sexta-feira, 7 de maio de 2010

Celtas - da Idade do Bronze aos nossos dias

(...)Aqueles que acreditam nos Celtas antigos têm como certa a sua sobrevivência até à Idade Moderna ou, se têm uma inclinação romântica ou nacionalista, explicam-na como uma luta heróica contra todas as expectativas. Mas, quando se pensa em tal, o facto de ainda haver na era romântica pessoas que se podiam redescobrir como Celtas (ou reinventar, se for céptico), é realmente fantástico. Afinal, onde estão os outros povos da Europa da Idade do Ferro? Desapareceram todos, Etruscos, Iberos, Ilírios, Trácios, Dácios, mesmo os Romanos. Em vez de olhar para a história celta como um longo declínio de dois milénios, deve ver-se nela uma história real de sobrevivência. (...) Apenas os Celtas, Gregos e Germanos ainda existem. (...) A definição mais consistente e mais largamente aceite baseia-se na língua, que é o único traço seguro de continuidade, ligando os Celtas antigos aos seus descendentes modernos: os Celtas são povos que falam línguas celtas.
Nos tempos antigos, estes povos incluíam Gauleses, Belgas, Celtiberos, Lusitanos e Gálatas, e Bretões e Irlandeses antigos.
(...) Os primeiros estados celtas baseavam-se na tribo e nos grupos de parentesco, em vez de no controlo de um território em particular.(...)
A imagem popular da religião pagã dos Celtas, fomentada pelos neo-druidas e vários grupos pagãos dos Tempos Modernos, é uma imagem simples e um pouco estranha, de um modo de culto. Esta visão vem de uma grande confiança depositada no testemunho de César e de outros escritores clássicos, que desejavam retratar os Celtas como bárbaros irracionais e supersticiosos. Os Celtas tinham algumas práticas religiosas características, especialmente o seu culto da cabeça cortada, sendo pouco usual haver uma classe de padres profissionais, conhecida como os druidas, na Europa antiga. Contudo, em muitos aspectos, as crenças religiosas e as práticas dos Celtas eram semelhantes às dos Romanos, Gregos Germanos contemporâneos. Eram todos politeístas, todos acreditavam na eficácia do sacrifício e da adivinhação, feitiços mágicos e bruxaria. Todos veneravam aspectos significantes da paisagem, como fontes e rios, tinham um medo mortal de fantasmas e acreditavam que não existia uma clara fronteira entre o natural e o sobrenatural. Tirando o sacrifício humano e o culto da cabeça cortada, não existia nada na religião celta que não fosse compatível com as crenças dos Romanos. (...)
O Deus mais importante, sem nome, dos Celtiberos, foi identificado como Júpiter, por exemplo, a Deusa Ataecina do submundo com Prosérpina e o Deus nativo da guerra Tarbucelis com Marte. As imagens religiosas romanizaram-se, mas muitas vezes eram pobres disfarces de Deuses nativos. As imagens de Vénus e Diana eram provavelmente de Deusas Mães nativas. A adoração a vários espíritos da natureza, como a fémea Xanas das Astúrias, que eram usualmente retratados numa versão romanizada como Ninfas e Faunos, continuou por séculos e sobreviveu no folclore local até aos nossos dias. Todos os templos e altares, fossem de Divindades nativas ou romanas, foram construídos nos estilos clássicos. As crenças religiosas foram menos romanizadas na Galiza. Na maior parte da Espanha imperial, as Divindades romanas ultrapassaram em número as Divindades nativas. No Noroeste, contudo, os números eram praticamente iguais. (...) Os cultos celtas entraram em declínio à medida que o Cristianismo foi crescendo, no século IV, e a mais recente inscrição conhecida que menciona um Deus celta, foi feita em Santander em 399, sendo dedicada a um desconhecido Erudinus. (...) Os símbolos celtas, como os discos solares, eram usados nas estelas funerárias (lajes em pedra na vertical, com gravuras ou inscrições) e os estilos decorativos pré-romanos ressurgiram no final da época dos Romanos, mostrando um consciente revivalismo da identificação com o passado celta. Os torques ainda eram feitos no período imperial [e conhecidos e oferecidos no tempo do Condado Portucalense - nota do blogueiro] e o tipo de dardo celtibero continuou a ser usado mesmo no século XIII.
(...) A língua hispano-celta estava certamente ainda em uso normal no século I d.C. e., como o Português moderno e o Galego contêm muitas palavras de formação celta, deve ter sobrevivido até ao fim dos tempos romanos, quando o Latim começou a despontar como precursor das modernas línguas românicas. Está claro que não foi a conquista romana que matou a Espanha celta mas o Cristianismo e as subsequentes invasões germânicas e árabes. (...)
Os reis também adoptaram o princípio teocrático da ordenação divina, comum a outras monarquias europeias, para que não mais fosse necessário o rei ser, ou pretender ser, do mesmo parentesco que os seus súbditos. [na Irlanda do século X, por influência cristã e anglo-normanda] (...)
No início do século XIX, o Renascimento metodista tinha absorvido muita da energia que levara ao Renascimento galês, pelo que a renovação cultural não se tornou um nacionalismo político. Embora o declínio da língua galesa tenha sido apenas temporariamente travado, o renascimento celta deu aos Galeses uma nova confiança na sua identidade e a sua assimilação pelos Ingleses já não parecia tão inevitável. (...)
O rápido aumento de pessoas que falavam Inglês no século XIX no País de Gales começou a ser visto como uma ameaça à língua, à cultura e à identidade galesas. Isto inspirou o mais fasto autoconsciente elemento da diáspora celta - tentativas para fundar colónias de pessoas que falassem Galês no estrangeiro, onde esta cultura pudesse ser preservada das influências anglicanas.
Autor: John Haywood "Os Celtas (da Idade do Bronze aos Nossos Dias)", citado pelo Gladius

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