segunda-feira, 22 de junho de 2009

O arquétipo da santa e da puta

Em qualquer sociedade machista de moral dupla, os arquétipos femininos de "santa-puta" só são permitidos de se complementarem em uma só mulher, se esta mesma mulher pertencer a um mesmo homem, quem nunca ouviu: "santa na rua, puta na cama". Puta dele. É por tal motivo que é comum que se uma mulher assume o arquétipo da "santa" ela acaba por recriminar qualquer outra mulher que exercite um comportamento libertário e sexual.
O arquétipo da "santa mamãezinha" é atrelado a visão machista de que a mulher é "boa-moça, honesta e bem comportada", ou seja, uma mulher assexuada e passiva, obediente ao seu namorado/marido, pai ou filho. Seguir o arquétipo da "puta" seria libertador se não afirma-se a lógica de uma sociedade patriarcal, pois a sexualidade é uma libertação do corpo, mas a nossa "liberdade sexual" incluída dentro deste padrão, tem a função de aumentar o mercado de consumo sexual masculino. Eis a faca de dois gumes: de um modo ou de outro podemos nos tornar objeto do consumo masculino: se "santas" somos consideradas um "bem de consumo durável", se "putas" somos vistas como um "bem de consumo descartável". A única saida é uma atuação política e existencial capaz de questionar estes valores e redimensiona-los para os interesses feministas.
As representações dos arquétipos femininos e masculinos podem ser considerados como “a projeção dos sonhos de uma sociedade”. Se tal teoria estiver certa, o desejo social nasce do inconsciente coletivo e influência o comportamento das pessoas. Então estas projeções difundidas poderiam ter o poder de manipular comportamentos e torná-los mais, digamos, previsíveis. Apesar de não acreditarmos em determinismo ou em pré-determinismos religiosos, o conceito de vivermos numa “Matrix” parece ter algum fundamento partindo deste pressuposto. Esses personagens dos arquétipos humanos são tão impressionantemente e constantes através dos tempos, nas mais variadas culturas, que nos diferentes sonhos e nas diversas personalidades dos indivíduos encontram representações semelhantes nas estruturas patriarcais do mundo inteiro.
Mas se forem verdadeiras algumas das sugestões teóricas de Carl Jung, dominar o conhecimento desses arquétipos dará ao a quem tenha o controle sobre a grande mídia um poder tão grande quanto a ideia do Deus cristão. No mínimo, estas imagens, ideias e projeções podem ser ferramentas úteis para a manipulação de pessoas que se sintam seduzidas pela admiração ingênua e fascino. Na nossa visão tudo é intencional e não existe nenhuma inocência quando o interesse é manter pessoas acorrentadas pela cegueira ou destruir com tais cadeias. Vivemos a teocracia dos mitos do cinema, oramos para a constelação dos astros e estrelas da música, vivenciamos a adoração iconoclasta das bonecas “barbies” e a transformação do sangue em silicone, nos convertemos aos milagres televisivos, seguimos a bíblia da moda e comungamos nos templos religiosos dos shopping-centers. Resumindo: não temos muito a perder e temos tudo a ganhar. Somos brutalmente agredidas lutando. E se já fomos brutalmente agredidas quando estavamos caladas, só existem razões para lutar.
Autor(a?): Maçãs Podres

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