sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Elementos da religião ancestral

Essa é uma resenha breve sobre o livro “Deep Ancestors – Practicing the Religion of Proto-Indo-Europeans”, de Ceisiwr Serith.
Eu concordo com o autor quando ele afirma que, ao se estabelecer nossa herança ancestral religiosa, estamos falando em cultura, não em etnia e muito menos em raça. Isto posto, eu comparo o livro de Serith com os livros de Dumezil [Archaic Roman Religion] e comparo os elementos da religião ancestral com a Wica Tradicional. Deve se ressaltar que esta resenha não tem a intenção de questionar ou duvidar da veracidade e autenticidade da Wica Tradicional.
Serith e Dumezil concordam com o aspecto fundamental de que falamos de religiões extremamente politeístas. Os atributos dos Deuses nessas religiões são concordantes quanto às características notavelmente ligadas a uma função. Por outro lado, os atributos das Deusas estão mais ligados ao “ser”, fato ou circunstância, identificados com uma determinada Deusa.
Na Wica Tradicional, embora seus praticantes sejam, por definição, politeístas, há o foco no Casal Divino, um Deus e uma Deusa, tornando o culto a outros Deuses algo acessório e particular. De certa forma, a Wica Tradicional assemelha-se a uma forma de henoteísmo.
Serit e Dumezil concordam com o aspecto da forma e do sacerdócio dessas religiões serem primordialmente patriarcais, onde a mulher exerce um papel secundário e, na ocasião do casamento, esta ter que adotar a religião da família de seu marido. Mesmo cultos marcantemente femininos, como o de Vesta, podem ser compreendidos facilmente ao se levar em conta que o lar era fundado em volta do fogo doméstico, função e atributo feminino.
Na Wica Tradicional há uma inclinação para o sacerdócio feminino e transmissão matrilinear. A divisão das funções não está condicionada ao gênero, mas há um foco maior na figura da Alta Sacerdotisa.
Serith e Dumezil concordam com a enorme importância dada em ambas as religiões quanto ao culto aos ancestrais. Padrões similares podem ser percebidos no trato e uso do fogo nos rituais, bem como na preocupação de um momento pré-rito onde ocorrem as purificações.
Na Wica Tradicional, excetuando o sabat de Samhain, não há um culto contínuo [diário, semanal ou mensal] aos ancestrais. Há apenas um local para o fogo, mas não um culto ao fogo. Há a presença de rituais de purificação, mas dentro da liturgia.
Serith e Dumezil concordam quanto à divisão social em três funções básicas, a primeira é os nobres, a segunda é os sacerdotes e a terceira é os servos. Esta divisão social é um reflexo das concepções cosmológica e teológica próprias dessas religiões.
Na Wica Tradicional há uma divisão hierárquica em três graus e uma separação entre iniciados e neófitos.
Serith e Dumezil concordam com a enorme importância dada em ambas as religiões quanto à prática correta do sacrifício, o que significava o uso de animais e, em casos mais extremos, seres humanos.
Na Wica Tradicional, como em todas as formas de Paganismo Moderno, tornou-se perigoso e arriscado falar no uso de animais para sacrifícios. Usa-se com mais frequência substitutos, como oferendas de primícias e artesanato.
Serith e Dumezil concordam quanto às épocas quando ocorriam os rituais, ligados às estações do ano [limitadas a três], ao plantio de itens agrícolas, bem como à criação de gado.
Na Wica Tradicional existem oito sabás, ligados ao ciclo solar e treze esbás, ligados ao ciclo lunar. São usados nomes de duvidosa origem celta, ligados às estações do ano, solstícios, equinócios, vesperais, mas as características estão mais ligadas ao plantio de itens agrícolas e menos à criação de gado.
Serith e Dumezil concordam quanto à característica desses povos antigos, como povos em transição, não sendo exclusivamente nômades, pastoris ou agrícolas. Por estas características, tornou-se mais constante o culto aos Deuses e poucas são as Deusas conhecidas. Seja pela expansão ou migração, estes povos assimilaram e adaptaram as crenças, ritos e Deuses dos muitos povos que encontraram e interagiram.
Na Wica Tradicional, além do Deus e da Deusa, existe culto a Deuses específicos, conforme a tradição, não havendo mistura de panteões ou uso de panteões de origem diversa.

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