Na cultura judaico-cristã a nudez é associada a priori a um erotismo sujeito ao controle social para preservar a moral sexual, impedir a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis, prevenir o adultério e garantir a estabilidade da estrutura familiar. Trava-se então um combate à nudez tentatória, sedutora e obscena, por meio da exaltação dos pudores que seriam inerentes a todos os seres humanos desde que Adão e Eva "cobriram suas vergonhas" com folhas de figueira.
Este enfoque tem origem na condenação dos legados das culturas pagãs helênica e romana que teriam sucumbido, em parte, devido aos excessos eróticos, à fraqueza moral e ao culto hedonista, tais como a homossexualidade na Grécia antiga, a recorrência cotidiana às herétias (prostitutas), o culto ao deus fálico Príapo, a nudez dos ginastas gregos e as orgias sexuais e gastronômicas em Roma. Por sua vez, o Cristianismo primitivo com forte tradição semita de ocultação do corpo estabeleceu as regras de nossos pudores atuais.
Este é o fundamento da estrutura ideológica que orienta a concepção de nudez como objeto erótico na sociedade ocidental. Delimita-se qual nudez é válida, em quais situações é permitida, quando é artística, qual o comportamento que os indivíduos devem adotar diante do nu e os lugares nos quais, parcimoniosamente, pode ser exercida. Muçulmanos, hindus e chineses, por exemplo, também adotam o controle social da nudez erótica em atendimento a seus valores morais e normas religiosas. Na espiritualidade de diferentes sociedades, o pudor em relação à nudez faz lembrar aos indivíduos que perderam sua inocência e pureza por se tornarem sexualizados, signo de uma degradação material e espiritual da imagem de Deus caída em pecado.
O conceito básico de nudez é a total ausência de vestimenta em um indivíduo. No entanto, quando começamos a explorar esse conceito percebemos que em distintas situações da vida e em diferentes culturas, o estar nu têm outros significados e implicações quanto a sua licitude. Na cultura ocidental, a consciência de estar nu é poder ver (ou permitir que outros vejam) os órgãos sexuais, os seios e as nádegas que se revelam quando as roupas são retiradas; em grupos ortodoxos braços, colo e pernas quando expostos são insinuações de nudez. Em culturas muçulmanas, a cabeça descoberta é a verdadeira nudez, maior do que as das demais partes do corpo. E em sociedades animistas da África, Austrália e da América do Sul indivíduos que não utilizam vestimentas sentem-se nus se não usarem adornos nas orelhas, lábios, braços ou pescoço.
A nudez transcende o ato de tirar ou não tirar a roupa, pois sua interpretação está condicionada a um dado contexto social e à percepção que cada cultura tem do corpo humano. Os humanos são os únicos animais capazes de estar nus, não somente porque são os únicos primatas não cobertos de pêlos, mas porque são os únicos capazes de desenvolver consciência da carência do "vestir-se" (total ou parcialmente).
A cultura ocidental contemporânea ainda mantém em seu alicerce moral a herança do sistema de pudor da Idade Média, que se construía sobre três diferentes níveis de consciência em relação à nudez, correspondentes a três valores do corpo humano. O ser humano nu, que nada mais era que a carne, é, sobretudo, um símbolo de vulnerabilidade. Em oposição ao espírito, é a parte baixa, vergonhosa do homem, lugar da tentação, do sofrimento e da morte. A nudez mostrada é, portanto, um castigo baseado na humilhação.
A vulnerabilidade da carne está ligada à sua impureza: impura porque vulnerável (incapaz de resistir à tentação, como Adão e Eva); vulnerável porque impura (o pecado original trouxe a morte ao mundo). A nudez revelada testemunha, portanto, a luxúria e a sujidade da alma. Voluntária e conscientemente, é falta de pudor e não humilhação.
A estas duas formas conscientes de nudez opõe-se a carne na sua inocência. Na vida cotidiana, a nudez vivida nada tem de escandaloso. É permitida durante o banho ou na cama, desde que não envolva artimanhas de tentação.
Nossa moral sexual em relação à nudez ainda bebe nessa fonte, representada em três situações principais:
1. A nudez como manifestação do erotismo, do desejo, da sexualidade ou da pornografia. Era a nudez da tentação;
2. A nudez como humilhação ou ridicularização do indivíduo, como expor os corpos nus de prisioneiros ou de mortos em genocídios, a prática da tortura em vítimas nuas, arrancar as roupas em praças públicas de mulheres adúlteras, ou esconder as roupas de uma pessoa em um vestiário. Era a nudez da humilhação;
3. A nudez de um "comportamento natural" (não sexualizada), como tomar banho, dormir sem trajes, a nudez infantil, ser examinado por um médico e a prática do naturismo. Era a nudez da inocência.
Na prática cotidiana estes três níveis não são exercidos em separado. Formam uma amálgama de percepção da corporeidade que reveste o corpo humano de outras significações. Todo corpo nu, de alguma maneira, se manifesta com um valor simbólico em nossa percepção. De alguma forma o corpo sempre nos interpela e nos fala diretamente, tornando impossível nossa indiferença frente ao corpo do outro. Um complexo sistema de valores, em grande medida subjetivos, rege as possíveis concepções de nudez. A depender dos códigos culturais e religiosos, uma nudez "da inocência" pode ser tentadora ou humilhante, ou uma nudez humilhante pode ser tentadora ou natural para quem olha.
Tantas são as sociedades que discutem, satanizam, combatem, proíbem, punem, mas consomem amplamente a nudez. Isto parece indicar que a percepção da nudez do outro por vezes está menos vinculada à quantidade de roupa do que ao contexto no qual sua corporeidade se manifesta.
A nudez erótica, por sua vez, muitas vezes depende mais do que está sugerido ou implícito do que dos significados explícitos que lhe são inerentes. Se todo processo de significação implica a relação do símbolo com o seu contrário, relação que pode ser implícita ou explícita, a nudez só existe em relação ao seu contrário: o estar vestido. Quando a nudez não é comparada ao estar vestido, ela sim torna-se comum e não é percebida. Um indivíduo em traje de banho, por menor que seja, nos oferece uma aparência de seu "corpo humano" notavelmente distinta do que se estivesse nu. Centímetros de tecido demarcam a diferença entre o correto e o incorreto, o pudico e o impudico, o moral e o imoral, desde que cubram determinadas áreas do corpo.
O traje de banho oculta os órgãos genitais, mas em vez de diminuir sua presença, acaba por destacá-la. O que se oculta é o que desejamos ver. Nas sociedades consideradas civilizadas, liberadas, permissivas, democráticas e racionais, o corpo pode ser exibido na praia (e ocultado em outros lugares), desde que os órgãos sexuais, os seios e as nádegas estejam protegidos dos olhares. O que os olhos não conseguem ver sob os tecidos, o cérebro imagina: algo muito importante (ou bonito, feio, interessante, curioso, grande, pequeno, gostoso, repugnante) se esconde sob o biquíni e o calção. A nudez sugerida ou parcial é também bastante erótica em nossa cultura. Daí o uso de lingerie semitransparente, box de banho semi-opaco, banheiras cobertas de espuma ou pétalas de flores, camisetas molhadas que aderem ao corpo e roupas que deixem em destaque os contornos do corpo. Essa nudez não depende da quantidade de pele mostrada, mas é erótica na medida em que revela o bastante para suscitar a fantasia em quem olha.
Fonte: Museu do Sexo
quinta-feira, 31 de julho de 2008
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Acessórios de bruxa - a jarreteira
Eu comentei sobre o peculiar hábito de neopagãos, bruxos e wiccanos de ostentar túnicas negras. Existem outros acessórios que não o chapéu pontudo usados pelas bruxas ou o sapato com bico fino e grandes fivelas niqueladas. Um deles, bastante discreto e escondido é a jarreteira, cinta ou liga.
Para iniciar, cito o livro "a Bruxaria Hoje", de Gardner, pg 116:
[Eu] vi duas jarreteiras de bruxas; eram de pele de cobra verde com fivelas douradas ou prateadas e forradas de seda azul. Eram usadas no joelho esquerdo. São símbolos de alta posição.
Eu encontrei alguns textos na internet:
Um sacerdote/sacerdotisa que manteve o sacerdócio por mais de um ano e um dia é chamado/a de Alto Sacerdote/Alta Sacerdotisa. Isso simboliza a experiência e conhecimento/sabedoria que foi adquirida durante o ano inicial de sacerdócio. Uma sacerdotisa que tem mais de dois covens dela se formando [se tornando autonomos-NT] é chamada de Rainha. Novamente significa simplesmente experiência. Uma Rainha usa uma jarreteira com fivelas, uma para cada coven que se formou. Para algumas tradições, essa jareteira é vermelha; para outras, verde. No ritual a iniciada ganha uma jarreteira com uma fivela e um colar torcido para representar a Deusa. Geralmente nesse ritual o coven dá presentes à nova sacerdotisa e ela dá um presente à Alta Sacerdotisa por gratidão.
Simbolicamente, a jarreteira também lembra da marca ou ferida em uma perna que o Deus Ferreiro [Vulcano e Hefestos-NT] recebeu para se tornar defeituoso. Esta ferida simbólica é voluntáriamente aceita por aqueles que se dedicaram a aprender ao Ofício completamente. O sacerdócio usa isso como um lembrete do sacrifício necessário para servir bem a um coven como seu sacerdote ou sacerdotisa.
Outra explicação eu cito do livro "The Witche's Way" de Janet e Stewart Farrar, pg 266-267:
O significado mágico da jarreteira parece vir da Era Paleolítica; uma pintura em caverna mostra uma figura masculina no centro de uma dança ritual vestindo uma jarreteira em cada perna.
A jarreteira é tanto um objeto mágico como uma insígnia de graduação.
Quando uma Alta Sacerdotisa tem outro coven se formando a partir do seu original, ela está permitida a adicionar uma segunda fivela à sua jarreteira - e uma adicional fivela para cada coven que se forma. Quando sua jarreteira tem ao menos três fivelas, ela é uma Rainha Bruxa.
Teoria que Doreen Valiente discorda e segue explicando sua versão, citando seu livro "Witchcraft for Tomorrow" pg 84-85:
A jarreteira da bruxa era simplesmente um pedaço de corda, que era amarrado em volta da perna para segurar a meia que era vestido tanto por homem quanto por mulher.
Menos conhecido é o significado da corda[...]a corda representa a passagem entre o firmamento e a terra, no sentido de ser uma escada pela qual os Deuses e os espíritos podem descer para a terra e o xaman pode subir ao firmamento.
Provavelmente era simplesmente uma forma conveniente de carregar as cordas mágicas, para tê-las amarradas no corpo.
Eventualmente, veio o tempo quando as bruxas tiveram que disfarçar a corda[...]então a corda se tornou uma jarreteira;mas era um tipo especial de jarreteira. Algumas jarreteiras eram insígnias de graduação no culto das bruxas[...].
Eu considero dificil saber exatamente quem, como e quando o uso de jarreteira começou a ser usado no Ofício, mas parece ser bem plausível que foi útil para esconder os materiais para o exercício do Ofício. Existe uma boa possibilidade que as bruxas assimilaram o uso das cintas com sinos ou gizos que foram usados por sacerdotes nos ritos ancestrais em celebração ao Deus Sacrificado.
Para iniciar, cito o livro "a Bruxaria Hoje", de Gardner, pg 116:
[Eu] vi duas jarreteiras de bruxas; eram de pele de cobra verde com fivelas douradas ou prateadas e forradas de seda azul. Eram usadas no joelho esquerdo. São símbolos de alta posição.
Eu encontrei alguns textos na internet:
Um sacerdote/sacerdotisa que manteve o sacerdócio por mais de um ano e um dia é chamado/a de Alto Sacerdote/Alta Sacerdotisa. Isso simboliza a experiência e conhecimento/sabedoria que foi adquirida durante o ano inicial de sacerdócio. Uma sacerdotisa que tem mais de dois covens dela se formando [se tornando autonomos-NT] é chamada de Rainha. Novamente significa simplesmente experiência. Uma Rainha usa uma jarreteira com fivelas, uma para cada coven que se formou. Para algumas tradições, essa jareteira é vermelha; para outras, verde. No ritual a iniciada ganha uma jarreteira com uma fivela e um colar torcido para representar a Deusa. Geralmente nesse ritual o coven dá presentes à nova sacerdotisa e ela dá um presente à Alta Sacerdotisa por gratidão.
Simbolicamente, a jarreteira também lembra da marca ou ferida em uma perna que o Deus Ferreiro [Vulcano e Hefestos-NT] recebeu para se tornar defeituoso. Esta ferida simbólica é voluntáriamente aceita por aqueles que se dedicaram a aprender ao Ofício completamente. O sacerdócio usa isso como um lembrete do sacrifício necessário para servir bem a um coven como seu sacerdote ou sacerdotisa.
Outra explicação eu cito do livro "The Witche's Way" de Janet e Stewart Farrar, pg 266-267:
O significado mágico da jarreteira parece vir da Era Paleolítica; uma pintura em caverna mostra uma figura masculina no centro de uma dança ritual vestindo uma jarreteira em cada perna.
A jarreteira é tanto um objeto mágico como uma insígnia de graduação.
Quando uma Alta Sacerdotisa tem outro coven se formando a partir do seu original, ela está permitida a adicionar uma segunda fivela à sua jarreteira - e uma adicional fivela para cada coven que se forma. Quando sua jarreteira tem ao menos três fivelas, ela é uma Rainha Bruxa.
Teoria que Doreen Valiente discorda e segue explicando sua versão, citando seu livro "Witchcraft for Tomorrow" pg 84-85:
A jarreteira da bruxa era simplesmente um pedaço de corda, que era amarrado em volta da perna para segurar a meia que era vestido tanto por homem quanto por mulher.
Menos conhecido é o significado da corda[...]a corda representa a passagem entre o firmamento e a terra, no sentido de ser uma escada pela qual os Deuses e os espíritos podem descer para a terra e o xaman pode subir ao firmamento.
