sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Religião está ligada aos ritos da fertilidade

Creio que esse texto é antigo, mas a afirmação de que os personagens da mitologia bíblica gostam de sexo é mais do que óbvia. Aliás, como alguém já falou aqui, nem precisa de hermenêutica, é literal mesmo.
Os protagonistas das lendas bíblicas têm uma verdadeira obsessão pelo sexo, como é peculiar nas outras construções mitológicas.
Já que reivindicaram a hermenêutica, vamos também invocar as outras áreas da ciência literária, como a arqueologia, a paleontologia e demais co-limítrofes da ciência histórica.
O personagem mitológico central dessas lendas propedêuticas à torá é um sujeito que supostamente tem origem suméria. Ora, tal como a mitologia da Índia e outras do período, não há a repressão sexual como hoje a conhecemos, e o erotismo marca a própria vida do personagem. É polígamo, é adúltero, é incestuoso, é prostituidor da própria irmã...Conforme os costumes do seu povo e época.
Lembremos que ele é uma construção literária, não um personagem real. Pelo menos é o que dele temos, a tradição da literatura a respeito, dos textos e das descrições narrativas que o nomeiam. Não referência histórica usual.
O Deus que esse personagem acredita, supostamente de acordo com a literatura comparada, e a historiografia das religiões o pode atestar, não é monoteísta, é um deus plural: Elohim. E os próprios Elohim são incentivadores do sexo, e do puro sexo animal. Pureza, decência, matrimônio e outros conceitos aparecem já no período que a tradição oral torna-se escrita. E isso, segundo os historiadores do judaísmo, deu-se no período da monarquia, não dos mitos dos patriarcas.
Na concepção de Eliade, o mito é uma tentativa de organização. E o sexo dos personagens mitológicos bíblicos reflete essa tentativa de uma ordem, a referência pretérita das analogias, é sempre póstuma.
Quando se diz por exemplo (e isso é uma característica de todos os mitos) tal coisa é assim, porque no princípio aconteceu isso...O mais lógico é contar primeiro a coisa, supostamente inaugurando o evento, e POR ISSO É QUE HOJE TAL COISA ASSIM SUCEDE.
No caso das taras, das orgias, das narrativas de coito interrompido, alusões à masturbação, prática de prostituição cultual, estupro de estrangeiros, as descrições são bem ricas. Porque a matéria é bem conhecida para a humanidade, sua vida sexual. E os personagens mitológicos judaicos, tal qual os dos contos gregos de Homero, são muito hiperestesiados sexualmente, não há que se negar. Como nada diverso dos de hoje. É um tal de fulano olhou para fulano e sua alma se uniu intimamente com a dele; fulana era formosa aos olhos de fulano e ele entrou a ela; fulano conheceu fulana por cima das pernas da outra fulana; fulano cohabitou com sicrana e depois mandou matar o marido de beltrana...
Francamente, negar isso é tapar o sol com a peneira. É querer sacralizar o que tá mais do que claro que é um tema profano como outro qualquer, ou que a religião nunca se desvencilhou, como é possível facilmente se constatar, das origens sexuais de fertilidade e da prostituição sagrada.
Autora: Lukretia Borggia
Publicado originalmente no Paulopes.

2 comentários: