terça-feira, 29 de setembro de 2009

Paganismo e Política

Há que se esclarecer que os Pagãos, como qualquer pessoa de outras religiões, tem suas preferências políticas que, evidentemente, são tão variadas quanto as muitas formas de Paganismo existente no mundo contemporâneo.
Chama-me a atenção o texto de Peter Jones advertindo quanto à uma "ameaça pagã" nascida de uma "esquerda religiosa". Interessante porque se o Paganismo é a "esquerda religiosa", o Cristianismo é a "direita religiosa".
No mundo ocidental, o fundamentalismo, o fanatismo e o conservadorismo político de direita se confunde e se identifica com o Cristianismo; não é à toa que impérios, reinos e repúblicas totalitarios e ditatoriais foram apoiados pela Igreja.
Peter Jones confirma em seu texto as suspeitas dessa identificação e vinculo entre partidos políticos de direita e o Cristianismo com uma "denúncia" absurda. Misturando e confundindo Gnosticismo, Nova Era, a Homossexualidade, o Feminismo e a Contracultura (década de 70, século XX) com o Paganismo apenas porque estes fenômenos são distintos do Cristianismo ou contestam a "verdade" cristã.
Peter Jones identifica algumas características dessa "esquerda religiosa" com o Monismo, uma filosofia que existiu na Grécia antiga, na época pré-socrática. Mas não foi a única escola filosófica da Grécia antiga nem foi o pensamento dominante das antigas religiões que existiram antes do Grande Expurgo Religioso, que ocorreu quando o Cristianismo se tornou a única religião autorizada do Império Romano.
Cristianismo que, inclusive, deve muito à Lógica de Aristóteles e ao Logos do Neoplatonismo, resultados do desenvolvimento filosófico da Grécia antiga pagã.
Como se não fosse o suficiente omitir e misturar as informações, o autor tenta induzir o público ao denunciar eventos atuais (a publicação dos apócrifos, aborto, homossexualidade) como sendo consequência da atuação dessa crença. Discurso típico do fundamentalista, tudo que é diferente do Cristianismo, ou do que ele concebe como sendo o Cristianismo ideal, é considerado "paganismo" ou "satanismo".
Peter Jones reclama da diminuição da ortodoxia, mas a história do Cristianismo demonstra que nunca houve tal Cristianismo ideal, desde seu aparecimento por volta de 30 DC o Cristianismo teve diversas vertentes até se consolidar uma ortodoxia, por meio da violência e da política.
No momento, bem às vistas, estão aparecendo novas vertentes, como o chamado neopentecostalismo, enquanto o catolicismo tenta garantir seus fiéis com o velho sincretismo e ecumenismo. Essa variação deve assustar, amedrontar o cristão fundamentalista de tendência política de direita, que apenas consegue viver e conceber o mundo se este estiver debaixo da farda, seja esta militar ou clerical.
Peter Jones reclama do liberalismo, mas a história do Cristianismo e da humanidade passou pelo período da Reforma Protestante e pelo período da Revolução, os ideias ora esposados pelo autor e pelos cristãos fundamentalistas não teria existido sem essa mudança que ocorreu por volta do século XV. Todo o movimento Protestante não poderia ter acontecido sem que o movimento Revolucionário houvesse conquistado para a humanidade a concepção de um mundo com mais liberdade, igualdade e fraternidade.
Essa democracia deve assustar, amedrontar o reacionário de direita cristão, que apenas consegue viver e conceber um mundo se este estiver dominado pela opressão e repressão. Peter Jones reclama do helenismo, mas a história do Cristianismo teria sido diferente se não fosse pelo helenismo, que foi adotado pelo Império Romano e que garantiu a expansão do Cristianismo pelo Império em decadência. Nem mesmo os evangelhos, que foram escritos em koiné [grego popular], que foi adotado pelos cristãos exatamente porque cresceram em uma época helenizada. As comunidades cristãs teriam sido diferentes, se não fosse pelos Judeus helenizados, que admitiam e permitiam a entrada de Gentios em seu movimento messiânico, que depois se tornou o Cristianismo.
Peter Jones reclama da liberdade de interpretar os evangelhos, do aparecimento de heresias, mas a prórpia Reforma tornou-se possível somente graças à luta de Lutero contra a da Igreja Católica, tirando desta o monopólio sobre os evangelhos. Foi pela interpretação literal do texto que o Protestantismo se destacou do Catolicismo e foi desta vertente que nasceu o Fundamentalismo Cristão, do qual Peter Jones é fruto.
Peter Jones reclama da "infiltração pagã" no Cristianismo, com a adoção do conceito divino "Sophia" [sabedoria] da crença gnóstica, mas o elogio à Sabedoria feito pela Igreja Cristã ao longo de sua existência foi feita a partir do mesmo conceito, em imitação à Shekinah Judaica. O que incomoda Peter Jones e os fundamentalistas cristãos é que as crenças do povo de Israel tem mais raízes pagãs e politeístas do que seu Cristianismo ideal utópico pode aguentar.
Peter Jones reclama da "nova sexualidade", que de "nova" não tem coisa alguma, apenas a humanidade despertou para o fato de que tinha uma sexualidade e de que vivemos uma época de repressão/opressão sexual porque o Cristianismo (como as demais religiões monoteístas) tem problemas em relação ao corpo, ao sexo, ao prazer.
A base do puritanismo cristão são as epístolas do apóstolo Paulo, nitidamente misóginas e intolerante a outras formas de sexualidade. Mas foi a Reforma que começou a contestar a forma como a Igreja interpretava as escrituras, a Renascença apenas trouxe essa contestação ao campo secular, portanto podemos e devemos contestar as chamadas verdades das escrituras que condenam o legitimo direito da humanidade de redescobrir e vivenciar sua sexualidade, livre dos dogmas cristãos.

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