Provavelmente era simplesmente uma forma conveniente de carregar as cordas mágicas, para tê-las amarradas no corpo.
Eventualmente, veio o tempo quando as bruxas tiveram que disfarçar a corda[...]então a corda se tornou uma jarreteira;mas era um tipo especial de jarreteira. Algumas jarreteiras eram insígnias de graduação no culto das bruxas[...].
Eu considero dificil saber exatamente quem, como e quando o uso de jarreteira começou a ser usado no Ofício, mas parece ser bem plausível que foi útil para esconder os materiais para o exercício do Ofício. Existe uma boa possibilidade que as bruxas assimilaram o uso das cintas com sinos ou gizos que foram usados por sacerdotes nos ritos ancestrais em celebração ao Deus Sacrificado.
sábado, 26 de julho de 2008
O mito do Rei Sagrado
Em tempos remotos, a lei "só os mais fortes sobrevivem" era uma realidade verdadeira e comum. Hoje, graças à medicina moderna e à tecnologia, nossa sociedade mantém vivos aqueles que a Natureza permitiria morrer. (Isso não é um julgamento, mas uma simples observação.)
No sistema das tribos primitivas, os caçadores e os guerreiros possuíam papel importante na estrutura social. Os mais valentes e argutos dentre eles eram honrados pela tribo e seguidos como líderes. Em muitos casos, o bem-estar desse indivíduo afetava o bem-estar de toda a tribo. Esse é um tema amplamente explorado no mito norte-europeu do Rei Arthur. Merlin diz a Arthur que, caso tenha sucesso, a terra florescerá; caso contrário, a terra fenecerá. Arthur então pergunta: "Por quê?" Ao que Merlin responde: "Porque você é o Rei!"
Mesmo atualmente, as doenças de nossos líderes nacionais são minimizadas, e eles estão sempre "se recuperando gradualmente". Para compreendermos essa relação íntima, devemos analisar certos aspectos e conexões. Enquanto Merlin diz a Arthur: "Você é a Terra, e a Terra é você", prosseguiremos em nossa jornada ao passado para descobrir essas antigas raízes.
Antes que os humanos aprendessem a cultivar plantações e a criar animais, a caça era essencial para a vida. Sem caçadores capacitados, os clãs desapareceriam. A caça era uma atividade perigosa, pois os humanos ainda não haviam se retirado da cadeia alimentar. As armas primitivas exigiam que os caçadores se aproximassem muito da presa, e os ferimentos pessoais eram corriqueiros. Muitos caçadores perderam a vida ou ficaram incapacitados como resultado da caçada.
Com o tempo, o caçador passou a guerreiro, arriscando sua vida pela tribo. As necessidades da tribo, fossem por alimento ou por defesa, exigiam o envio de melhor caçador ou guerreiro existente na tribo.
Com o passar do tempo, esse conceito evoluiu com a consciência religiosa e espiritual da humanidade. O conceito de Deidade, bem como seu papel na vida e na morte, tomaram forma em meio a rituais. e dogmas. Conseqüentemente, surgiu a idéia de enviar o melhor elemento da tribo diretamente aos deuses para assegurar favores. Essa foi a origem do sacrifício humano (acreditava-se que os que se apresentavam voluntariamente acabavam por se tornar eles mesmos deuses).
As oferendas não eram novidade para nossos ancestrais; muitas vezes alimento e flores ou caça eram depositados perante os deuses. Um semelhante era considerado a maior oferenda que uma tribo poderia fazer. Entre as oferendas humanas, o sacrifício de um voluntário era a possibilidade máxima. Certamente, acreditava-se, os deuses garantiriam à tribo qualquer coisa se alguém desejasse abrir mão de sua vida.
Em seu livro Western Inner Workings (Weiser, 1983), William Gray aborda diversos aspectos desse tema do Culto. Um deles está relacionado ver com linhagens sangüíneas. Ele escreve:
Algo os impelia a Deidades; não o medo, tampouco a busca por favores, mas eles sentiam um grau de afinidade entre eles próprios e os invisíveis Imortais. De modo extremo, eles percebiam que eram aparentados à distância desses Deuses, e queriam fortalecer tal relacionamento. Essa faceta em membros especificos da raça humana apresenta uma certa prova de linhas genéticas que remontam ao '"Antigo Sangue" que se originara de fora da própria Terra.
Gray também demonstra como os reis e governantes acabaram por ser sacrificados (por serem os "melhores" do clã) e como as linhagens sangüíneas eram importantes. Os regentes da antiga Roma e do Egito eram considerados por seus povos os descendentes dos deuses, ou eram eles mesmos deuses.
Num capítulo entitulado "O Culto ao Reinado", Gray oferece um relato de como o sangue e a carne eram distribuídos para o clã, e para a terra. Partes do corpo eram enterradas em campos cultivados para assegurar a colheita. Pequenas porções do corpo e do sangue eram adicionadas ao banquete sobre o qual Gray escreve:
Eles concediam ao finado líder o mais honroso sepultamento possível em seus estômagos.
Esse tipo de mitologia também pode ser encontrado na mitologia cristã, onde o corpo de Jesus é o centro do rito da comunhão. Após o fim de tais práticas, Gray nota que o costume perdurou na forma de cremação em uma pira funerária.
No mito do Rei Divino/Deus Sacrificado, o sacrifício é apenas uma parte da história. Sacrificar é enviar o que temos de melhor, mas e quanto a recuperá-los? Nos versos da Arte, temos uma passagem onde se lê:
"... e devemos encontrá-los, reconhecê-los, relembrá-los e amá-los novamente. "
Para tanto, foram criados rituais que ocasionassem o renascimento desses Deuses Sacrificados onde as linhagens eram cuidadosamente estudadas.
Donzelas especiais eram preparadas para carregar o rebento, geralmente virgens artificialmente inseminadas para que nenhum pai humano fosse conhecido.
Com a evolução e o amadurecimento da consciência humana, os sacrifícios humanos foram substituídos por sacrifícios animais (o ritual do bode expiatório) e posteriormente para sacrifício vegetal. O mesmo mito se aplica ao sacrifício vegetal, e encontramos a "Deidade comida" no pão e vinho (carne e sangue) dos rituais da Arte.
Apesar do significado e da preparação terem se perdido em muitos dos sistemas reconstruídos, eles ainda são preservados por muitas das Antigas Tradições. Na antiga tradição, era através dessa conexão com o corpo e o, sangue do Deus Sacrificado que as pessoas se integravam com a Deidade. Esse é basicamente o conceito do rito cristão da comunhão ou da Celebração da Eucaristia.
Na "Última Ceia", Jesus declara a seus seguidores que o corpo e o vinho são seu corpo. A seguir, ele afirma que abrirá mão de sua vida por seu povo, e pede-lhes que comam de sua carne e bebam de seu sangue (o pão e o vinho).
Acreditava-se que o sangue continha a essência da força vital. A morte do rei libertava o sagrado espírito interior, e através da distribuição de sua carne e de seu sangue (às pessoas e à terra), uniam-se a terra e o paraíso, e essa energia vital renovava o Reino. Resquícios dessa prática ainda podem ser claramente observados na Antiga Religião, apesar de estarem velados e altamente simbólicos.
O Rei Divino/Deus Sacrificado surge em vários aspectos no desenrolar das eras. Sua imagem se manifesta corno o Jack-in-the-Green, o Hooded Man, O Green Man e o Hanged Man (Enforcado) do tarô. Ele é o Senhor das Plantas, ele é a Colheita e, em seu aspecto silvestre (ou livre), ele é a Floresta. Ele não assume o lugar da Mãe Terra, tampouco usurpa seu poder - ele é seu complemento e seu consorte.
A imagem do Green Man provavelmente simboliza da melhor forma possível o Rei Divino/Deus Sacrificado. Ele é o espírito da Terra, manifesto em todas as formas vegetais. Ele é o poder procriativo e a semente da vida. Sua face é oculta pela folhagem, mas ele está sempre atento.
O Green Man representa a relação do homem com a Natureza. O escritor William Anderson, em seu livro The Green Man, diz:
Ele resume em si mesmo a união que deve ser mantida entre a humanidade e a Natureza. Ele é o próprio símbolo da esperança: afirma que a sabedoria do homem pode se aliar às forças instintivas e emocionais da Natureza.
Ele é, com efeito, nossa ponte entre os Mundos. Ele está integrado ao Paraíso e à Terra, e integrar-se a ele é integrar-se à Fonte de Todas as Coisas.
Autor: Raven Grimassi, trecho retirado do livro "Os Mistérios Wiccanos" [pg 231 a 234-NB].
No sistema das tribos primitivas, os caçadores e os guerreiros possuíam papel importante na estrutura social. Os mais valentes e argutos dentre eles eram honrados pela tribo e seguidos como líderes. Em muitos casos, o bem-estar desse indivíduo afetava o bem-estar de toda a tribo. Esse é um tema amplamente explorado no mito norte-europeu do Rei Arthur. Merlin diz a Arthur que, caso tenha sucesso, a terra florescerá; caso contrário, a terra fenecerá. Arthur então pergunta: "Por quê?" Ao que Merlin responde: "Porque você é o Rei!"
Mesmo atualmente, as doenças de nossos líderes nacionais são minimizadas, e eles estão sempre "se recuperando gradualmente". Para compreendermos essa relação íntima, devemos analisar certos aspectos e conexões. Enquanto Merlin diz a Arthur: "Você é a Terra, e a Terra é você", prosseguiremos em nossa jornada ao passado para descobrir essas antigas raízes.
Antes que os humanos aprendessem a cultivar plantações e a criar animais, a caça era essencial para a vida. Sem caçadores capacitados, os clãs desapareceriam. A caça era uma atividade perigosa, pois os humanos ainda não haviam se retirado da cadeia alimentar. As armas primitivas exigiam que os caçadores se aproximassem muito da presa, e os ferimentos pessoais eram corriqueiros. Muitos caçadores perderam a vida ou ficaram incapacitados como resultado da caçada.
Com o tempo, o caçador passou a guerreiro, arriscando sua vida pela tribo. As necessidades da tribo, fossem por alimento ou por defesa, exigiam o envio de melhor caçador ou guerreiro existente na tribo.
Com o passar do tempo, esse conceito evoluiu com a consciência religiosa e espiritual da humanidade. O conceito de Deidade, bem como seu papel na vida e na morte, tomaram forma em meio a rituais. e dogmas. Conseqüentemente, surgiu a idéia de enviar o melhor elemento da tribo diretamente aos deuses para assegurar favores. Essa foi a origem do sacrifício humano (acreditava-se que os que se apresentavam voluntariamente acabavam por se tornar eles mesmos deuses).
As oferendas não eram novidade para nossos ancestrais; muitas vezes alimento e flores ou caça eram depositados perante os deuses. Um semelhante era considerado a maior oferenda que uma tribo poderia fazer. Entre as oferendas humanas, o sacrifício de um voluntário era a possibilidade máxima. Certamente, acreditava-se, os deuses garantiriam à tribo qualquer coisa se alguém desejasse abrir mão de sua vida.
Em seu livro Western Inner Workings (Weiser, 1983), William Gray aborda diversos aspectos desse tema do Culto. Um deles está relacionado ver com linhagens sangüíneas. Ele escreve:
Algo os impelia a Deidades; não o medo, tampouco a busca por favores, mas eles sentiam um grau de afinidade entre eles próprios e os invisíveis Imortais. De modo extremo, eles percebiam que eram aparentados à distância desses Deuses, e queriam fortalecer tal relacionamento. Essa faceta em membros especificos da raça humana apresenta uma certa prova de linhas genéticas que remontam ao '"Antigo Sangue" que se originara de fora da própria Terra.
Gray também demonstra como os reis e governantes acabaram por ser sacrificados (por serem os "melhores" do clã) e como as linhagens sangüíneas eram importantes. Os regentes da antiga Roma e do Egito eram considerados por seus povos os descendentes dos deuses, ou eram eles mesmos deuses.
Num capítulo entitulado "O Culto ao Reinado", Gray oferece um relato de como o sangue e a carne eram distribuídos para o clã, e para a terra. Partes do corpo eram enterradas em campos cultivados para assegurar a colheita. Pequenas porções do corpo e do sangue eram adicionadas ao banquete sobre o qual Gray escreve:
Eles concediam ao finado líder o mais honroso sepultamento possível em seus estômagos.
Esse tipo de mitologia também pode ser encontrado na mitologia cristã, onde o corpo de Jesus é o centro do rito da comunhão. Após o fim de tais práticas, Gray nota que o costume perdurou na forma de cremação em uma pira funerária.
No mito do Rei Divino/Deus Sacrificado, o sacrifício é apenas uma parte da história. Sacrificar é enviar o que temos de melhor, mas e quanto a recuperá-los? Nos versos da Arte, temos uma passagem onde se lê:
"... e devemos encontrá-los, reconhecê-los, relembrá-los e amá-los novamente. "
Para tanto, foram criados rituais que ocasionassem o renascimento desses Deuses Sacrificados onde as linhagens eram cuidadosamente estudadas.
Donzelas especiais eram preparadas para carregar o rebento, geralmente virgens artificialmente inseminadas para que nenhum pai humano fosse conhecido.
Com a evolução e o amadurecimento da consciência humana, os sacrifícios humanos foram substituídos por sacrifícios animais (o ritual do bode expiatório) e posteriormente para sacrifício vegetal. O mesmo mito se aplica ao sacrifício vegetal, e encontramos a "Deidade comida" no pão e vinho (carne e sangue) dos rituais da Arte.
Apesar do significado e da preparação terem se perdido em muitos dos sistemas reconstruídos, eles ainda são preservados por muitas das Antigas Tradições. Na antiga tradição, era através dessa conexão com o corpo e o, sangue do Deus Sacrificado que as pessoas se integravam com a Deidade. Esse é basicamente o conceito do rito cristão da comunhão ou da Celebração da Eucaristia.
Na "Última Ceia", Jesus declara a seus seguidores que o corpo e o vinho são seu corpo. A seguir, ele afirma que abrirá mão de sua vida por seu povo, e pede-lhes que comam de sua carne e bebam de seu sangue (o pão e o vinho).
