segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Dioniso em Eleusis

A equipe de Wasson, Ruck e Hofmann concentrou suas pesquisas em Eleusis, próxima a Atenas e analisou os recipientes que eram reportados como tendo sido usados nos mistérios celebrados, onde Demeter e Dioniso eram honrado por um rito iniciatório secreto. Esse segredo era certamente um dos mais bem guardados na história, contrariando que mulheres não podem guardar um segredo. Nós ainda não sabemos exatamente como eram os famosos Mistérios de Eleusis, mesmo que estivessem bem estabelecidos na Idade do Bronze e continuaram através do racionalismo da Grécia Clássica até o momento em que o Cristianismo os suprimiu. Peregrinos iam ao santuário em Eleusis em busca de revelação, de iniciação em uma visão da eternidade. Qualquer um – homem, mulher, servo ou imperador – podia ser iniciado em Eleusis exceto os bárbaros, ou seja, qualquer um que não fosse grego. Na Era Helênica e Romana essa restrição desapareceu e os Mistéris prevaleceram sobre todo o mundo civilizado. Diante do Cristianismo, Eleusis manteve-se como um dos maiores centros da resistência pagã, até o final.
Dioniso não era representado em Eleusis no início dos mistérios, que pertenciam principalmente a Demeter (ou Cibele ou Gaia, outras Deusas-Mães). A imagem básica dos mistérios permaneceram aquelas da Mãe separada da filha Persefone que foi raptada por Hades. A Mãe, inconsolável e raivosa, vaga pela terra. Quando a Mãe está raivosa, a vida cessa: enquanto sua filha não retornar, Demeter recusa-se a cumprir com seu papel de Deusa da Fertilidade.
Ainda procurando por sua filha, Demeter, em prantos, um dia chega em Eleusis disfarçada como uma mulher velha e pobre e é acolhida pelas pessoas e seu rei Keleos que lhes oferecem hospitalidade. Ela ali encontra outra mulher, Baubo, que a distrai de sua dor ao fazê-la rir com algumas piadas. A história diz que Baubo levantou seu vestido para mostrar para Demeter sua traseira enrugada enquanto dizia uma série de obscenidades. Baubo é tão engraçada que Demeter esquece seu pesar e ri com a velha mulher.
Este episódio com a velha Baubo é encenado no ritual de Eleusis quando todos gritam obscenidades enquanto a procissão avança – como se nos lembrasse que rir é parte do divino. Como acontece às vezes em nossas vidas, o humor é o início do fim da postura rígida de Demeter, dali em diante, ela torna-se furiosa. Fúria e humor são movimentos psicológicos fundamentais que podem nos ajudar a sair da depressão: rir de alguém ou de uma situação engraçada é um sinal certo de que se está saindo dos sentimentos de inferioridade, fora das preocupações  egocêntricas. Rir é tomar distância e para ter uma perspectiva deve-se mover para fora desse fosso depressivo.
Zeus percebeu que teria que ceder à fúria de Demeter para preservar a própria vida. Ele lhe devolveu sua filha então a maldição da esterilidade pode acabar. Simbolicamente isto é primavera: o encontro de mãe e filha. Mãe e filha estarão juntas e felizes por alguns meses: isto é verão. Quando Persefone retorna ao seu marido Hades, nós temos o outono e inverno de novo. Alegre por reencontrar sua filha, Demeter lembra a acolhida que ela recebeu em Eleusis e recompensa este povo ao lhes dar a graça da agricultura e o privilégio de serem iniciados nos mistérios. O filho do bom rei Keleos, Triptoleme, tornou-se o primeiro disseminador dos grãos e um herói da Deusa.
Herodoto menciona que as cerimônias marcando a separação outonal de mãe e filha eram inicialmente reservados para mulheres casadas: a Tesmoforia era realizada em outubro (tempo de colher) e durava três dias. Apenas mulheres podiam participar na Tesmoforia uma vez que elas colhiam. No ritual a semente era misturada com sangue menstrual, o que era considerado não uma substância  impura e maligna mas um simbolo do poder da fertilidade feminina. Acreditava-se que misturar os grãos com o sangue menstrual aumentava seu poder de germinar. Os Grandes Mistérios, como a antiga Tesmoforia, aconteciam no outono, no fim de agosto ou início de setembro, enquanto os Mistério Menores em fevereiro celebrava a reunião entre mãe e filha.
Os Grandes Mistérios foram um dos maiores festivais em toda a Grécia. Os habitantes de Eleusis e os de Atenas recebiam os iniciados bem como os mystae (candidatos à iniciação). No primeiro dia, os jovens atenienses marchavam solenemente ao templo de Demeter em Eleusis para acompanhar a sacerdotisa que carregava os vasos sagrados. Eles traziam os vasos de volta a Atenas e os colocava em um santuário aos pés da Acropolis, um lugar chamado Eleusinion. A verdadeira celebração começava no dia seguinte quando os mystae, chamados pelo hierofante, alto sacerdote dos mistérios, iam ao mar para um banho purificador. Depois uma impressionante procissão formada de sacerdotes e sacerdotisas carregando os objetos sagrados, seguido por altos oficiais atenienses, jovem efebos e finalmente os mystae e uma enorme platéia. A magnifica procissão movia-se lentamente através da Via Sagrada entre Atenas e Eleusis, com várias paradas em santuários pela rota. Uma estátua de Iacchus, o nome místico de Dioniso, como companheiro da Deusa-Mãe, era carregado junto com o cortejo.
Haviam dois estágios, dois níveis de iniciação em Eleusis. A iniciação de primeiro grau envolvia uma comunhão com pão e uma bebida, o kykeon. A iniciação de segundo grau podia levar um ano de avaliação. Apenas iniciados do segundo nível participavam nos Altos Mistérios que culminavam com a união do Alto Sacerdote com a Alta Sacerdotisa. Esse drama litúrgico simbolizava a união sagrada do Homem e da Mulher arquétipos, de quem a Criança nascia. Esse drama era uma celebração do mistério eterno do amor e da renovação da vida.

Ginette Paris, Pagan Grace, pg. 12 – 15 – Spring Publications Inc.

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