domingo, 13 de fevereiro de 2011

Bandua, divindade lusitana


(...) Bandua, uma das principais Divindades adoradas nesta área [Lusitânia] Cujo culto se estendeu também à Callaecia. Bandua é a versão mais tradicional do nome embora Pedrero (1997: 540) tenha recentemente proposto que o nome mais provável será Bandu. Temos de salientar que não foram encontrados registos relativos a esta Deidade em quaisquer cidades com evidência de alto grau de romanização. Os altares a Bandua estão localizados a uma certa distância destas cidades e, em vários casos, em pequenos enclaves fortificados tais como o Castro do Mau Vizinho, Sul e S. Pedro do Sul, Viseu, que é dedicado a Bandua Oce...
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Podemos estabelecer que no território lusitano-galaico, Bandua é a Deidade nativa mais vezes citada juntamente com epítetos referentes aos vici, pagi ou castella, de maneira que se pode concluir que havia uma relação muito especial entre este Deus e as comunidades indígenas de baixo estatuto. No que diz respeito à grande proporção de dedicatórias a Bandua com epítetos que caracteriza a Deidade como estando associada a diferentes povoados, há uma total ausência de quaisquer apelativos desta Deidade em relação a grupos familiares, tribais ou de clã. Além disso, um vasto número de epítetos de Bandua são desconhecidos, e entre eles poderiam ser encontrados alguns apelativos de família; isto, obviamente, não pode ser confirmado pelas provas actuais.
Quando se investiga o significado religioso de Bandua, é muito importante salientar o facto de que nas provincias gálicas, onde as Deidades nativas foram associadas a Deuses romanos, a Deidade que está mais relacionada através dos seus epítetos com centros populacionais é Marte. Acresce os apelativos indígenas deste tipo na Hispânia constituem vinte e quatro por cento do número total referentes a este Deus. Isto representa uma proporção muito elevada, muito diferente das percentagens registadas para as outras Deidades. Estes números reflectem o facto de que Bandua na Hispânia e o Deus Marte indígena da Gália são as Deidades menos frequentemente adoradas por mulheres. Na Hispânia, de todas as dedicatórias nas quais o sexo do adorador é conhecido, apenas uma das trinta e quatro (três por cento) dedicatórias conhecidas a Bandua é atribuída a uma mulher, enquanto a norte dos Pirinéus, apenas dez inscrições (cinco por cento) de um total de cento e noventa e nove inscrições a Marte são da autoria de mulheres. Esta percentagem é muito mais baixa do que aquela que existe em relação a outras Divindades, algo que pode ter a ver com o carácter destas Divindades: o de protectores de comunidades locais, dos vici e dos pagi.
A polarização religiosa que pode ser identificada entre os diferentes locais mostra uma relação directa com o estatuto (normalmente administrativo) destes locais. Como já vimos, nenhum apelativo de Bandua se refere a municipia ou a capitais de civitates. Por conseguinte, focando as áreas onde as provas relativas a esta Divindade foram claramente registadas, pode ser visto que praticamente todos os achados vêm de lugares, frequentemente vici ou castella, localizados relativamente longe das principais ou mais romanizadas cidades. Pensou-se que Bandua, como defensor de comunidades locais, tinha um carácter bélico. No entanto, com o declínio do poder político dos castella e a centralização deste poder em certos e determinados oppida romanizados, o carácter e significado público e guerreiro de Deidades como Bandua começou a perder-se e estes Deuses mantiveram apenas a Sua função de Deuses protectores de indivíduos dos vici, pagi e castella, que se tinham tornado agora identificados como grupos sociais de seu pleno direito.
Em suma, foi nestas comunidades tais como os castella, os vici ou os pagi que os habitantes nativos continuaram a confiar a sua protecção às Deidades dos seus ancestrais, enquanto nos novos municipia ou em cidades capitais de civitates as Divindades guardiãs romanas estavam a tornar-se progressivamente mais estabelecidas através do patronato das elites nativas.
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Traduzido e adaptado de Celtic Gods of the Iberian Peninsula, de Juan Carlos Olivares Pedreño, Universidade de Alicante.
Fonte: Gladius

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