Acreditava-se que o sangue continha a essência da força vital. A morte do rei libertava o sagrado espírito interior, e através da distribuição de sua carne e de seu sangue (às pessoas e à terra), uniam-se a terra e o paraíso, e essa energia vital renovava o Reino. Resquícios dessa prática ainda podem ser claramente observados na Antiga Religião, apesar de estarem velados e altamente simbólicos.
O Rei Divino/Deus Sacrificado surge em vários aspectos no desenrolar das eras. Sua imagem se manifesta corno o Jack-in-the-Green, o Hooded Man, O Green Man e o Hanged Man (Enforcado) do tarô. Ele é o Senhor das Plantas, ele é a Colheita e, em seu aspecto silvestre (ou livre), ele é a Floresta. Ele não assume o lugar da Mãe Terra, tampouco usurpa seu poder - ele é seu complemento e seu consorte.
A imagem do Green Man provavelmente simboliza da melhor forma possível o Rei Divino/Deus Sacrificado. Ele é o espírito da Terra, manifesto em todas as formas vegetais. Ele é o poder procriativo e a semente da vida. Sua face é oculta pela folhagem, mas ele está sempre atento.
O Green Man representa a relação do homem com a Natureza. O escritor William Anderson, em seu livro The Green Man, diz:
Ele resume em si mesmo a união que deve ser mantida entre a humanidade e a Natureza. Ele é o próprio símbolo da esperança: afirma que a sabedoria do homem pode se aliar às forças instintivas e emocionais da Natureza.
Ele é, com efeito, nossa ponte entre os Mundos. Ele está integrado ao Paraíso e à Terra, e integrar-se a ele é integrar-se à Fonte de Todas as Coisas.
Autor: Raven Grimassi, trecho retirado do livro "Os Mistérios Wiccanos" [pg 231 a 234-NB].
Fonte: Espiralando (original perdido).
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Os Deuses Antigos
Os deuses da bruxaria são os mais antigos de todos. São os mesmos que os seres humanos da antiga Idade da Pedra pintaram nas paredes de suas cavernas sagradas.
Os homens da igreja e outros autores que denunciaram a bruxaria e suas práticas pagãs descreveram em seus livros duas deidades que, segundo eles, as bruxas e bruxos renderam culto em lugar do deus cristão. São a figura com chifres, parte humana e parte animal, que se sentava no trono dos covens e Sabás fracamente iluminada pelas chamas de uma fogueira ritual, enquanto os bruxos e bruxas dançavam ao seu redor, e, ao seu lado, uma formosa mulher nua que era considerada a rainha do coven, provavelmente porque representava e personificava Diana, a deusa da lua, ou sua filha Aradia. Ambas as figuras centrais do culto, que na prática eram seres humanos presidiam as danças selvagens e orgíacas em determinadas datas tradicionais do ano, festas sazonais tão antigas que ninguém sabia quando começaram. Estes são os aspectos centrais do culto da bruxaria segundo o testemunho de várias testemunhas hostis.
Ambas as divindades, o deus com chifres e a deusa nua, podem ser encontradas nas pinturas das cavernas e nos relevos de nossos antepassados pré-históricos na Europa ocidental. O deus de chifres também aparece na arte religiosa das cidades pré-arianas do vale do Indo, Mohenjo-Daro e Harappa. Ele aparece, muitas vezes descrito pelos antigos autores quando se referem às abominações da bruxaria, inclusive com o detalhe de portar uma tocha entre os chifres. Acredita-se que a civilização dessas antigas cidades da Índia datam do terceiro milênio A.C.
A imagem de uma cabeça com uma luz entre os chifres sobreviveu no culto secreto tântrico da Índia até nossos dias. O Mahanirvana Tantra, que descreve o culto da deusa suprema Adya Kali, mediante o ritual Panchatattva, e que inclui a oferenda de vinho, carne, pescado, cereal e a cópula sexual dentro de um círculo consagrado, nos fala da imolação de um animal macho com chifres que tinha de ser sacrificado à deusa. O animal era decapitado com um certeiro golpe da faca cerimonial e em seguida oferecia-se a cabeça cortada, com uma luz entre os chifres, com as palavras: "Com uma luz sobre ela, ofereço esta cabeça a Devi com obediência".
Antes de acusar os tântricos de crueldade com os animais, devemos ter em conta o fato de que acreditam que através desse ato o animal sacrificado fica liberto da escravidão de sua vida como animal, permitindo que ele regresse num estado mais elevado de existência. Para isso se reza uma oração especial diante do animal antes de sacrificá-lo. Não seria muito arriscado imaginar que o animal sacrificado representa na verdade a divindade pré-histórica com chifres da Índia pré-ariana. Muitos comentaristas das escrituras, chamadas Tantras, tem sugerido que elas incluem idéias religiosas consideravelmente antigas, embora a forma em que chegaram a nossos dias tenha vindo dos brâmanes e dos budistas segundo suas idéias, muito posteriores.
Mais longe para o Oriente, encontramos temíveis deuses com chifres na arte tibetana, nepalesa e territórios adjacentes e, embora apareçam num contexto budista, evidentemente são o resultado de uma adaptação para adequarem-se a essa religião. A mais notável dessas divindades, representada tanto por estátuas como em cilindros maravilhosamente coloridos pendurados nas paredes chamados tankas, é Yamantaka, que algumas vezes aparece com a cabeça de um touro e outras com os enormes chifres de um yaque tibetano. Yamatanka está ladeado por sua homóloga feminina, chamada sua prajna ou ‘sabedoria’, que aparece rodeada por uma aura de chamas. Apesar de sua aparência terrível, os budistas não o consideram um ser maligno, mas uma das deidades que atuam como guardiões da religião budista, a quem também chamam de "Destruidora da Morte".
O fato de que essa deidade foi venerada e invocada pelos seguidores da religião pré-budista nos fornece uma chave sobre sua verdadeira origem e antiguidade. Essa religião, de um tipo muito mais primitivo, estava relacionada com a magia e com os espíritos e deuses da natureza, e provavelmente derivou do antigo xamanismo das remotas religiões da Ásia, como o norte da Mongólia e do Tibet. Idries Shah em seu livro Oriental Magic, inclui uma invocação dos magos-sacerdotes Bon. Devido à invasão comunista chinesa do Tibet temos que falar das tradições tibetanas no passado, mas é muito possível que em alguns bosques remotos ou vales montanhosos se continue rendendo culto a Yamantaka, do mesmo modo que os bruxos seguiram rendendo culto clandestinamente a seus antigos deuses pagãos depois da entrada violenta do cristianismo na Europa.
Na Europa, a versão mais conhecida do deus de chifres é Pan. Era a divindade dos fazendeiros e dos pastores de Arcádia, a região mais rural da antiga Grécia. Embora mais primitiva que as sofisticadas deidades do Monte Olimpo, Pan era muito querido pelos camponeses como portador da fertilidade. Encarnava a força vital da natureza e era conhecido como Panphage, Pangenetor, "que a tudo devora", "que a tudo engendra". Também o deus Osíris do Egito era símbolo da força vital que retorna, e ao mesmo tempo, o deus da morte e do além. Para os antigos pagãos, a vida e a morte eram duas faces da mesma moeda.
Quando estava ofendido, Pan podia inspirar terror e nossa palavra "pânico" deriva do seu nome. A natureza é majestosa e inspiradora, mas as vezes é terrível. A palavra Pan também significava "todo". Algumas representações de Pan o mostram como um deus universal, motivo do seu corpo ser metade humano e metade animal. A pele de cervo que traz pendurada nos ombros representa as estrelas do céu. Seus cabelos emaranhados simbolizam os bosques e as matas. Seus poderosos cascos são a força das rochas. Seus chifres são raios de luz, enquanto que sua flauta de sete canas com a qual toca a melodia mística da vida, encantando a todos os que a ouvem, é o símbolo do governo dos sete astros celestiais, o sol, a lua e os cinco planetas visíveis. Na arte sagrada oriental existem representações parecidas do deus Krishna, cuja aparição em sua forma universal se descreve vividamente no Bhagavad Gita.
Os adeptos da bruxaria na Tessália, na antiga Grécia, rendiam culto ao deus Pan. Se dizia que era o amante secreto da deusa lunar Artemisa, a versão grega de Diana. Convocava seus seguidores a virem nus em seus rituais à luz da lua, igual ao que séculos mais tarde os bruxos e bruxas faziam, dançando nus nos covens.
Como aconteceu com muitos outros deuses e deusas, os romanos herdaram Pan dos gregos. O chamaram Faunus ou Silvanos. Seu povo eram os sátiros e as ninfas do bosque, personificações da vida oculta da natureza. Para eles o animal sagrado era a cabra, que mais tarde se converteria no cabrito do coven. Para os primeiros cristãos, que pensavam que este mundo tinha perdido a graça e era a morada do pecado, sua inesgotável alegria e falta de vergonha resultavam, naturalmente, repugnantes e por isso se adotou o modelo sobre o qual se criou o Satã de chifres e rabo. Os estudiosos das religiões comparadas conhecem muito bem a evolução que transformou o deus da antiga fé no diabo da nova.
Os budistas, como vimos, foram muito mais sutis com os primitivos deuses de chifres de seus países. Em vez de declarar que eram demônios, os incorporaram à religião como guardiões da fé.
A versão celta do deus Pan foi Cernunnos, que significava ‘o cornífero’. Esse nome foi descoberto num altar dedicado a ele, encontrado sob a catedral de Notre Dame e que agora se conserva no museu de Cluny, em Paris. Provavelmente, o santuário da nova religião foi construído sobre o que antes era um local sagrado pagão.
Outras representações famosas do deus Cernunnos são a estátua da época galo-romana que se encontra no Museu de Reims e a encontrada no esplêndido caldeirão de prata conhecido como Caldeirão de Gundestrop, achado numa turfeira da Dinamarca em 1891. A primeira, que faz parte de um grupo de estátuas evidentemente romanas, mostra Cernunnos com Apolo e Mercúrio, mas ele é a figura mais importante e aparece em sua representação característica, sentado com as pernas cruzadas, semelhante ao seu protótipo do Vale do Indo. A figura no Caldeirão de Gundestrop aparece de modo semelhante, rodeada por uma viva representação de vários animais, talvez para denotar que ele é uma espécie de espírito dominante da natureza. Apesar de ter sido descoberto na Dinamarca e na atualidade se encontrar no Museu Nacional de Copenhague, essa magnífica obra de arte celta data do século I ou II A.C.
Em uma caverna de Val Camonica, na Itália, encontramos um estranho desenho, mais tosco e antigo que as representações anteriores, que data do século III ou IV AEC. Nele aparece Cernunnos como figura dominante, coroado com chifres de cervo e ataviado com um grande vestido. Diante dele, um homem nu levanta os braços em invocação, rendendo-lhe culto. Nos braços, o deus leva dois braceletes ou torques que aparecem muitas vezes em outras representações e que provavelmente simbolizam riqueza. Ao seu lado há uma estranha criatura que também aparece no Caldeirão de Gundestrop, uma serpente com chifres, talvez um símbolo fálico.
Quando Margaret Murray escreveu sobre Cernunnos em seu livro The God of the Witches [O Deus das Bruxas-NB], declarou que grande parte do que sabemos sobre o deus de chifres nas ilhas britânicas vem de registros escritos por monges e sacerdotes, pois as pessoas comuns que lhe rendiam culto eram analfabetas e não deixaram testemunhos escritos. Desde então se tem encontrado muitas representações de Cernunnos na Grã-Bretanha e sem dúvida o deus chifrudo celta foi invocado e venerado nestas ilhas, como na Gália e qualquer outro lugar da Europa Ocidental. A explicação de Margaret Murray da bruxaria como sobrevivência clandestina da antiga religião pagã fica, assim, confirmada por essas provas.
Da antiga Idade da Pedra até a Bretanha celta, da Tessália ao Tibet, a prova dos antigos testemunhos demonstra a universalidade e persistência da figura arquetípica do deus com chifres como espírito ativo da vida. Poderíamos incluir mais provas, como por exemplo, o deus primordial egípcio Khnum que aparece com a cabeça e chifres de um carneiro no ato de criar dando forma ao ser humano sobre uma roda de oleiro, ou o deus supremo dos antigos egípcios, Amon, que as vezes vemos representado como um carneiro exaltado sobre um santuário ou altar e coroado com os atributos de sua realeza.
Que importância tem essas duas figuras de culto, o deus de chifres e sua consorte, a deusa da lua, para que entre todas as divindades pagãs sobrevivessem como deidades da bruxaria?
Penso que a resposta se encontra em sua natureza primordial. Tanto o deus de chifres quanto sua consorte a deusa nua - essa algumas vezes representada sozinha e outras em sua forma tripla - se encontram, como foi dito antes, na arte sagrada mais antiga do ser humano, em seus mais remotos santuários, as cavernas da Idade da Pedra. A forma tripla da deusa está relacionada com as três fases da lua, crescente, cheia e minguante, cuja relação com a fertilidade humana é vital, pois o ciclo menstrual de vinte e oito dias coincide com a duração do mês lunar, um fato que sem dúvida o homem primitivo observou. Alguns arqueólogos acreditam que as representações e marcas deixadas pelos homens primitivos da Idade da Pedra são observações e reconhecimentos das fases lunares, a primeira tentativa de conhecer a astronomia e a formação de calendários.
A virilidade dos grandes animais corníferos, o cervo e o bisonte, dos quais dependia a sobrevivência do ser humano em sua fase de caçador, a beleza e mistério da luz da lua, a medida do tempo e a regulagem das marés, tanto da água quanto dos ciclos femininos, constituíam aspectos primitivos porém fundamentais, e os pagãos que renderam culto ao divino que se manifestava na natureza, os personificaram na primeira divindade que conhecemos.
Compreenderam, como os povos do Oriente continuam fazendo, a interação das forças opostas, embora complementares, sem as quais nenhuma manifestação poderá ter lugar. No antigo sistema de adivinhação chinês conhecido como o I Ching o Livro das Mutações, esses poderes fundamentais se chamam yin e yang. O yang representa o poder ativo e masculino, e o yin o feminino e passivo.
