quarta-feira, 13 de maio de 2009

Sobre a religião da Ucrânia

O fenómeno é rico em ramificações, práticas e ideias. Como todos os outros povos indo-europeus antigos, os antigos Eslavos tinham vários Deuses - e também entre eles se observou uma inequívoca resistência ao Cristianismo. Cercado de monoteístas por todos os lados, o rei dos Rus de Kiev, Volodymyr I, que tinha erigido estátuas de culto aos Deuses, considerando Perun acima de todos os outros, acabou por ceder e, mercê de alianças políticas, deixou-se baptizar no final do século X. Práticas pagãs subsistiram todavia no seio do Povo, como de resto sucedeu um pouco por toda a Europa.
No século XX a consciência pagã retornou, revestida de um posicionamento nacionalista e ecologista, voltada para a vida familiar e comunitária, para o culto da honra e da responsabilidade para com os Ancestrais, e essencialmente assente numa combinação de estudo do folclore com o estudo científico-arqueológico e as ideias de autores pagãos contemporâneos.
Outro culto neopagão é o RUNVira, ou Fé Nacional Nativa Ucraniana, fundada por Lev Sylenko após a II Guerra Mundial, mas na diáspora ucraniana.
Sylenko afirmava que o Cristianismo era uma religião alienígena e hostil aos Ucranianos, que instalou na Ucrânia uma mentalidade de escravo e dizia que o período de subjugação da Ucrânia a outras nações foi o da "traição a Dazhboh". O símbolo da RUNVira é o tridente. Os seus princípios fundamentais estão registados no livro "Maha-Vira", da autoria de Sylenko. O seu centro de culto é a Catedral da Santa Mãe, localizada em Nova Iorque. Na Ucrânia há mais de trinta comunidades desta religião, coordenadas por B. Ostrovskyi, o pastor da comunidade "Dazhboh" de Kiev.
Em 1994 surgiu outro movimento pagão ucraniano, a Sobor Ridnoyi Viry, ou Catedral da Crença Nativa. O seus praticantes acreditam que Shayan e Sylenko muito fizeram pelo paganismo nacional, mas falharam em revivê-lo na sua totalidade. Este grupo tem o objectivo de unificar todas as doutrinas nativas. Centra-se na região de Podillia, por ter sido aí que se preservaram mais monumentos pagãos, pois que teriam aí existido comunidades pagãs até ao início do século XVII.
Há outros movimentos, entre os quais o Fé Nativa Ortodoxa (Ridna Pravoslavna Vira, ou RPV), criado a partir de um grupo de praticantes de artes marciais e mágicas dos Cossacos e que põe a tónica do seu culto, não no monoteísmo ou no henoteísmo, mas no verdadeiro politeísmo, embora afirme que há um Deus originador de todos os outros Deuses, Rod (que, além de teónimo, é também um nome ucraniano para dizer "ancestralidade").
Por motivos religiosos ou, mais prosaicamente, meramente nacionais, foi em 2001 colocada na Maidan Nezalezhnosti (Praça da Independência), praça sita no centro de Kiev, uma coluna encimada por uma estátua de Berehynia, espécie de Deusa Mãe, de índole aquática (espécie de Ninfa ou Náiade, a que os Eslavos chamam Rusalka), considerada protectora da urbe e transformada por nacionalistas e por feministas num novo símbolo nacional.
"Actualmente a humanidade começa a perceber a importância da renovação dos seus valores espirituais, que têm estado perdidos por milénios. As razões destas perdas estão a tornar-se óbvias. Mistura de culturas étnicas leva inevitavelmente à demolição da etnoesfera que é uma parte da biosfera da Terra. Não deve esquecer-se que uma pessoa e uma nação são uma parte da natureza. Tal como a natureza existe devido à variedade das espécies, assim a sociedade vive e desenvolve-se na sua variedade de expressões etnoculturais".
O texto acima reproduzido em parte é da autoria de um dos principais senão o principal ideólogo do actual paganismo ucraniano, que é aliás uma ideóloga: Halyna Lozko, filóloga, folclorista, autora de vários estudos académicos, líder da Pravoslavia e da Associação da Fé Nativa da Ucrânia (Obiednannia Ridnoviriv Ukraïny, ou ORU).
Fonte: Gladius

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