreciavam especialmente esse festival, pois consideravam Flora sua deusa protetora.

Quando os romanos conquistaram outras terras, levaram seus costumes a esses lugares. No entanto, os romanos descobriram que nos países celtas o primeiro dia de maio já era celebrado no festival de Beltane. Para os celtas, o dia começava ao anoitecer. No início de 1.° de maio, nenhum fogo era deixado aceso; e quando o sol nascia, as pessoas acendiam fogueiras no cume dos morros ou sob árvores sagradas para receber o verão e a renovação da vida. O gado era levado para pastar, e invocava-se os deuses para que o protegessem. Logo, o festival de Florália fundiu-se ao de Beltane e se tornou o festival de Primeiro de Maio.

Para os povos escandinavos e os que falavam alemão, o festival de Walpurgis era o equivalente ao festival de Beltane. As festividades começavam na noite de Walpurgis, quando se acendiam fogueiras para afastar bruxas e maus espíritos. Outros europeus desenvolveram seus próprios costumes para comemorar o Primeiro de Maio, e muitos destes existem até hoje” [Torre de Vigia].

Curiosamente o sindicalismo “tem origem nas corporações de ofício na Europa medieval. No século XVIII, durante a revolução industrial na Inglaterra, os trabalhadores, oriundos das indústrias têxteis, doentes e desempregados juntavam-se nas sociedades de socorro mútuos.

Durante a revolução francesa surgiram idéias liberais, que estimulavam a aprovação de leis proibitivas à atividade sindical, a exemplo da Lei Chapelier que, em nome da liberdade dos Direitos do Homem, considerou ilegais as associações de trabalhadores e patrões. As organizações sindicais, contudo, reergueram-se clandestinamente no século XIX. No Reino Unido, em 1871, e na França, em 1884, foi reconhecida a legalidade dos sindicatos e associações. Com a Segunda Guerra Mundial, as idéias comunistas e socialistas predominaram nos movimentos sindicais espanhóis e italianos“ [wikipedia].

Ou seja, o sindicalismo surgiu na Idade Média com as corporações de ofício que “eram associações que surgiram na Idade Média, a partir do século XII, para regulamentar o processo produtivo artesanal nas cidades que contavam com mais de 10 mil habitantes. Essas unidades de produção artesanal eram marcadas pela hierarquia (mestres, oficiais e aprendizes) e pelo controle da técnica de produção das mercadorias pelo produtor. Em português, são chamadas de mesteirais.

Entende-se por Corporação de Ofício as guildas (associações) de pessoas qualificadas para trabalhar numa determinada função, que uniam-se em corporações, a fim de se defenderem e de negociarem de forma mais eficiente. Dentre as mais destacadas, estão as Corporações dos Construtores e dos Artesãos.

Uma pessoa só podia trabalhar em um determinado ofício - pedreiro, carpinteiro, padeiro ou comerciante - se fosse membro de uma corporação. Caso esse costume fosse desobedecido, corria o risco de ser expulso da cidade.

Cada corporação agrupava um determinado ramo de trabalho; por isso era chamada de corporação de ofício.

Em cada uma das cidades medievais existiam várias corporações de artesãos: dos tecelões, dos tintureiros, dos ferreiros, dos carpinteiros, dos ouvires, entalhadores de pedras, entre outros.

As pessoas geralmente ficavam 10 anos em cada oficio e seu mestre do oficio era obrigado a dar alimentos e moradia.

Essas corporações estabeleceram regras para o ingresso na profissão e tinham controle de quantidade, da qualidade e dos preços dos produtos produzidos, chamado de preço justo. Um artesão nunca poderia estipular um preço maior ou usar material de qualidade inferior ao de seu colega. Isso evitava a concorrência dos membros de mesmo ofício. A corporação também protegia seus associados proibindo a entrada de produtos similares aos produzidos na cidade em que se atuava. Eles também amparavam seus trabalhadores em caso de velhice, qualquer tipo de doença ou invalidez. Uma instituição típica da sociedade medieval foi a corporação de ofício. Eram associações que organizavam a produção e a distribuição de determinados produtos, reunindo profissionais do mesmo ramo, como por exemplo os sapateiros, ferreiros, alfaiates.

As corporações atuaram como incentivo para o aumento da produção. Os comerciantes manufatureiros foram obtendo cada vez mais lucros o que gerou um crescente acúmulo de capitais, nas mãos de uma nova classe, que passou a ser denominada de burguesia.

A grande finalidade das corporações era evitar a concorrência entre os artesãos, tanto locais como de outras cidades, e adequar a produção ao consumo local. As corporações fixavam o preço do produto, controlavam a qualidade das mercadorias, a quantidade de matérias primas e fixavam os salários dos trabalhadores” [wikipedia].

Portanto a organização do trabalhador precede as revoluções e idéias do século XVIII, assim como a festividade do primeiro de maio precede a festa do Dia do Trabalho. A revolta que marcou a data histórica para as centrais sindicais e para os partidos de esquerda aconteceu após a Revolta de Haymarket, que ocorreu no dia 4 de maio. O primeiro de maio foi oficializado como Dia Internacional do Trabalhador apenas depois da reunião da Internacional Socialista, quando o Socialismo começou a assimiliar e a cooptar o movimento e a organização do trabalhador para seus ideais. Não obstante, o trabalhador pertence a diferentes classes econômicas e possui diferentes opiniões, chega a ser um paradoxo que, em pleno Dia do Trabalhador, as centrais sindicais façam loteria de bens de consumo [como carro], objetos que são símbolos típicos de status da burguesia. Se perguntasse a um trabalhador brasileiro o que ele quer, a resposta seria “ganhar na megasena” ou “abrir o próprio negócio”, mostrando um sintomático fracasso do socialismo e do comunismo na “classe trabalhadora”.

A questão dos direitos, individuais, civis ou trabalhistas, são uma história à parte, mas pode-se dizer em termos gerais que os direitos passaram a fazer parte das leis em Estados Democráticos, onde as constituições desses países foram resultado de uma confluência de ideais capitalistas e socialistas e de ideais liberais e conservadores, do debate livre e democrático na sociedade, entre a sociedade e os governantes. Entendendo que um Estado Laico não é antirreligioso e que temos que honrar as nossas origens, eu bem que gostaria de que o primeiro de maio voltasse a ser uma celebração pagã.

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