Segundo esse venerável tratado, um dos livros mais antigos do mundo, todas as coisas surgem dessa polaridade básica entre o yin e yang e sua interrelação, enquanto que sua união forma o símbolo conhecido como Tai Chi, o Absoluto, a última realidade. Sua representação gráfica consiste em um círculo dividido por uma linha curva em duas partes iguais, uma escura e outra clara.
A Cabala hebraica, que segundo seu tradutor S.L. MacGregor Mathers procede em última instância do antigo Egito, mostra uma idéia basicamente similar em seus pilares da Beleza e da Harmonia. O pilar da Misericórdia está coroado por Chokmah, o princípio arquetípico masculino, e o pilar da Severidade por Binah, o arquétipo feminino, enquanto que o pilar do meio está adornado por uma coroa mais alta, o divino brilho branco de Kether, a primeira emanação.
O simbolismo se perpetuou nos Pilares Gêmeos da maçonaria, Jachin e Boaz, que se elevam de ambos os lados do templo de Salomão. Na verdade, representam essa polaridade fundamental e divina que existe em toda a natureza, os dois opostos cuja união constituem a Grande Obra simbólica da alquimia. No simbolismo alquímico essa polaridade também é representada pelo sol masculino e a lua feminina.
O simbolismo é a linguagem natural da mente que manifesta a importância psicológica de nossos sonhos. O grande pioneiro nesse estudo foi Carl Gustav Jung, psicólogo que começou como discípulo de Sigmund Freud, mas logo superou as limitações que encerravam as opiniões materialistas de seu mestre. Jung descobriu que os seres humanos não só tem uma mente inconsciente individual, mas que em níveis mais profundos estão em contato com o inconsciente coletivo da raça. Nesse inconsciente encontram-se imagens cheias de um significado que se manteve guardado ali, inclusive desde que o ser humano surgiu no planeta.
É possível que Jung somente redescobriu o que os hierofantes dos antigos cultos dos mistérios já sabiam muito bem. Essa opinião encontra-se corroborada na declaração do Livro Tibetano dos Mortos, o Bardo Thodol, que trata não apenas dos estados posteriores à morte, mas de outras formas de transpor o véu da matéria, e ensina aos seus leitores atentos que tudo o que existe e todas as deidades, tanto pacíficas como hostis, surgiram de suas próprias mentes. No inconsciente coletivo da humanidade habitam, portanto, as imagens eternas dos deuses.
São a personificação das forças da natureza e modificações do casal primordial, o Pai e Mãe universais. No antigo Egito, todos os deuses e deusas múltiplas eram formas diversas do deus mais importante, Amon, cujo nome significa ‘o Oculto’, e de sua consorte feminina, Amoneth (ou Mut). Nos templos da Índia, o símbolo sagrado é o lingam-yoni, uma representação formalizada do falo do homem e da vagina da mulher, que não só simboliza a sexualidade humana mas a interação da força da vida em todas as suas formas.
Na Grã-Bretanha pré-histórica, os grandes templos neolíticos de Stonehenge e Avebury mostram a mesma polaridade simbólica, mas de uma forma mais sutil e austera. No mais antigo, o de Avebury, as enormes pedras são de formas alternadas, um pilar fálico alto e uma pedra mais baixa com uma forma mais ou menos romboidal, que expressam respectivamente um significado masculino e feminino. Duas das maiores são conhecidas atualmente como ‘Adão e Eva’. Em Stonehenge, temos o grande círculo, o útero receptivo, enquanto que na avenida externa se encontra a Pedra Hele, um menir fálico em cujo topo o sol do amanhecer parece pousar até o solstício de verão. Uma versão menor dessa disposição pode ser contemplada nas Pedras Rollright nos Montes Cotswolds, onde a alta Pedra do Rei se ergue fora de um círculo de pedra e está associada com lendas locais de bruxaria e de magia da fertilidade.
A escritora de ocultismo Dion Fortune (1891-1946) compreendeu o verdadeiro significado dos deuses antigos e seu papel arquetípico no inconsciente coletivo. Em suas obras se repete com freqüência a frase: "Todos os deuses são um e todas as deusas são uma, e só há um iniciador". O iniciador único é o próprio eu superior que se integra cada vez mais na personalidade conforme avança no caminho da evolução espiritual. É a que se referiu Buda quando falou a seus discípulos de "utilizar o Eu como uma lâmpada".
Dion Fortune escreveu uma série de notáveis novelas ocultistas, das quais duas em particular, The Goat-Foot e The Sea Priestess, são relevantes para o assunto que tratamos, pois a primeira aborda os poderes do deus cornífero e a última os da deusa da lua. Em ambos os livros se fala do deus com chifres como Pan e da deusa da lua como Ísis, mas fica claro que ambas as deidades são de caráter universal.
O conhecimento esotérico dessas estórias (para os que sabem ler entre linhas há muito) se desenvolve a partir de seu tratado sobre a tradição esotérica ocidental, The Mystical Qabalah. Nesse livro, Dion Fortune, que era uma iniciada nessa tradição, aborda a natureza real dos deuses como "imagens mágicas" não plasmadas em pedra ou madeira, mas configuradas por pensamentos da humanidade a partir da substância do plano astral que recebe a influência das energias da mente. Por isso se refere a isso, na falta de algo melhor, como "matéria-mental". Ela cita esses versos do poeta Swinburne:
Nenhum pensamento humano fez os deuses amar ou honrar,
Até que surgiu a canção dentro da alma muda,
Nem pode a terra desafiar o céu, de fato ou em sonhos,
Até que o mundo estampou a fala nos lábios do homem.
O que o grande psicólogo Jung descobriu mediante uma paciente investigação e reflexão, o poeta soube intuitivamente e os desconhecidos autores do Livro Tibetano dos Mortos souberam muito antes. Os deuses e as deusas são personificações dos poderes da natureza ou, talvez devêssemos dizer, do mundo sobrenatural, os poderes que governam e criam a vida do nosso universo, tanto o manifesto quanto o oculto. Em outras palavras, vivemos sobre um plano de formas sobre o qual existe um plano de forças em que se movem os deuses, porque personificando essas forças como deuses podemos estabelecer uma relação com eles.
Além disso, quando essa imagem mágica é desenvolvida e fortalecida durante o transcurso de séculos de ritual e culto, se converte em algo poderoso em si mesmo porque se obtém uma alma naquilo que é personificado. A forma pode começar como imaginação, mas quando o que personifica é real, a imaginação se converte numa realidade na faculdade criadora da imagem. Cada imagem artística deve primeiro ser percebida na mente do artista, em sua imaginação. Uma forma de pensamento subjetiva concebida por uma pessoa pode ser efêmera, mas as formas de pensamento de um povo é assunto diferente. Como Jung demonstrou, alguns conceitos como o da "Grande Mãe, o do "Ancião Sábio" e a "Criança Divina" são tão universais que os chamou de arquétipos, idéias formais que habitam no inconsciente coletivo da humanidade e que aparecem em visões e sonhos, incluindo as dos artistas.
As visões, tanto espontâneas como as induzidas, sempre jogaram um papel muito importante na experiência religiosa. As visões espontâneas surgem em forma de sonhos significativos ou experiências espirituais, essas últimas as vezes manifestando tal força que podem mudar a vida inteira de uma pessoa. As visões induzidas podem apresentar-se depois da entrada num estado de transe ou de êxtase. Esses estados e as diversas técnicas empregadas para induzi-los constituem um dos aspectos básicos de todas as religiões do mundo, desde as mais primitivas as mais sofisticadas. A palavra êxtase vem do grego ektasis, que significa sair temporariamente fora de si mesmo, romper os laços com o próprio mundo cotidiano e entrar em outro estado de ser. O homem extático mais antigo e primitivo é o xamã.
Provavelmente o xamanismo foi a forma mais primitiva de religião em todo mundo. Em seu ensaio sobre o tema, Shamanism: Archaic Techniques of Ectasy, Mircea Eliade define o xamanismo como "técnica do êxtase". O xamã - palavra que nos foi legado do russo, mas que parece ter sua origem nos dialetos do norte da Ásia - pode ser um homem ou uma mulher e sua função consiste em comunicar-se com os espíritos, tanto humanos como não humanos, e praticar todo tipo de magia, mas sua característica principal são os "vôos mágicos" que o levam a outros reinos do ser de onde volta com informação. A relação entre essa idéia e o suposto poder mágico das bruxas para voar, seja sobre uma vassoura tradicional ou outro tipo qualquer de bastão, é bastante óbvia.
Os meios pelos quais se levavam a cabo essas viagens ou vôos - e que continuam sendo praticados por xamãs contemporâneos como o mestre Carlos Castanheda, Don Juan Matus - consistiam quase sempre na ingestão de alguma droga alucinógena derivada de plantas ou cogumelos. Os xamãs do norte da Ásia usavam a Amanita muscaria que cresce em toda a Europa do norte e ocidental assim como nas ilhas britânicas. Atualmente se escreveu muito sobre essa planta e se tem investigado profundamente os efeitos desta e de outros alucinógenos naturais. Como resultado, os investigadores estão começando a revisar com olhos totalmente novos as descrições registradas da bruxaria européia, com seus ungüentos e conhecimento tradicional de ervas.
Outro meio para induzir o êxtase xamânico é uma dança frenética e ritmada, o tipo de baile que constituía um dos aspectos característicos dos covens. O xamã, em estado de êxtase, "encontra-se com os deuses", quer dizer, entra no plano além do véu da matéria, seja o plano astral ou o inconsciente coletivo.
Conscientes disso tudo, podemos ler com uma nova luz a famosa passagem que aparece nas primitivas leis canônicas da igreja cristã e que vem de re-compilações que datam do século X da nossa era:
Algumas mulheres malvadas, pervertidas pelo Diabo e seduzidas por ilusões e fantasmas de demônios, acreditam e, asseguram elas mesmas, que nas horas noturnas cavalgam sobre animais com Diana, a deusa dos pagãos, ou com Herodías, e uma multidão de mulheres atravessam no silêncio da noite os grandes espaços da terra e obedecem suas ordens como se fossem sua ama, e se congregam a seu serviço em determinadas noites.
Outros relatos de antigos autores falam de fantásticos covens ou Sabás durante os quais aparecia o próprio Diabo de chifres e cascos, rodeado por aparições espectrais de todo tipo. Isso, na verdade, se converteu num dos temas favoritos dos artistas, e alguns pintores, sobre tudo Hans Bandung, David Teniers, Frans Francken e Goya, se especializaram em descrevê-los, enquanto que o compositor Moussorgsky abordou musicalmente o mesmo tema em sua Night on the Bare Mountain com êxito considerável.
Esses covens visionários devem distinguir-se dos relatos das verdadeiras reuniões, que eram muito mais sóbrias e não tinham nada que não pudesse ser contado com naturalidade, tendo em conta que o ator principal, o suposto "Diabo", era simplesmente um homem vestido com uma máscara com chifres e peles de animais, igual ao dançarino mascarado que os artistas da Idade da Pedra desenharam na Caverne dês Trois Frères, em Ariège, França.
Existem também muitos relatos de investigadores antigos sobre confissões de bruxas nas quais asseguravam ter comparecido pelo ar a fantásticas e frenéticas reuniões e depois voltado da mesma maneira para suas casas. Esses relatos sempre contam a mesma história, ou seja, que a bruxa foi vista ungindo-se completamente nua com algum ungüento misterioso, e depois caindo num transe durante um tempo determinado em um sonho profundo, para no final despertar para contar suas aventuras no coven. As vezes, nos contam, as bruxas de mentalidade bastante simples se negavam a crer na explicação dos observadores de que na verdade não haviam estado voado pelo ar. (Apesar de falar de mulheres, nessas histórias se falam também de bruxos).
Diante de todas essas provas poder-se-ia pensar que os caçadores de bruxas tinham se dado conta de que se tratava do ungüento e não de Satã quem transportava as bruxas e bruxos no vôo, especialmente quando esses ungüentos incluíam ingredientes descritos por Giovanni Battista Porta em seu livro Magiae Naturalis. O fanatismo daqueles homens era tanto que negaram a possibilidade de que os ungüentos tivessem esse efeito e insistiram em atribuir tudo à intervenção de Satã nos problemas humanos. Esse aspecto é mostrado, com evidente aprovação, em History of Witchcraft and Demonology do intolerante Montague Summers.
Desde que Montague Summers escreveu seu livro, certamente erudito porém absolutamente parcial, os tempos mudaram. Por exemplo, dispomos de um simpósio interessante entitulado Hallucinogens and Shamanism, editado por Michael J. Harner, que inclui uma seção chamada "O papel das plantas alucinógenas na bruxaria européia", escrito pelo próprio Harner, que é professor assistente de antropologia da faculdade de New School for Social Research. Harner observa que as plantas tradicionais estudadas por Porta e outros como ingredientes na composição dos ungüentos das bruxas são as solanáceas, um gênero de plantas que incluem, junto a espécies tão humildes e conhecidas como a batata, o tomate e o tabaco, ervas perigosas e alucinógenas como o estramônio (Datura Stramonium) , o baleño (Hyoscyamus Níger), a mandrágora e a beladona (Atropa belladonna). Afirma que se encontram variedades dessas plantas por toda a Europa e América, e que os povos primitivos atuais continuam empregando-as em suas práticas xamãs.
Um fato particularmente interessante observado por Harner e seus colegas refere-se a que os povos que usam plantas alucinógenas, seja em forma de beberagem seja como ungüentos para fazer uma "viagem", tendem a ver as mesmas coisas em suas visões, dependendo do meio cultural em que vivem. Em outras palavras, os povos que tomam essas drogas estarão fortemente influenciados nas visões e experiências que parecer ter por suas idéias e crenças, e pela natureza das circunstâncias em que tomam a droga, o ambiente que os rodeia, etc.
