O carácter incompleto da cristianização
Diz respeito ao facto de a evangelização da Europa se ter feito à custa de muitas cedências aos paganismos locais, isto apesar de, ao mesmo tempo, o Cristianismo ter sido sempre intolerante para com os cultos religiosos indígenas, intolerância essa que se observa inclusivamente no pensamento de duas das maiores figuras intelectuais da Cristandade, Agostinho e Tomás de Aquino, ambos apoiantes da conversão ativa dos pagãos, tendo o segundo feito a apologia da supressão de outras religiões por meio do uso da força para alcançar tal efeito. Dum modo ou doutro, muito do que era pagão foi ficando, aberta ou disfarçadamente, no seio da cultura popular e também da erudita. Como dizia Alain de Benoist, "o Paganismo nunca esteve muito longe de nós, tanto na História como na mente sub-consciente, e também no ritual, na literatura, etc..."
O re-encantamento do mundo
Constitui uma reacção ao desencantamento do mundo suscitado pelo Cristianismo mais puro e duro que no dealbar da Idade Média se afastou decididamente de tudo o que fosse pagão. O Racionalismo e Cientificismo contribuíram para a dessacralização do mundo, ao negarem sistematicamente toda e qualquer visão sagrada da realidade, o que por sua vez conduziu ao laicismo e ao relativismo absoluto. Sucedeu entretanto que, ao contrário do que os positivistas e irreligiosos previam, a sociedade ocidental não se está a tornar hoje menos religiosa, antes pelo contrário - retorna o espírito do sagrado, do encantamento, ou seja, observa-se, segundo Cooper, o "reencantamento" da sociedade ocidental. A modernidade fica pois para trás, com a sua insuficiência em dar um sentido superior à vida, sendo substituída pela pós-modernidade, que é uma ânsia por uma nova consciência histórica, tradicional, continuadora duma memória mais antiga. Assim se entende, segundo outro autor citado por Cooper, o ressurgimento do Paganismo, que é, diz, uma espécie de escape ao mundo moderno urbano, na ideia de que o Cristianismo tem pouco ou nada a oferecer no que respeita aos grandes ciclos da Natureza.
A globalização
Tem a ver com uma interação entre culturas num contexto de homogeneização do mundo. Michael Cooper faz sua a teoria de que as raízes da globalização remontam aos séculos quinze e dezesseis com a expansão européia em todo o planeta e consequente colonização e imitações culturais. E os fluxos culturais acabam por não ser apenas do Ocidente para fora e são também de fora do Ocidente para dentro: tal como a Europa influenciou outras partes do globo, agora há outras partes do globo a influenciar a Europa e seus derivados. O resultado disto acaba por ser uma legitimação da existência de várias visões do mundo, e assim se vai estabelecendo uma cultura de pluralismo.
A incapacidade do Cristianismo
Explica-se pela insuficiência da doutrina cristã para responder às grandes questões dos Europeus da época pós-cristã. Há quem adira ao Paganismo como rejeição do Cristianismo, o qual oprimiu a Europa por demasiado tempo, rebaixando a mulher e desrespeitando o ambiente, mercê do seu desprezo pela Natureza e consequente dessacralização da mesma, observável na "desmitologização" da realidade. Philip Carr-Gomm sugere que o ressurgimento do Paganismo deve-se à queda das religiões estabelecidas que não são capazes de ir ao encontro das necessidades espirituais das pessoas, bem como pela crise ambiental e autoritarismo que trouxeram. Cooper indica, noutra parte do seu trabalho, que cerca de 56% dos jovens europeus vêem o ambiente, a poluição e o aquecimento global como suas principais preocupações. O Cristianismo mutilou as culturas tradicionais, étnicas, ao suprimir os seus vértices superiores, isto é, os seus Deuses. Prudence Jones e Nigel Pennick afirmam que o novo ímpeto pagão constitui uma resposta ao desejo de recolocar a Humanidade no seu contexto maior, que é ao mesmo tempo temporal e espacial, cronológico e físico - físico no sentido em que o mundo natural é uma parte essencial da vivência humana e cronológico no sentido da continuidade com as grandes mentalidades tradicionais, cujas raízes se perdem na noite dos tempos. O Paganismo oferece, segundo estes dois autores, "uma possível filosofia religiosa para uma sociedade multicultural".
A busca da identidade
Durante séculos o Cristianismo ofereceu à Europa uma identidade, mas a rejeição progressiva do Cristianismo faz com que uma busca identitária se inicie. A formação da União Européia parece poder criar uma nova identidade, mas enfrenta um desafio no facto de os Europeus se verem a si mesmos em relação à sua própria etnicidade. O vácuo criado pela queda do Cristianismo, incapaz de lidar com os temas que mais interessam aos Povos, leva a que os Europeus cada vez mais se voltem para outros caminhos que possam preencher o vazio pós-cristão. A grande divulgação das filosofias orientais levou a que se começasse a valorizar vias espirituais alternativas, e o Europeu acaba por se voltar para o fundo mais genuíno de si mesmo, isto é, o do culto aos seus Deuses antigos.
Fonte: Gladius
Nota: Eu já comentei que discordo dessa visão pseudo-nacionalista xenófoba que muitos neopagãos encampam, sem se dar conta que houve diversas "globalizações", como a dos próprios Celtas ou mesmo à dos Romanos. Eu repito: não há, na atualidade, forma alguma de "restaurar" a pureza étnica de povo algum.
Olá! Como vai?
ResponderExcluirGostei muito do texto e, se possível, gostaria de uma indicação de livros, teses, links que falem sobre o tema, do retorno ao paganismo. Agradeço sua atenção! Att, Mei Satsuki.