segunda-feira, 31 de agosto de 2009

As festas de Dioniso

Na Idade Antiga, a cidade estado Atenas celebrava quatro festas a Dioniso:
1. As Dionisíacas Rurais, entre Dezembro e Janeiro. Eram festas de aldeia, da fecundidade. Este tipo de festa de aldeia volta muito no tempo, certamente, nos seus elementos mais antigos, até o período neolítico. O patrocínio de Dioniso pode ser mais ou menos antigo, segundo o que se pense da antigüidade de seu culto na Grécia e de suas ligações com o vinho.

O centro da festa, a faloforia, são, quase com certeza, mais antigas que o patrocínio de Dioniso. As faloforias chegaram à Grécia junto com o culto dionisíaco, provenientes do Egito, onde cerimônias parecidas eram realizadas em honra de Osiris.
Estas festas, em seus diversos aspectos de procissão fálica, cantos, etc, incluíam uma participação maciça e ativa da população, num ambiente de evasão. Abertas à domesticidade e, portanto, aos dependentes, eram festas alegres, numa atmosfera de liberdade e permissividade.
2. As Lenéias, entre Janeiro e Fevereiro. Estes festejos se desenvolviam no meio do inverno, no mês mais frio do calendário grego.
As fontes insistem acerca dos concursos dramáticos e para as épocas mais antigas trata-se de comédias. No primeiro dia, havia o coroamento do Deus, havia uma pompé e um sacrifício, os concursos de ditirambos e de dramas e um touro como prêmio.
Como nas dionisíacas rústicas e nas grandes dionisíacas, a procissão devia abrir as cerimônias. É possível que a pompé se transformasse em cômos com o acompanhamento do ditirambo. O fim das cerimônias devia tomar um tom de permissividade. A festa marcava uma certa conexão entre Dioniso e tendências mais místicas.
3. As Antestérias, nos dias 11 a 13 do mês de Anthestérion [Fevereiro e Março]. São as palavras ánthos, flor e o verbo anthein, florescer, que a explicariam, em referência ao renascimento do mundo vegetal que se produz no início da primavera.
O primeiro dia era chamado pithoigía, a partir do nome dos vasos em que a bebida estava fechada. Neste dia, os vasos eram abertos, depois de um longo período de fermentação. Era o dia em que o tabu era levantado, pois o processo estava concluído e não havia mais risco para a saúde em beber. As crianças eram coroadas de flores. A libação e a consagração do vinho faziam do produto um pharmakos e a bebedeira era acompanhada de cantos e danças. Este dia era ao mesmo tempo, com a abertura dos pithoi, a abertura do mundo dos mortos.
Sucedia-se no dia 12 o concurso de bebedeira. Em presença de juizes, os concorrentes deviam beber o mais depressa possível um dos vasos [choes] cheios de vinho, donde o nome do dia, o dia das choes. No decorrer deste 2º dia, o Deus "chegava" em Atenas num cortejo. A pompé se dirigia ao Limnaion [local onde se erguia o mais antigo templo do Deus], onde a rainha [basilinna], auxiliada por 14 damas veneráveis [gerairai], realizava as cerimônias. Depois disso, a esposa do arconte-rei se tornava a companheira de Dioniso, num rito de união sagrada. O cortejo se torna então nupcial e se dirigia ao Boukóleion e é lá que se produz o hiéros gamos entre a basilinna e o Deus. Num sentido muito geral podemos dizer que a união entre o Deus e a rainha tem um valor simbólico: é a toda a cidade de Atenas que o Deus transmite suas forças vitais, às mulheres como à terra, no movimento de renascimento da vegetação e da vida característico do início da primavera. É muito provável que o modelo primordial deste casamento seja a união de um Deus da natureza com uma Deusa-mãe.
O que marca o terceiro dia a festa é o seu caráter nefasto. As portas eram lambuzadas de resina, com o objetivo de evitar o contato com o mundo dos mortos; todo o dia era dedicado aos khéres, fantasmas do além. Faziam-se libações de agua para os mortos e se lhes oferecia a refeição dos vivos. Convidava-se os mortos a irem embora para acabar com o perigo.
4. As Grandes Dionisíacas [Dionisíacas Urbanas], entre Março e Abril. A procissão se desenrolava do templo próximo da Academia para onde previamente se transferia a estátua, até seu santuário, depois ao teatro.
A estátua do Deus era carregada ao seu témenos, celebrava-se um sacrifício de touro, com a participação das mulheres e crianças. A faloforia sobre uma charrete contava com a participação de imagens fálicas dos demos e das colônias e touros sacrificiais. Depois do banquete e do transporte da estátua, tudo estava pronto para o início dos concursos: ditirambos, tragédia e comédia.
Fonte: Dionisismo, poder e sociedade. Trabulsi, José Antonio, pg. 192-202.

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