Assim, os índios da América do Sul podiam ver em seus transes xamãs aos deuses pagãos tribais em que acreditavam, enquanto que os índios que tinham incorporado as influências dos missionários cristãos contemplavam símbolos cristãos misturados com os pagãos.
Algumas visões parecem ser características de certas drogas. A esse respeito, Harner observa a experiência do doutor Will-Erich Peukert, da universidade de Gottingen, Alemanha, que recentemente experimentou uma receita do século XVII para preparar uma pomada das bruxas ou "ungüento voador" e viveu um transe que durou vinte e quatro horas, durante as quais lhe pareceu participar das sinistras orgias dos lendários covens. A receita continha beladona, beleño e estramônio.
Outra característica encontrada em muitos lugares a partir das declarações de muitos testemunhos, é a sensação experimentada durante o efeito das drogas xamãs, de que a alma ou a mente se separam do corpo físico e voa pelo espaço para assistir cenas que ocorrem em locais distantes ou em alguma dimensão diferente. Tudo isso é bastante estranho para os antropólogos, especialmente quando índios que nunca viram uma cidade do homem branco ou um carro, afirmam visitar essa cidade em transe e perguntavam o que eram aquelas coisas estranhas que viajavam tão rápido pelas estradas. Para os ocultistas que conhecem o conceito da projeção astral, quer dizer, a faculdade do corpo astral separar-se do físico e viajar para outras dimensões do ser, a explicação é natural.
Harner comenta que os eruditos e os membros atuais dos covens de bruxaria em geral, fracassaram na hora de compreender a grande importância das plantas alucinógenas na bruxaria européia dos tempos antigos. Entretanto, até onde eu sei, isso não é assim nos covens modernos, apesar dos que possuem informação prática sobre esses assuntos geralmente preferirem manter um segredo absoluto. Adquiriram seu conhecimento das antigas fontes tradicionais mais do que desses "bruxos" e "bruxas" modernos que buscam publicidade nos meios de comunicação, e avisam que essas substâncias alucinógenas são perigosas, tanto as plantas quanto os cogumelos. Não querem assumir a responsabilidade de incentivar as pessoas imprudentes a experimentar o que poderia ter resultados fatais. Gostaria também de dizer aqui que, a menos que se tenha um conhecimento especializado ou se disponha de um guia a respeito disso, as experiências práticas com elas são muito insensatas.
Já me referi à história contada por Francis King em Ritual Magic in England e que provém do seu amigo Louis Wilkinson, do coven sobrevivente de New Forest no qual foi originalmente iniciado. King afirma que esse coven utilizava o cogumelo chamado mata-moscas como alucinógeno, ingerindo-o oralmente em doses muito pequenas. Também usavam um ungüento, mas se tratava de uma substância oleosa para proteger seus corpos nus do frio enquanto participavam de ritos ao ar livre. King disse que consistia em ‘óleo de urso’, mas eu tenho minhas dúvidas. Por acaso existem ursos em New Forest ? Parece mais provável que se trate de ‘óleo de javali’, em outras palavras, banha de porco, que era o excipiente normal para as pomadas medicinais à qual se misturava normalmente benjoim para melhorar o cheiro e para que se conservasse melhor.
O uso da erva mata-moscas associa a prática desse coven diretamente com o antigo xamanismo do norte da Ásia, a região de onde vem a palavra "xamã". Essa erva parece ter uma relação tradicional com a palavra Faery. Em quase todos os livros de contos de fadas se encontrará em suas páginas o desenho de um cogumelo de cores vistosas, com seu chapéu vermelho com pontos brancos. Não é mais tão comum como deve ter sido há séculos, devido ao aumento da urbanização do campo, porém se pode encontrar nas áreas silvestres.
O mundo mágico das fadas é o mundo das almas dos mortos pagãos, dos espíritos da natureza e dos deuses pagãos. Isso se manifesta claramente na mitologia celta das ilhas britânicas e da Europa em geral. Também é o mundo do Povo Pequeno, composto pelas raças misteriosas que ocupavam o país antes da chegada dos invasores e colonizadores celtas. Eram escuros e de estatura pequena, embora não tão pequenos e diferentes dos humanos que não pudessem casar-se com os recém chegados. Eram o misterioso e as vezes perigoso Povo Pequeno, dono de uma herança local de magia.
Como uma cultura sucede a outra, os deuses e as deusas que eram personificações dos poderes primordiais continuaram a ser venerados, mas com ritos diferentes, simplesmente porque esses poderes são primordiais: vida, fertilidade, morte e o que há no além. A igreja cristã construiu seus santuários sobre lugares pagãos sagrados. Sua festividade central, a Páscoa, tomou seu nome de Eostre ou Ostara, a deusa pagã da primavera. O festão dos druidas, todavia, adorna nossas casas no Natal. A véspera celta de Samhain se converteu na véspera de todos os santos, ou Hallowe’en. O folclore pode proporcionar dezenas de exemplos parecidos nos quais a religião do país se converte, literalmente, na sabedoria popular.
O culto aos deuses antigos nunca morreu, simplesmente passou à clandestinidade ou mudou de forma e aqueles que uma vez foram seus sacerdotes e sacerdotisas na época dos anglo saxões começaram a ser chamados de bruxos e bruxas.
Publicado por Doreen Valiente em Witchcraft for Tomorrow [pg 23 a 35-NB], trad. por Mario Martinez.
Fonte: Espiralando [link perdido]
Os homens da igreja e outros autores que denunciaram a bruxaria e suas práticas pagãs descreveram em seus livros duas deidades que, segundo eles, as bruxas e bruxos renderam culto em lugar do deus cristão. São a figura com chifres, parte humana e parte animal, que se sentava no trono dos covens e Sabás fracamente iluminada pelas chamas de uma fogueira ritual, enquanto os bruxos e bruxas dançavam ao seu redor, e, ao seu lado, uma formosa mulher nua que era considerada a rainha do coven, provavelmente porque representava e personificava Diana, a deusa da lua, ou sua filha Aradia. Ambas as figuras centrais do culto, que na prática eram seres humanos presidiam as danças selvagens e orgíacas em determinadas datas tradicionais do ano, festas sazonais tão antigas que ninguém sabia quando começaram. Estes são os aspectos centrais do culto da bruxaria segundo o testemunho de várias testemunhas hostis.
Ambas as divindades, o deus com chifres e a deusa nua, podem ser encontradas nas pinturas das cavernas e nos relevos de nossos antepassados pré-históricos na Europa ocidental. O deus de chifres também aparece na arte religiosa das cidades pré-arianas do vale do Indo, Mohenjo-Daro e Harappa. Ele aparece, muitas vezes descrito pelos antigos autores quando se referem às abominações da bruxaria, inclusive com o detalhe de portar uma tocha entre os chifres. Acredita-se que a civilização dessas antigas cidades da Índia datam do terceiro milênio A.C.
A imagem de uma cabeça com uma luz entre os chifres sobreviveu no culto secreto tântrico da Índia até nossos dias. O Mahanirvana Tantra, que descreve o culto da deusa suprema Adya Kali, mediante o ritual Panchatattva, e que inclui a oferenda de vinho, carne, pescado, cereal e a cópula sexual dentro de um círculo consagrado, nos fala da imolação de um animal macho com chifres que tinha de ser sacrificado à deusa. O animal era decapitado com um certeiro golpe da faca cerimonial e em seguida oferecia-se a cabeça cortada, com uma luz entre os chifres, com as palavras: "Com uma luz sobre ela, ofereço esta cabeça a Devi com obediência".
Antes de acusar os tântricos de crueldade com os animais, devemos ter em conta o fato de que acreditam que através desse ato o animal sacrificado fica liberto da escravidão de sua vida como animal, permitindo que ele regresse num estado mais elevado de existência. Para isso se reza uma oração especial diante do animal antes de sacrificá-lo. Não seria muito arriscado imaginar que o animal sacrificado representa na verdade a divindade pré-histórica com chifres da Índia pré-ariana. Muitos comentaristas das escrituras, chamadas Tantras, tem sugerido que elas incluem idéias religiosas consideravelmente antigas, embora a forma em que chegaram a nossos dias tenha vindo dos brâmanes e dos budistas segundo suas idéias, muito posteriores.
Mais longe para o Oriente, encontramos temíveis deuses com chifres na arte tibetana, nepalesa e territórios adjacentes e, embora apareçam num contexto budista, evidentemente são o resultado de uma adaptação para adequarem-se a essa religião. A mais notável dessas divindades, representada tanto por estátuas como em cilindros maravilhosamente coloridos pendurados nas paredes chamados tankas, é Yamantaka, que algumas vezes aparece com a cabeça de um touro e outras com os enormes chifres de um yaque tibetano. Yamatanka está ladeado por sua homóloga feminina, chamada sua prajna ou ‘sabedoria’, que aparece rodeada por uma aura de chamas. Apesar de sua aparência terrível, os budistas não o consideram um ser maligno, mas uma das deidades que atuam como guardiões da religião budista, a quem também chamam de "Destruidora da Morte".
O fato de que essa deidade foi venerada e invocada pelos seguidores da religião pré-budista nos fornece uma chave sobre sua verdadeira origem e antiguidade. Essa religião, de um tipo muito mais primitivo, estava relacionada com a magia e com os espíritos e deuses da natureza, e provavelmente derivou do antigo xamanismo das remotas religiões da Ásia, como o norte da Mongólia e do Tibet. Idries Shah em seu livro Oriental Magic, inclui uma invocação dos magos-sacerdotes Bon. Devido à invasão comunista chinesa do Tibet temos que falar das tradições tibetanas no passado, mas é muito possível que em alguns bosques remotos ou vales montanhosos se continue rendendo culto a Yamantaka, do mesmo modo que os bruxos seguiram rendendo culto clandestinamente a seus antigos deuses pagãos depois da entrada violenta do cristianismo na Europa.
Na Europa, a versão mais conhecida do deus de chifres é Pan. Era a divindade dos fazendeiros e dos pastores de Arcádia, a região mais rural da antiga Grécia. Embora mais primitiva que as sofisticadas deidades do Monte Olimpo, Pan era muito querido pelos camponeses como portador da fertilidade. Encarnava a força vital da natureza e era conhecido como Panphage, Pangenetor, "que a tudo devora", "que a tudo engendra". Também o deus Osíris do Egito era símbolo da força vital que retorna, e ao mesmo tempo, o deus da morte e do além. Para os antigos pagãos, a vida e a morte eram duas faces da mesma moeda.
Quando estava ofendido, Pan podia inspirar terror e nossa palavra "pânico" deriva do seu nome. A natureza é majestosa e inspiradora, mas as vezes é terrível. A palavra Pan também significava "todo". Algumas representações de Pan o mostram como um deus universal, motivo do seu corpo ser metade humano e metade animal. A pele de cervo que traz pendurada nos ombros representa as estrelas do céu. Seus cabelos emaranhados simbolizam os bosques e as matas. Seus poderosos cascos são a força das rochas. Seus chifres são raios de luz, enquanto que sua flauta de sete canas com a qual toca a melodia mística da vida, encantando a todos os que a ouvem, é o símbolo do governo dos sete astros celestiais, o sol, a lua e os cinco planetas visíveis. Na arte sagrada oriental existem representações parecidas do deus Krishna, cuja aparição em sua forma universal se descreve vividamente no Bhagavad Gita.
Os adeptos da bruxaria na Tessália, na antiga Grécia, rendiam culto ao deus Pan. Se dizia que era o amante secreto da deusa lunar Artemisa, a versão grega de Diana. Convocava seus seguidores a virem nus em seus rituais à luz da lua, igual ao que séculos mais tarde os bruxos e bruxas faziam, dançando nus nos covens.
Como aconteceu com muitos outros deuses e deusas, os romanos herdaram Pan dos gregos. O chamaram Faunus ou Silvanos. Seu povo eram os sátiros e as ninfas do bosque, personificações da vida oculta da natureza. Para eles o animal sagrado era a cabra, que mais tarde se converteria no cabrito do coven. Para os primeiros cristãos, que pensavam que este mundo tinha perdido a graça e era a morada do pecado, sua inesgotável alegria e falta de vergonha resultavam, naturalmente, repugnantes e por isso se adotou o modelo sobre o qual se criou o Satã de chifres e rabo. Os estudiosos das religiões comparadas conhecem muito bem a evolução que transformou o deus da antiga fé no diabo da nova.
Os budistas, como vimos, foram muito mais sutis com os primitivos deuses de chifres de seus países. Em vez de declarar que eram demônios, os incorporaram à religião como guardiões da fé.
A versão celta do deus Pan foi Cernunnos, que significava ‘o cornífero’. Esse nome foi descoberto num altar dedicado a ele, encontrado sob a catedral de Notre Dame e que agora se conserva no museu de Cluny, em Paris. Provavelmente, o santuário da nova religião foi construído sobre o que antes era um local sagrado pagão.
Outras representações famosas do deus Cernunnos são a estátua da época galo-romana que se encontra no Museu de Reims e a encontrada no esplêndido caldeirão de prata conhecido como Caldeirão de Gundestrop, achado numa turfeira da Dinamarca em 1891. A primeira, que faz parte de um grupo de estátuas evidentemente romanas, mostra Cernunnos com Apolo e Mercúrio, mas ele é a figura mais importante e aparece em sua representação característica, sentado com as pernas cruzadas, semelhante ao seu protótipo do Vale do Indo. A figura no Caldeirão de Gundestrop aparece de modo semelhante, rodeada por uma viva representação de vários animais, talvez para denotar que ele é uma espécie de espírito dominante da natureza. Apesar de ter sido descoberto na Dinamarca e na atualidade se encontrar no Museu Nacional de Copenhague, essa magnífica obra de arte celta data do século I ou II A.C.
Em uma caverna de Val Camonica, na Itália, encontramos um estranho desenho, mais tosco e antigo que as representações anteriores, que data do século III ou IV AEC. Nele aparece Cernunnos como figura dominante, coroado com chifres de cervo e ataviado com um grande vestido. Diante dele, um homem nu levanta os braços em invocação, rendendo-lhe culto. Nos braços, o deus leva dois braceletes ou torques que aparecem muitas vezes em outras representações e que provavelmente simbolizam riqueza. Ao seu lado há uma estranha criatura que também aparece no Caldeirão de Gundestrop, uma serpente com chifres, talvez um símbolo fálico.
Quando Margaret Murray escreveu sobre Cernunnos em seu livro The God of the Witches [O Deus das Bruxas-NB], declarou que grande parte do que sabemos sobre o deus de chifres nas ilhas britânicas vem de registros escritos por monges e sacerdotes, pois as pessoas comuns que lhe rendiam culto eram analfabetas e não deixaram testemunhos escritos. Desde então se tem encontrado muitas representações de Cernunnos na Grã-Bretanha e sem dúvida o deus chifrudo celta foi invocado e venerado nestas ilhas, como na Gália e qualquer outro lugar da Europa Ocidental. A explicação de Margaret Murray da bruxaria como sobrevivência clandestina da antiga religião pagã fica, assim, confirmada por essas provas.
Da antiga Idade da Pedra até a Bretanha celta, da Tessália ao Tibet, a prova dos antigos testemunhos demonstra a universalidade e persistência da figura arquetípica do deus com chifres como espírito ativo da vida. Poderíamos incluir mais provas, como por exemplo, o deus primordial egípcio Khnum que aparece com a cabeça e chifres de um carneiro no ato de criar dando forma ao ser humano sobre uma roda de oleiro, ou o deus supremo dos antigos egípcios, Amon, que as vezes vemos representado como um carneiro exaltado sobre um santuário ou altar e coroado com os atributos de sua realeza.
Que importância tem essas duas figuras de culto, o deus de chifres e sua consorte, a deusa da lua, para que entre todas as divindades pagãs sobrevivessem como deidades da bruxaria?
Penso que a resposta se encontra em sua natureza primordial. Tanto o deus de chifres quanto sua consorte a deusa nua - essa algumas vezes representada sozinha e outras em sua forma tripla - se encontram, como foi dito antes, na arte sagrada mais antiga do ser humano, em seus mais remotos santuários, as cavernas da Idade da Pedra. A forma tripla da deusa está relacionada com as três fases da lua, crescente, cheia e minguante, cuja relação com a fertilidade humana é vital, pois o ciclo menstrual de vinte e oito dias coincide com a duração do mês lunar, um fato que sem dúvida o homem primitivo observou. Alguns arqueólogos acreditam que as representações e marcas deixadas pelos homens primitivos da Idade da Pedra são observações e reconhecimentos das fases lunares, a primeira tentativa de conhecer a astronomia e a formação de calendários.
A virilidade dos grandes animais corníferos, o cervo e o bisonte, dos quais dependia a sobrevivência do ser humano em sua fase de caçador, a beleza e mistério da luz da lua, a medida do tempo e a regulagem das marés, tanto da água quanto dos ciclos femininos, constituíam aspectos primitivos porém fundamentais, e os pagãos que renderam culto ao divino que se manifestava na natureza, os personificaram na primeira divindade que conhecemos.
Compreenderam, como os povos do Oriente continuam fazendo, a interação das forças opostas, embora complementares, sem as quais nenhuma manifestação poderá ter lugar. No antigo sistema de adivinhação chinês conhecido como o I Ching o Livro das Mutações, esses poderes fundamentais se chamam yin e yang. O yang representa o poder ativo e masculino, e o yin o feminino e passivo.
Segundo esse venerável tratado, um dos livros mais antigos do mundo, todas as coisas surgem dessa polaridade básica entre o yin e yang e sua interrelação, enquanto que sua união forma o símbolo conhecido como Tai Chi, o Absoluto, a última realidade. Sua representação gráfica consiste em um círculo dividido por uma linha curva em duas partes iguais, uma escura e outra clara.
A Cabala hebraica, que segundo seu tradutor S.L. MacGregor Mathers procede em última instância do antigo Egito, mostra uma idéia basicamente similar em seus pilares da Beleza e da Harmonia. O pilar da Misericórdia está coroado por Chokmah, o princípio arquetípico masculino, e o pilar da Severidade por Binah, o arquétipo feminino, enquanto que o pilar do meio está adornado por uma coroa mais alta, o divino brilho branco de Kether, a primeira emanação.
O simbolismo se perpetuou nos Pilares Gêmeos da maçonaria, Jachin e Boaz, que se elevam de ambos os lados do templo de Salomão. Na verdade, representam essa polaridade fundamental e divina que existe em toda a natureza, os dois opostos cuja união constituem a Grande Obra simbólica da alquimia. No simbolismo alquímico essa polaridade também é representada pelo sol masculino e a lua feminina.
O simbolismo é a linguagem natural da mente que manifesta a importância psicológica de nossos sonhos. O grande pioneiro nesse estudo foi Carl Gustav Jung, psicólogo que começou como discípulo de Sigmund Freud, mas logo superou as limitações que encerravam as opiniões materialistas de seu mestre. Jung descobriu que os seres humanos não só tem uma mente inconsciente individual, mas que em níveis mais profundos estão em contato com o inconsciente coletivo da raça. Nesse inconsciente encontram-se imagens cheias de um significado que se manteve guardado ali, inclusive desde que o ser humano surgiu no planeta.
É possível que Jung somente redescobriu o que os hierofantes dos antigos cultos dos mistérios já sabiam muito bem. Essa opinião encontra-se corroborada na declaração do Livro Tibetano dos Mortos, o Bardo Thodol, que trata não apenas dos estados posteriores à morte, mas de outras formas de transpor o véu da matéria, e ensina aos seus leitores atentos que tudo o que existe e todas as deidades, tanto pacíficas como hostis, surgiram de suas próprias mentes. No inconsciente coletivo da humanidade habitam, portanto, as imagens eternas dos deuses.
São a personificação das forças da natureza e modificações do casal primordial, o Pai e Mãe universais. No antigo Egito, todos os deuses e deusas múltiplas eram formas diversas do deus mais importante, Amon, cujo nome significa ‘o Oculto’, e de sua consorte feminina, Amoneth (ou Mut). Nos templos da Índia, o símbolo sagrado é o lingam-yoni, uma representação formalizada do falo do homem e da vagina da mulher, que não só simboliza a sexualidade humana mas a interação da força da vida em todas as suas formas.
Na Grã-Bretanha pré-histórica, os grandes templos neolíticos de Stonehenge e Avebury mostram a mesma polaridade simbólica, mas de uma forma mais sutil e austera. No mais antigo, o de Avebury, as enormes pedras são de formas alternadas, um pilar fálico alto e uma pedra mais baixa com uma forma mais ou menos romboidal, que expressam respectivamente um significado masculino e feminino. Duas das maiores são conhecidas atualmente como ‘Adão e Eva’. Em Stonehenge, temos o grande círculo, o útero receptivo, enquanto que na avenida externa se encontra a Pedra Hele, um menir fálico em cujo topo o sol do amanhecer parece pousar até o solstício de verão. Uma versão menor dessa disposição pode ser contemplada nas Pedras Rollright nos Montes Cotswolds, onde a alta Pedra do Rei se ergue fora de um círculo de pedra e está associada com lendas locais de bruxaria e de magia da fertilidade.
A escritora de ocultismo Dion Fortune (1891-1946) compreendeu o verdadeiro significado dos deuses antigos e seu papel arquetípico no inconsciente coletivo. Em suas obras se repete com freqüência a frase: "Todos os deuses são um e todas as deusas são uma, e só há um iniciador". O iniciador único é o próprio eu superior que se integra cada vez mais na personalidade conforme avança no caminho da evolução espiritual. É a que se referiu Buda quando falou a seus discípulos de "utilizar o Eu como uma lâmpada".
Dion Fortune escreveu uma série de notáveis novelas ocultistas, das quais duas em particular, The Goat-Foot e The Sea Priestess, são relevantes para o assunto que tratamos, pois a primeira aborda os poderes do deus cornífero e a última os da deusa da lua. Em ambos os livros se fala do deus com chifres como Pan e da deusa da lua como Ísis, mas fica claro que ambas as deidades são de caráter universal.
O conhecimento esotérico dessas estórias (para os que sabem ler entre linhas há muito) se desenvolve a partir de seu tratado sobre a tradição esotérica ocidental, The Mystical Qabalah. Nesse livro, Dion Fortune, que era uma iniciada nessa tradição, aborda a natureza real dos deuses como "imagens mágicas" não plasmadas em pedra ou madeira, mas configuradas por pensamentos da humanidade a partir da substância do plano astral que recebe a influência das energias da mente. Por isso se refere a isso, na falta de algo melhor, como "matéria-mental". Ela cita esses versos do poeta Swinburne:
Nenhum pensamento humano fez os deuses amar ou honrar,
Até que surgiu a canção dentro da alma muda,
Nem pode a terra desafiar o céu, de fato ou em sonhos,
Até que o mundo estampou a fala nos lábios do homem.
O que o grande psicólogo Jung descobriu mediante uma paciente investigação e reflexão, o poeta soube intuitivamente e os desconhecidos autores do Livro Tibetano dos Mortos souberam muito antes. Os deuses e as deusas são personificações dos poderes da natureza ou, talvez devêssemos dizer, do mundo sobrenatural, os poderes que governam e criam a vida do nosso universo, tanto o manifesto quanto o oculto. Em outras palavras, vivemos sobre um plano de formas sobre o qual existe um plano de forças em que se movem os deuses, porque personificando essas forças como deuses podemos estabelecer uma relação com eles.
Além disso, quando essa imagem mágica é desenvolvida e fortalecida durante o transcurso de séculos de ritual e culto, se converte em algo poderoso em si mesmo porque se obtém uma alma naquilo que é personificado. A forma pode começar como imaginação, mas quando o que personifica é real, a imaginação se converte numa realidade na faculdade criadora da imagem. Cada imagem artística deve primeiro ser percebida na mente do artista, em sua imaginação. Uma forma de pensamento subjetiva concebida por uma pessoa pode ser efêmera, mas as formas de pensamento de um povo é assunto diferente. Como Jung demonstrou, alguns conceitos como o da "Grande Mãe, o do "Ancião Sábio" e a "Criança Divina" são tão universais que os chamou de arquétipos, idéias formais que habitam no inconsciente coletivo da humanidade e que aparecem em visões e sonhos, incluindo as dos artistas.
As visões, tanto espontâneas como as induzidas, sempre jogaram um papel muito importante na experiência religiosa. As visões espontâneas surgem em forma de sonhos significativos ou experiências espirituais, essas últimas as vezes manifestando tal força que podem mudar a vida inteira de uma pessoa. As visões induzidas podem apresentar-se depois da entrada num estado de transe ou de êxtase. Esses estados e as diversas técnicas empregadas para induzi-los constituem um dos aspectos básicos de todas as religiões do mundo, desde as mais primitivas as mais sofisticadas. A palavra êxtase vem do grego ektasis, que significa sair temporariamente fora de si mesmo, romper os laços com o próprio mundo cotidiano e entrar em outro estado de ser. O homem extático mais antigo e primitivo é o xamã.
Provavelmente o xamanismo foi a forma mais primitiva de religião em todo mundo. Em seu ensaio sobre o tema, Shamanism: Archaic Techniques of Ectasy, Mircea Eliade define o xamanismo como "técnica do êxtase". O xamã - palavra que nos foi legado do russo, mas que parece ter sua origem nos dialetos do norte da Ásia - pode ser um homem ou uma mulher e sua função consiste em comunicar-se com os espíritos, tanto humanos como não humanos, e praticar todo tipo de magia, mas sua característica principal são os "vôos mágicos" que o levam a outros reinos do ser de onde volta com informação. A relação entre essa idéia e o suposto poder mágico das bruxas para voar, seja sobre uma vassoura tradicional ou outro tipo qualquer de bastão, é bastante óbvia.
Os meios pelos quais se levavam a cabo essas viagens ou vôos - e que continuam sendo praticados por xamãs contemporâneos como o mestre Carlos Castanheda, Don Juan Matus - consistiam quase sempre na ingestão de alguma droga alucinógena derivada de plantas ou cogumelos. Os xamãs do norte da Ásia usavam a Amanita muscaria que cresce em toda a Europa do norte e ocidental assim como nas ilhas britânicas. Atualmente se escreveu muito sobre essa planta e se tem investigado profundamente os efeitos desta e de outros alucinógenos naturais. Como resultado, os investigadores estão começando a revisar com olhos totalmente novos as descrições registradas da bruxaria européia, com seus ungüentos e conhecimento tradicional de ervas.
Outro meio para induzir o êxtase xamânico é uma dança frenética e ritmada, o tipo de baile que constituía um dos aspectos característicos dos covens. O xamã, em estado de êxtase, "encontra-se com os deuses", quer dizer, entra no plano além do véu da matéria, seja o plano astral ou o inconsciente coletivo.
Conscientes disso tudo, podemos ler com uma nova luz a famosa passagem que aparece nas primitivas leis canônicas da igreja cristã e que vem de re-compilações que datam do século X da nossa era:
Algumas mulheres malvadas, pervertidas pelo Diabo e seduzidas por ilusões e fantasmas de demônios, acreditam e, asseguram elas mesmas, que nas horas noturnas cavalgam sobre animais com Diana, a deusa dos pagãos, ou com Herodías, e uma multidão de mulheres atravessam no silêncio da noite os grandes espaços da terra e obedecem suas ordens como se fossem sua ama, e se congregam a seu serviço em determinadas noites.
Outros relatos de antigos autores falam de fantásticos covens ou Sabás durante os quais aparecia o próprio Diabo de chifres e cascos, rodeado por aparições espectrais de todo tipo. Isso, na verdade, se converteu num dos temas favoritos dos artistas, e alguns pintores, sobre tudo Hans Bandung, David Teniers, Frans Francken e Goya, se especializaram em descrevê-los, enquanto que o compositor Moussorgsky abordou musicalmente o mesmo tema em sua Night on the Bare Mountain com êxito considerável.
