quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O berço bizantino

Uma fonte para encontrar as raízes da Bruxaria que foi praticada na Europa, desde a Idade Média até os dias atuais, está na história do Império Bizantino. Paradoxalmente e contraditóriamente, o Império que deu forma à Igreja Cristã Ortodoxa tinha em sua cultura práticas populares (chamadas de superstições, fetiçarias, crendices e magia) que eram resultado da herança cultural popular greco-romana.
No início os Gregos tinham uma palavra para magia e esta palavra era "mageia" , a capacidade especial dos "magoi", que eram originalmente uma tribo ou povo nas terras dos Medos e Persas. Subsequentemente, tanto Gregos como Romanos usaram a palavra para se referir a qualquer coisa extrangeira ou subversiva ou repreensível que usa forças ocultas ou sobrenaturais e portanto fica além da compreensão das pessoas ordinárias.
Para os bizantinos literários, o mundo da magia e misticismo helênicos eram parte de sua herança cultural e eles sentiam obrigados a perceber suas existências, de qualquer jeito.
No contexto do pensamento bizantino, a magia é vista como uma forma particular de religião e atividade que difere do doutrináriamente definido Cristianismo Ortodoxo dominante; era, essencialmente, associado com demônios e/ou com a noção de controle automático de resultados desejados ou reação.
Está claro que as pessoas acreditavam ou ao menos não viam algo particularmente errado em crer que poderes espirituais ou mesmo humanos têm poder para agir independentemente do controle divino. Aqui magia é simplesmente uma via alternativa, vista algumas vezes como sendo mais eficiente, outras como sendo menos eficiente, de fazer as coisas acontecerem por meios religiosos; as forças usadas na magia eram essencialmente irrelevantes, como eram os julgamentos morais de seus resultados.
Dentro das práticas e crenças mágicas bizantinas, feitiçaria é deixada de fora e tem a intenção de ser distinguida da bruxaria, no sentido que isto opera através de crenças e rituais aprendidos ao invés do inato poder oculto associado ao primeiro; práticas e crenças que eram ensinadas ou oralmente ou transmitido por livros e papéis. Quando se referiam às suas práticas em geral eles usavam termos mais vagos como a Arte ou a Prática [Ofício].
Como a magia era contrária às práticas e crenças aprovadas da sociedade bizantina, muitas referências na literatura sobrevivente eram feitas apenas para ignorar, ridicularizar, refutar ou advertir. Em muitos casos, essas tradições indubitavelente representa as práticas e crenças populares, como opostas às cultas e portanto eram preservadas por pessoas que, simplesmente por seu analfabetismo, não eram capazes de registrá-las, mesmo que quisessem. A magia, entretanto, não estava confinada às camadas baixas da sociedade, pessoas da alta sociedade tomavam a magia altamente a sério ou queriam praticar, pessoas que poderiam registrar se quisessem, mas tinham razões persuasivas para não fazê-lo, uma vez que era considerado ilegal e associar-se à magia poderia trazer consequências desastrosas, senão fatais. Mesmo se pudéssemos ler os textos existe pouca chance de termos uma idéia verdadeira da extensão ou da profundidade dessa tradição registrada, uma vez que são textos isolados e individuais, qualquer estudo interpretativo da transmissão ou integridade textual é impossível.
A atitude dos patriarcas da Igreja [Ortodoxa] diante da magia refletia em parte a hostilidade das autoridades civis romanas que a considerava uma força socialmente disruptiva, em parte o ceticismo encontrado em circulos de pagãos cultos sobre a possibilidade de uma pessoa ser capaz de por de lado as leis da natureza e em parte o sentimento de que pessoa dotadas com abilidades sobrehumanas é contrário às doutrinas Cristãs.
A posição que tinham deve-se mais aos pressupostos que compartilhavam com pagãos cultos sobre a natureza humana e sua capacidade do que à autoridade das Escrituras. Não foi apenas os pressupostos pagãos que deram forma à atitude dos Patriarcas, mas as discussões filosóficas pagãs afetaram profundamente a forma como eles a concebiam.
Estudantes de magia antiga confiam exclusivamente nos textos dos encantos, nas instruções de seus efeitos em papiros e no que sobreviveu dos verdadeiros instrumentos empregados para fazer magia.
Uma questão vexatória é que a excessiva confiança dos modernos acadêmicos nos textos escritos dá uma impressão distorcida das práticas mágicas as quais, como as sociedades contemporâneas são levadas, provavelmente requerem pouca se alguma literatura da parte daqueles que as praticam.

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