segunda-feira, 21 de julho de 2008

Roupa de bruxa(o)

Uma busca rápida pelo oráculo do Google e o visitante curioso pode perguntar porque muitos bruxos e bruxas ostentam orgulhosamente uma túnica com capa muito parecida com as mesmas usadas por monges cristãos.
A origem da túnica vem dos povos que habitaram o Oriente Médio. A toga ou quiton, por outro lado, foi usada comumentemente por Gregos e Romanos. Com a expansão do Império Romano e sua helenização, a túnica que veio do Oriente Médio assimilou a moda do quiton, este se misturou com a toga romana para formar tanto as capas bem como as mantas e capuzes que vieram posteriormente como acessórios necessários às condições meteorológicas mais rigorosas da Europa.
Então o Cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano, mas isso não explica o motivo da adoção da túnica como vestuário exclusivo do clero. Eu encontrei uma boa resposta em um texto da internet.
O clero cristão não se vestia diferente do povo comum até a chegada de Constantino.
Contrariamente ao que pensa a opinião pública, as vestes do clero, inclusive as “vestes eclesiásticas” da tradição litúrgica da “alta igreja”, não tiveram origem nas vestes sacerdotais do AT. Tiveram origem na roupa secular do mundo greco-romano.
Clemente de Alexandria sustentava que o clero deveria vestir roupa melhor que as pessoas comuns. Já por este tempo, a liturgia da Igreja era considerada um evento formal. Clemente disse que a roupa do ministro deveria ser “simples” e “branca”.
O clero usou a cor branca por muitos séculos. Parece que tal costume foi adotado do filósofo pagão Platão que escreveu que “a cor branca era a cor dos deuses”. Nesse aspecto tanto Clemente como Tertuliano acreditavam que o colorido não se coadunava com Deus.
Com a chegada de Constantino, a distinção entre bispo, sacerdote e diácono se arraigou. Quando Constantino transladou sua corte para Bizâncio e a renomeou Constantinopla no ano 330 d.C., gradualmente a vestidura romana oficial foi adotada pelos sacerdotes e diáconos. Agora o clero era identificado por vestir-se com a roupa dos oficiais seculares.
Depois da conquista do Império Romano pelos Alemães a partir do século IV, a moda das vestes seculares mudou. A batina enfeitada dos romanos foi substituída pela túnica curta dos Godos. O clero, desejando diferenciar-se das pessoas comuns, continuou usando as antigas e arcaicas roupas romanas.
Os clérigos usavam estas antigas vestes durante o culto da igreja seguindo o modelo do ritual da corte secular. Quando os leigos adotaram o novo estilo de roupa, o clero acreditava que tal roupa era “mundana” e “bárbara”. Eles preservaram o que julgavam ser uma veste “civilizada”. Foi isso que ocorreu com as vestes clericais. Esta prática foi apoiada pelos teólogos daquele tempo.

Do século V em diante, os bispos usavam a cor roxa. Nos séculos VI e VII as vestes do clero tornaram-se mais detalhadas e caras. Durante a Idade Média, a roupa adquiriu significados místicos e simbólicos. Vestes especiais surgiram por volta dos séculos VI e VII. E surgiu o costume de colocar sobre a roupa comum um jogo de vestes especiais na sacristia.
Durante os séculos VII e VIII as vestes foram aceitas como objetos sagrados herdados das batinas dos sacerdotes levíticos do Velho Testamento. Pelo século XII o clero começou a levar a batina para a rua, o que os distinguia das pessoas comuns.
Durante a reforma, o rompimento com a tradição e as vestimentas clericais foi lento e gradual. No lugar das vestes clericais tradicionais, os reformadores adotaram a batina negra dos estudantes. Esta batina também foi conhecida como batina do filósofo, sendo que os filósofos as utilizaram durante os séculos IV e V. A nova batina foi tão predominante que chegou a ser a vestimenta do pastor protestante.
A batina do pastor reformado simboliza a autoridade espiritual. O ato de colocar a batina negra revela seu poder espiritual de ministro. Esta tendência continuou através dos séculos XVII e XVIII. Os pastores sempre usavam uma roupa escura, de preferência negra. (Cor tradicional para os advogados e doutores durante o século XVI. Era a cor dos “especialistas”).
A cor negra prontamente chegou a ser a cor de cada ministro em cada ramo da igreja. A batina negra eventualmente evoluiu a um “sobretudo” nos anos 1940-50.
Hoje é o traje escuro com batina que funciona como a vestimenta clerical da maioria dos pastores protestantes. Muitos pastores não saem sem este traje. Muitas vezes se vestem com essa roupagem para aparecer em eventos públicos não religiosos. Alguns pastores protestantes levam o colar clerical — para que ninguém se esqueça de que ele é “um homem de Deus”.

Portanto a túnica e a batina receberam características para diferenciar as usadas pelas pessoas comuns das que eram usadas pelos clérigos até o século XII, quando o ofício dos tecelões, alfaiates e outros artesões se organizaram dando origem às roupas mais 'mundanas'. A tendência das roupas como símbolo de destaque social foi adotado na moda secular, para distingir o campônio do aristocrata.
Segundo Jules Michelet, foi no século XII que aconteceram as Jaqueries (revoltas dos camponeses) e as Sarabandes (assembléias das bruxas) com mais intensidade. Até que, no século XIV, a Caça às Bruxas tem seu ápice de horror, o que pode ter levado às bruxas a adotarem a túnica com capa de cor negra para se camuflarem. Portanto, o uso de tal vestuário não era para o Ofício, mas para chegar a ele e voltar para casa.
A bruxa era, geralmente, uma pessoa de poucas posses, como uma camponesa, assim também suas roupas eram as de uso comum do povo, dificilmente ela sairia ostentando sua veste sacerdotal ou qualquer outro objeto relacionado ao Ofício. Essa 'uniformização' da túnica e da capa de cor negra como veste sacerdotal deve ter surgido com a chegada dos aristocratas e escolásticos, por volta do século XIV, para contestar o poder da Igreja.
Em nosso tempo, essa obcessão por trajar um 'uniforme' tem o mesmo lugar da maquiagem 'gótica' carregada, das 'receitas instantâneas de bruxaria' e dos pingentes de pentagramas tamanho gigante, é o mais puro e superficial fetichismo.

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