Esses covens visionários devem distinguir-se dos relatos das verdadeiras reuniões, que eram muito mais sóbrias e não tinham nada que não pudesse ser contado com naturalidade, tendo em conta que o ator principal, o suposto "Diabo", era simplesmente um homem vestido com uma máscara com chifres e peles de animais, igual ao dançarino mascarado que os artistas da Idade da Pedra desenharam na Caverne dês Trois Frères, em Ariège, França.
Existem também muitos relatos de investigadores antigos sobre confissões de bruxas nas quais asseguravam ter comparecido pelo ar a fantásticas e frenéticas reuniões e depois voltado da mesma maneira para suas casas. Esses relatos sempre contam a mesma história, ou seja, que a bruxa foi vista ungindo-se completamente nua com algum ungüento misterioso, e depois caindo num transe durante um tempo determinado em um sonho profundo, para no final despertar para contar suas aventuras no coven. As vezes, nos contam, as bruxas de mentalidade bastante simples se negavam a crer na explicação dos observadores de que na verdade não haviam estado voado pelo ar. (Apesar de falar de mulheres, nessas histórias se falam também de bruxos).
Diante de todas essas provas poder-se-ia pensar que os caçadores de bruxas tinham se dado conta de que se tratava do ungüento e não de Satã quem transportava as bruxas e bruxos no vôo, especialmente quando esses ungüentos incluíam ingredientes descritos por Giovanni Battista Porta em seu livro Magiae Naturalis. O fanatismo daqueles homens era tanto que negaram a possibilidade de que os ungüentos tivessem esse efeito e insistiram em atribuir tudo à intervenção de Satã nos problemas humanos. Esse aspecto é mostrado, com evidente aprovação, em History of Witchcraft and Demonology do intolerante Montague Summers.
Desde que Montague Summers escreveu seu livro, certamente erudito porém absolutamente parcial, os tempos mudaram. Por exemplo, dispomos de um simpósio interessante entitulado Hallucinogens and Shamanism, editado por Michael J. Harner, que inclui uma seção chamada "O papel das plantas alucinógenas na bruxaria européia", escrito pelo próprio Harner, que é professor assistente de antropologia da faculdade de New School for Social Research. Harner observa que as plantas tradicionais estudadas por Porta e outros como ingredientes na composição dos ungüentos das bruxas são as solanáceas, um gênero de plantas que incluem, junto a espécies tão humildes e conhecidas como a batata, o tomate e o tabaco, ervas perigosas e alucinógenas como o estramônio (Datura Stramonium) , o baleño (Hyoscyamus Níger), a mandrágora e a beladona (Atropa belladonna). Afirma que se encontram variedades dessas plantas por toda a Europa e América, e que os povos primitivos atuais continuam empregando-as em suas práticas xamãs.
Um fato particularmente interessante observado por Harner e seus colegas refere-se a que os povos que usam plantas alucinógenas, seja em forma de beberagem seja como ungüentos para fazer uma "viagem", tendem a ver as mesmas coisas em suas visões, dependendo do meio cultural em que vivem. Em outras palavras, os povos que tomam essas drogas estarão fortemente influenciados nas visões e experiências que parecer ter por suas idéias e crenças, e pela natureza das circunstâncias em que tomam a droga, o ambiente que os rodeia, etc.
Assim, os índios da América do Sul podiam ver em seus transes xamãs aos deuses pagãos tribais em que acreditavam, enquanto que os índios que tinham incorporado as influências dos missionários cristãos contemplavam símbolos cristãos misturados com os pagãos.
Algumas visões parecem ser características de certas drogas. A esse respeito, Harner observa a experiência do doutor Will-Erich Peukert, da universidade de Gottingen, Alemanha, que recentemente experimentou uma receita do século XVII para preparar uma pomada das bruxas ou "ungüento voador" e viveu um transe que durou vinte e quatro horas, durante as quais lhe pareceu participar das sinistras orgias dos lendários covens. A receita continha beladona, beleño e estramônio.
Outra característica encontrada em muitos lugares a partir das declarações de muitos testemunhos, é a sensação experimentada durante o efeito das drogas xamãs, de que a alma ou a mente se separam do corpo físico e voa pelo espaço para assistir cenas que ocorrem em locais distantes ou em alguma dimensão diferente. Tudo isso é bastante estranho para os antropólogos, especialmente quando índios que nunca viram uma cidade do homem branco ou um carro, afirmam visitar essa cidade em transe e perguntavam o que eram aquelas coisas estranhas que viajavam tão rápido pelas estradas. Para os ocultistas que conhecem o conceito da projeção astral, quer dizer, a faculdade do corpo astral separar-se do físico e viajar para outras dimensões do ser, a explicação é natural.
Harner comenta que os eruditos e os membros atuais dos covens de bruxaria em geral, fracassaram na hora de compreender a grande importância das plantas alucinógenas na bruxaria européia dos tempos antigos. Entretanto, até onde eu sei, isso não é assim nos covens modernos, apesar dos que possuem informação prática sobre esses assuntos geralmente preferirem manter um segredo absoluto. Adquiriram seu conhecimento das antigas fontes tradicionais mais do que desses "bruxos" e "bruxas" modernos que buscam publicidade nos meios de comunicação, e avisam que essas substâncias alucinógenas são perigosas, tanto as plantas quanto os cogumelos. Não querem assumir a responsabilidade de incentivar as pessoas imprudentes a experimentar o que poderia ter resultados fatais. Gostaria também de dizer aqui que, a menos que se tenha um conhecimento especializado ou se disponha de um guia a respeito disso, as experiências práticas com elas são muito insensatas.
Já me referi à história contada por Francis King em Ritual Magic in England e que provém do seu amigo Louis Wilkinson, do coven sobrevivente de New Forest no qual foi originalmente iniciado. King afirma que esse coven utilizava o cogumelo chamado mata-moscas como alucinógeno, ingerindo-o oralmente em doses muito pequenas. Também usavam um ungüento, mas se tratava de uma substância oleosa para proteger seus corpos nus do frio enquanto participavam de ritos ao ar livre. King disse que consistia em ‘óleo de urso’, mas eu tenho minhas dúvidas. Por acaso existem ursos em New Forest ? Parece mais provável que se trate de ‘óleo de javali’, em outras palavras, banha de porco, que era o excipiente normal para as pomadas medicinais à qual se misturava normalmente benjoim para melhorar o cheiro e para que se conservasse melhor.
O uso da erva mata-moscas associa a prática desse coven diretamente com o antigo xamanismo do norte da Ásia, a região de onde vem a palavra "xamã". Essa erva parece ter uma relação tradicional com a palavra Faery. Em quase todos os livros de contos de fadas se encontrará em suas páginas o desenho de um cogumelo de cores vistosas, com seu chapéu vermelho com pontos brancos. Não é mais tão comum como deve ter sido há séculos, devido ao aumento da urbanização do campo, porém se pode encontrar nas áreas silvestres.
O mundo mágico das fadas é o mundo das almas dos mortos pagãos, dos espíritos da natureza e dos deuses pagãos. Isso se manifesta claramente na mitologia celta das ilhas britânicas e da Europa em geral. Também é o mundo do Povo Pequeno, composto pelas raças misteriosas que ocupavam o país antes da chegada dos invasores e colonizadores celtas. Eram escuros e de estatura pequena, embora não tão pequenos e diferentes dos humanos que não pudessem casar-se com os recém chegados. Eram o misterioso e as vezes perigoso Povo Pequeno, dono de uma herança local de magia.
Como uma cultura sucede a outra, os deuses e as deusas que eram personificações dos poderes primordiais continuaram a ser venerados, mas com ritos diferentes, simplesmente porque esses poderes são primordiais: vida, fertilidade, morte e o que há no além. A igreja cristã construiu seus santuários sobre lugares pagãos sagrados. Sua festividade central, a Páscoa, tomou seu nome de Eostre ou Ostara, a deusa pagã da primavera. O festão dos druidas, todavia, adorna nossas casas no Natal. A véspera celta de Samhain se converteu na véspera de todos os santos, ou Hallowe’en. O folclore pode proporcionar dezenas de exemplos parecidos nos quais a religião do país se converte, literalmente, na sabedoria popular.
O culto aos deuses antigos nunca morreu, simplesmente passou à clandestinidade ou mudou de forma e aqueles que uma vez foram seus sacerdotes e sacerdotisas na época dos anglo saxões começaram a ser chamados de bruxos e bruxas.
Publicado por Doreen Valiente em Witchcraft for Tomorrow [pg 23 a 35-NB], trad. por Mario Martinez.
Fonte: Espiralando [link perdido]
O Deus Gamo ressurge
Com danças e cantos, eles invocam ritos de fertilidade e a terra passa a produzir mais. Conseguem acalmar o mar. Praticam rituais milenares, mas garantem que só agem para o bem. São os feiticeiros da Ilha de Man, Inglaterra. A cada dia que passa esses cultos recebem mais adeptos. A força dos feiticeiros é tão grande que eles agiram, em outros tempos, sobre Napoleão. E recentemente contra Hitler que representava o mal personificado. A Inglaterra tem tradição em matéria de feitiçaria. Alguns reis, como Eduardo III, teriam sido iniciados em cultos secretos.
As civilizações são, certamente, mortais. Seus corpos profanos, sob a forma de cacos deteriorados e de paredes desmoronadas, apodrecem e ressecam-se sob as areias da história. O que sucede, entretanto, com suas almas? Com o que essas civilizações acreditavam ser sagrado? A etnologia moderna pretende demonstrar que não existe crepúsculo para os deuses – apenas eclipses... Todas as religiões conquistadoras supõem ter assimilado ou destruído as que as precederam. Na verdade, mal lhes fazem sombra. Atualmente, o cristianismo deve assumir sua lenta e difícil mutação econômica. Precisa apelar a todas as suas forças vivas, mesmo às que continuaram a existir, simbolicamente, entre os bárbaros. E eis que descobrimos que o paganismo ainda não morreu: o Deus de Chifres dos antigos gauleses, deus dos pastores nômades, da vida animal e da vida humana (que são a mesma vida) e de um mundo sempre novo e jovem, jamais ameaçado por qualquer fim ou destruição, ressuscita. Isso acontece hoje na Grã-Bretanha céltica e, é bem possível, ainda em outros lugares.
Eu quis ver o fenômeno de perto. Tomei um avião. Desembarquei num aeroporto parecido com qualquer outro aeroporto moderno. E fui recebido pelo Deus de Chifres. Ou, pelo menos, por seus Sacerdotes e Sacerdotisas, o que é a mesma coisa. Foi na Ilha de Man, no mar da Irlanda, em Castletown, pequeno porto da costa sul, na região dos celtas, entre a Escócia, Irlanda e a Bretanha. A ilha se parece com qualquer outra ilha: podemos visitá-la como meros turistas. Mas observem bem ao seu redor e, se usarem seu terceiro olho – o que permite que descubra o invisível, perceberão que os gatos não têm cauda, que os carneiros têm quatro chifres e que o verdadeiro rei, um gigante, dorme sob uma montanha há milhares de anos esperando o cavaleiro que encontrará o caminho subterrâneo para ir acorda-lo. Os pagãos de boa vontade chegam a ouvi-lo respirar. Interroguei os renovadores do antigo culto, assisti a suas cerimônias, participei delas, recolhi testemunhos. Ainda estou desconcertado.
De onde vêm os feiticeiros?
A Meca do novo paganismo chega realmente a surpreender. Imaginemos uma casa com aparência de cenário de papelão para um filme de terror - um moinho repleto de estranhos objetos usados que é chamado de museu e, enfim, um pequeno bar-restaurante que nunca chega a ficar totalmente vazio. Todo o conjunto pertence ao Sr. e Srª. Wilson. A Srª Wilson é celta, nascida em Ouessant. É baixa, morena, esperta, inteligente e enérgica. Ela é a grande Sacerdotisa. Seu marido é tão celta quanto ela, pois é escocês. É alto e belo. Compartilha de todas as convicções de sua esposa. É, portanto, um witch.
Em português, witch só pode ser traduzido por feiticeiro ou feiticeira. Na verdade, o witch não é bem isso. Basta fazermos algumas considerações etimológicas para chegarmos a essa conclusão. Em francês, o vocábulo sorcier (feiticeiro) aparece pela primeira vez no século 12. A palavra latina sorcerius, da qual deriva este vocábulo, já era usada quatro séculos antes e sua raiz, sors, designa o conjunto de práticas mágicas de adivinhação, e, portanto, por extensão o paganismo. Na Idade Média, os feiticeiros eram adoradores do Diabo. Mas não se tratava aí, do Satã das Escrituras, do Lúcifer expulso do paraíso. O inimigo medieval do Deus cristão tem chifres e pés bifurcados: é o antigo deus celta. A bruxaria da França medieval, e até o século XVII, apresenta, portanto duas formas distintas: a vontade deliberada do sacrilégio para com a religião nova e oficial e a permanência desesperada da religião antiga e “derrotada”. Ora, a mesma confusão não existe na Inglaterra, pelo menos semanticamente: sorcerer e sorcery estão ligados a mesma origem latina e significam o sacrilégio voluntário, as missas negras e as trevas do cristianismo.
Mas o que significam witch e witchcraft? Witch vem do saxão wica que deu na palavra wise que significa sábio. E qual é a origem da palavra wica? E, alemão witz quer dizer espírito e weise quer dizer sábio. Todas essas palavras têm seus correspondentes em sânscrito e em grego antigo: em sânscrito é a palavra veda (a ciência por excelência, o mais alto grau de conhecimento), e em grego é oida (eu sei), da esma família lingüística à qual pertence a palavra idéia. Talvez druida seja uma melhor tradução para witch. Terá havido uma filiação consciente de antigas tradições mágicas e religiosas? Assisti a algumas cerimônias – e elas me lembraram tanto as descrições de caças às bruxas medievais quanto certas pinturas pré-históricas. Lembro-me de Monique Wilson, esta mulherzinha estranha, ao mesmo tempo grande, simples e bela em sua nudez que nada tinha de perverso ou de atormentador, segurar uma velha espada de seis séculos de idade e desenhar um círculo mágico ao redor do altar onde ela iria oficiar os ritos sagrados da seita, como rainha de seu coven (convento, grupo, reunião). Eu a vi diante dos outros feiticeiros que estavam no interior do círculo, tendo a sua frente o altar com os objetos sagrados (punhal e corda), destinados a “ligar o cadáver antes de sua aparição diante da morte”. Ela recitou uma misteriosa ladainha e depois, sem implorar à divindade, pediu aos assistentes que se concentrassem e que projetassem a vontade. Ela cavalga uma vassoura em torno do círculo. Não é preciso se iniciado para compreender o símbolo da vassoura cuja extremidade superior em marfim reproduz de maneira bem realista o órgão sexual masculino. Vi, então, os homens se prostrarem e beijarem aos pés da rainha.
