sábado, 3 de março de 2012

A era da decadência dos ideais

Eu ainda sou de uma época em que os ideais eram puros e cristalinos.
Quem diria que eu, ao chegar aos 4.6, em pleno século XXI, no Terceiro Milênio, veria a decadência e morte desses ideais que eram pedras preciosas no século passado?
Meninos, eu vi os ideais de "liberdade, igualdade e fraternidade" tornarem-se bordão de propaganda.
Eu vi a desintegração tanto do comunismo quanto do capitalismo.
Eu vi planos de governo e plataformas politicas perderem seus princípios em troca de resultados eleitorais.
Eu vi uma pátria tropeçar em suas velhas instituições medievais.
Eu vi movimentos que luziam ouro tornarem-se lixo popular.
Eu estou sendo testemunha da indigência cultural, da estupidificação do meu povo, da promoção do individualismo, da vulgarização da liberdade de expressão e opinião, da dispersão da mobilização popular.
O tempo está passando, toda uma nova geração está surgindo e a canção de Elis Regina está cada vez mais atual: "Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais".
Eu estou vendo toda uma geração de jovens nascerem velhos.
Nós continuamos a repetir os mesmos velhos clichês e palavras de ordem de 50 anos atrás, vestimos os mesmos santos e ícones revolucionários, mas nada mudamos. Nós estamos mantendo o mesmo sistema, sustentamos as mesmas instituições, continuamos com a mesma vidinha medíocre, como gado continuamos dentro do curral e carregamos orgulhosos nossos cabrestos.
Eu vejo os mesmos anseios por um mundo melhor, mais justo, onde a humanidade possa manifestar todo seu potencial.
Eu vejo também a resistência, lado a lado com o preconceito, a intolerância e o ódio.
Eu ouço a humanidade clamar pelos seus direitos, por democracia, por liberdade, por amor.
Eu vejo também a humanidade protegendo e apoiando seus feitores, a aceitar ditaduras, a promover a discriminação, a divulgar a segregação, a disseminar a violência.
Todos querem falar, mas tentam calar outras vozes; todos tem opinião, mas não aceitam discuti-las; todos querem ser ouvidos, mas não sabem ouvir.
Somos ágeis em exigir nossos direitos, mas lentos em observar nossos deveres.
Somos rápidos em exigir respeito e tolerância, mas lerdos em respeitar e tolerar.
Somos expeditos em julgar, mas lenientes na auto-crítica.
Nos faltam razão e argumentos. Nos tornamos "especialistas" em qualquer assunto simplesmente por passar algumas horas na internet. Nos tornamos [ou nos damos uma posição de] autoridades, irreprimíveis, inerráveis, irreprováveis. Nos revestimos do manto do santo, do profeta, do missonário e regurgitamos doutrinas como se fatos fossem.
Queremos, esperamos e exigimos que o público nos reconheça, nos aplauda, nos incensem, nos idolatrem, nos aceitem e nos dêem crédito, sem questionamentos, sem críticas, sem contestação.
Isto tem se tornado pior, dentro da comunidade pagã brasileira. Em redes sociais, fóruns, blogues, sobram e abundam os "especialistas instantâneos", pouco ou nenhum com grau acadêmico real e efetivo, usam uma concepção superficial, rala e aguada desses ideais preciosos enquanto lhe são úteis, mas logo os descartam quando perdem a utilidade.
Desde o início de minha caminhada como pagão e da concepção, construção e crescimento deste blogue, eu creio poder dizer que, na medida do possível, deixei a todos os diletos e eventuais leitores comentarem. Eu acho que nunca clamei por uma autoridade nem usei de minhas credenciais acadêmicas para calar opiniões diferentes. Comprei briga com gente da minha gente, com sacerdotes, com sacerdotisas. Eu fiquei entre tapas e beijos com a Qelimath. Eu continuei teimando em segurar o osso e a alimentar as minhas amarras. Para minha sorte, a despeito da dificuldade, como toda mudança, deixei de lado os tapas e fiquei com os beijos. Parei de alimentar o troll dentro de mim. Parei de criar reação. Eu estou diminuindo minha obsessão com meu auto-controle. Eu estou diminuindo minhas manias em relação aos outros. Antes de querer mudar o mundo, eu preciso mudar. E este blogue irá refletir essa mudança.
Por enquanto, o único ponto imovível é o meu ideal de amor. De que todos são livres e tem todo o direito de amar quem quiser, quantos quiser, da forma que quiser, desde que sejam ambos maduros e haja mútuo consentimento. Eu ainda vou acreditar no Amor. Mesmo em um mundo onde se aplaude a violência e se vaia o amor. De tudo, eu espero que ao menos o Amor perdure.

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