A Rainha dos Feiticeiros
Velas e lâmpadas lançavam luzes tremulantes sobre o ambiente. O incenso tornava o ar azulado. Eu senti uma espécie de força física. Os feiticeiros da Ilha de Man são sinceros. “Nós possuímos uma religião muito antiga. Que foi praticada na Europa Ocidental antes de sua romanização. Os Deuses de Roma, e mais tarde o Deus dos cristãos, suplantaram-se largamente, mas não de todo. Ela sobreviveu clandestinamente. O tempo da perseguição acabou e a Antiga Religião está renascendo”.
Esta ressurreição não consiste somente na reconstituição mais ou menos fiel das antigas cerimônias do culto. Ela se manifesta, sobretudo pelo exercício dos poderes “mágicos”: os witches da Ilha de Man gabam-se de agir, não somente sobre o mundo material, mas também sobre os acontecimentos. Mas se defendem com veemência contra qualquer acusação de “magia negra”. Não devemos falar-lhes de feitiços maléficos, ritos diabólicos ou orgias escandalosas. Uma reportagem feita recentemente sobre eles descreveu dessa forma toda a panóplia da bruxaria clássica. Foi por esta razão que fui de início acolhido com certa resistência. Mas logo perceberam que eu era uma testemunha bem intencionada. A Srª. Wilson afirmou-me com toda naturalidade que ela realmente podia mudar o sentido do vento, fazer subir a maré ou fazer a neblina cercar a ilha, mas que jamais o fazia sem ter alguma razão muito especial para isso, sob pena de perder para sempre o seu poder.
Os Reis Dedicavam-se ao Paganismo?
Por mais que tentemos minimizar ou enegrecer os fatos, não podemos deixar de admitir que estamos diante de um estranho fenômeno. É difícil analisa-lo, pois só os que se dizem witches sabem se sua fé é sincera. É difícil explica-los. Entretanto, o culto do Deus de Chifres parece subjacente a toda história da Inglaterra. Aí houve manifestações populares semelhantes às de outros países europeus e também fatos reveladores entre a casta dirigente.
Convém citar o famoso incidente que está ligado à origem da Ordem da Jarreteira. Durante um baile oferecido em 1348, por Eduardo III, a condessa de Salisbury perdeu uma jarreteira de cetim azul e de esmeraldas, com uma fivela de diamantes negros e um rubi. O rei a encontrou e devolveu-a a condessa pronunciado o famoso “Honni soit qui mal y pense”. Por que uma jóia tão suntuosa sobre uma jarreteira que não se vê? Os historiadores discutem há mais de seis séculos esta cena enigmática. Mas eu, que vi os feiticeiros dançarem nus, reconheci, com menos riqueza, a jarreteira da condessa de Salisbury sobre a perna da rainha do coven. Os feiticeiros reivindicavam expressamente que a condessa seja um deles: o gesto de Eduardo III teria por finalidade não apenas evitar qualquer maledicência da corte, mas principalmente, salvar-lhe a vida, pois dois bispos presentes a esse baile haviam visto a jóia maldita.
Mas então, o próprio Eduardo III teria sido um iniciado? Os witches assim o afirmam. Dizem que a Velha Religião teria desempenhado importante papel na fundação da monarquia inglesa. Lembram que Roberto I, o Magnífico, pai de Guilherme, o Conquistador, sempre foi considerado por seus contemporâneos como um adepto da magia (donde seu apelido Roberto, o Diabo). Isso não impede que certas frases me tenham levado a pensar que existiam covens espalhados pelo mundo, na América, na Europa, particularmente na França. Não pude saber nada ao certo: um coven pode falar de si mesmo e se seus companheiros estiverem de acordo com isso, mas nada pode revelar sobre outros covens. É preciso esperar, portanto que os feiticeiros franceses, se é que existem, se manifestem. Não há nada de espantoso nisso. A Inglaterra está longe de possuir exclusividade das vivas tradições pré-cristãs. Os feiticeiros eruditos citam os trabalhos dos sábios folcloristas que, unanimemente admitem atualmente a origem pré-cristã da quase totalidade das tradições, costumes e ritos campesinos na França, na Inglaterra, na Alemanha e em toda a Europa.
Publicado em: Revista PLANETA – Junho 1973, n°. 10 , Editora Três, Por George Langelaan
Fonte: Espiralando
As civilizações são, certamente, mortais. Seus corpos profanos, sob a forma de cacos deteriorados e de paredes desmoronadas, apodrecem e ressecam-se sob as areias da história. O que sucede, entretanto, com suas almas? Com o que essas civilizações acreditavam ser sagrado? A etnologia moderna pretende demonstrar que não existe crepúsculo para os deuses – apenas eclipses... Todas as religiões conquistadoras supõem ter assimilado ou destruído as que as precederam. Na verdade, mal lhes fazem sombra. Atualmente, o cristianismo deve assumir sua lenta e difícil mutação econômica. Precisa apelar a todas as suas forças vivas, mesmo às que continuaram a existir, simbolicamente, entre os bárbaros. E eis que descobrimos que o paganismo ainda não morreu: o Deus de Chifres dos antigos gauleses, deus dos pastores nômades, da vida animal e da vida humana (que são a mesma vida) e de um mundo sempre novo e jovem, jamais ameaçado por qualquer fim ou destruição, ressuscita. Isso acontece hoje na Grã-Bretanha céltica e, é bem possível, ainda em outros lugares.
Eu quis ver o fenômeno de perto. Tomei um avião. Desembarquei num aeroporto parecido com qualquer outro aeroporto moderno. E fui recebido pelo Deus de Chifres. Ou, pelo menos, por seus Sacerdotes e Sacerdotisas, o que é a mesma coisa. Foi na Ilha de Man, no mar da Irlanda, em Castletown, pequeno porto da costa sul, na região dos celtas, entre a Escócia, Irlanda e a Bretanha. A ilha se parece com qualquer outra ilha: podemos visitá-la como meros turistas. Mas observem bem ao seu redor e, se usarem seu terceiro olho – o que permite que descubra o invisível, perceberão que os gatos não têm cauda, que os carneiros têm quatro chifres e que o verdadeiro rei, um gigante, dorme sob uma montanha há milhares de anos esperando o cavaleiro que encontrará o caminho subterrâneo para ir acorda-lo. Os pagãos de boa vontade chegam a ouvi-lo respirar. Interroguei os renovadores do antigo culto, assisti a suas cerimônias, participei delas, recolhi testemunhos. Ainda estou desconcertado.
De onde vêm os feiticeiros?
A Meca do novo paganismo chega realmente a surpreender. Imaginemos uma casa com aparência de cenário de papelão para um filme de terror - um moinho repleto de estranhos objetos usados que é chamado de museu e, enfim, um pequeno bar-restaurante que nunca chega a ficar totalmente vazio. Todo o conjunto pertence ao Sr. e Srª. Wilson. A Srª Wilson é celta, nascida em Ouessant. É baixa, morena, esperta, inteligente e enérgica. Ela é a grande Sacerdotisa. Seu marido é tão celta quanto ela, pois é escocês. É alto e belo. Compartilha de todas as convicções de sua esposa. É, portanto, um witch.
Em português, witch só pode ser traduzido por feiticeiro ou feiticeira. Na verdade, o witch não é bem isso. Basta fazermos algumas considerações etimológicas para chegarmos a essa conclusão. Em francês, o vocábulo sorcier (feiticeiro) aparece pela primeira vez no século 12. A palavra latina sorcerius, da qual deriva este vocábulo, já era usada quatro séculos antes e sua raiz, sors, designa o conjunto de práticas mágicas de adivinhação, e, portanto, por extensão o paganismo. Na Idade Média, os feiticeiros eram adoradores do Diabo. Mas não se tratava aí, do Satã das Escrituras, do Lúcifer expulso do paraíso. O inimigo medieval do Deus cristão tem chifres e pés bifurcados: é o antigo deus celta. A bruxaria da França medieval, e até o século XVII, apresenta, portanto duas formas distintas: a vontade deliberada do sacrilégio para com a religião nova e oficial e a permanência desesperada da religião antiga e “derrotada”. Ora, a mesma confusão não existe na Inglaterra, pelo menos semanticamente: sorcerer e sorcery estão ligados a mesma origem latina e significam o sacrilégio voluntário, as missas negras e as trevas do cristianismo.
Mas o que significam witch e witchcraft? Witch vem do saxão wica que deu na palavra wise que significa sábio. E qual é a origem da palavra wica? E, alemão witz quer dizer espírito e weise quer dizer sábio. Todas essas palavras têm seus correspondentes em sânscrito e em grego antigo: em sânscrito é a palavra veda (a ciência por excelência, o mais alto grau de conhecimento), e em grego é oida (eu sei), da esma família lingüística à qual pertence a palavra idéia. Talvez druida seja uma melhor tradução para witch. Terá havido uma filiação consciente de antigas tradições mágicas e religiosas? Assisti a algumas cerimônias – e elas me lembraram tanto as descrições de caças às bruxas medievais quanto certas pinturas pré-históricas. Lembro-me de Monique Wilson, esta mulherzinha estranha, ao mesmo tempo grande, simples e bela em sua nudez que nada tinha de perverso ou de atormentador, segurar uma velha espada de seis séculos de idade e desenhar um círculo mágico ao redor do altar onde ela iria oficiar os ritos sagrados da seita, como rainha de seu coven (convento, grupo, reunião). Eu a vi diante dos outros feiticeiros que estavam no interior do círculo, tendo a sua frente o altar com os objetos sagrados (punhal e corda), destinados a “ligar o cadáver antes de sua aparição diante da morte”. Ela recitou uma misteriosa ladainha e depois, sem implorar à divindade, pediu aos assistentes que se concentrassem e que projetassem a vontade. Ela cavalga uma vassoura em torno do círculo. Não é preciso se iniciado para compreender o símbolo da vassoura cuja extremidade superior em marfim reproduz de maneira bem realista o órgão sexual masculino. Vi, então, os homens se prostrarem e beijarem aos pés da rainha.
A Rainha dos Feiticeiros
Velas e lâmpadas lançavam luzes tremulantes sobre o ambiente. O incenso tornava o ar azulado. Eu senti uma espécie de força física. Os feiticeiros da Ilha de Man são sinceros. “Nós possuímos uma religião muito antiga. Que foi praticada na Europa Ocidental antes de sua romanização. Os Deuses de Roma, e mais tarde o Deus dos cristãos, suplantaram-se largamente, mas não de todo. Ela sobreviveu clandestinamente. O tempo da perseguição acabou e a Antiga Religião está renascendo”.
Esta ressurreição não consiste somente na reconstituição mais ou menos fiel das antigas cerimônias do culto. Ela se manifesta, sobretudo pelo exercício dos poderes “mágicos”: os witches da Ilha de Man gabam-se de agir, não somente sobre o mundo material, mas também sobre os acontecimentos. Mas se defendem com veemência contra qualquer acusação de “magia negra”. Não devemos falar-lhes de feitiços maléficos, ritos diabólicos ou orgias escandalosas. Uma reportagem feita recentemente sobre eles descreveu dessa forma toda a panóplia da bruxaria clássica. Foi por esta razão que fui de início acolhido com certa resistência. Mas logo perceberam que eu era uma testemunha bem intencionada. A Srª. Wilson afirmou-me com toda naturalidade que ela realmente podia mudar o sentido do vento, fazer subir a maré ou fazer a neblina cercar a ilha, mas que jamais o fazia sem ter alguma razão muito especial para isso, sob pena de perder para sempre o seu poder.
Os Reis Dedicavam-se ao Paganismo?
Por mais que tentemos minimizar ou enegrecer os fatos, não podemos deixar de admitir que estamos diante de um estranho fenômeno. É difícil analisa-lo, pois só os que se dizem witches sabem se sua fé é sincera. É difícil explica-los. Entretanto, o culto do Deus de Chifres parece subjacente a toda história da Inglaterra. Aí houve manifestações populares semelhantes às de outros países europeus e também fatos reveladores entre a casta dirigente.
Convém citar o famoso incidente que está ligado à origem da Ordem da Jarreteira. Durante um baile oferecido em 1348, por Eduardo III, a condessa de Salisbury perdeu uma jarreteira de cetim azul e de esmeraldas, com uma fivela de diamantes negros e um rubi. O rei a encontrou e devolveu-a a condessa pronunciado o famoso “Honni soit qui mal y pense”. Por que uma jóia tão suntuosa sobre uma jarreteira que não se vê? Os historiadores discutem há mais de seis séculos esta cena enigmática. Mas eu, que vi os feiticeiros dançarem nus, reconheci, com menos riqueza, a jarreteira da condessa de Salisbury sobre a perna da rainha do coven. Os feiticeiros reivindicavam expressamente que a condessa seja um deles: o gesto de Eduardo III teria por finalidade não apenas evitar qualquer maledicência da corte, mas principalmente, salvar-lhe a vida, pois dois bispos presentes a esse baile haviam visto a jóia maldita.
Mas então, o próprio Eduardo III teria sido um iniciado? Os witches assim o afirmam. Dizem que a Velha Religião teria desempenhado importante papel na fundação da monarquia inglesa. Lembram que Roberto I, o Magnífico, pai de Guilherme, o Conquistador, sempre foi considerado por seus contemporâneos como um adepto da magia (donde seu apelido Roberto, o Diabo). Isso não impede que certas frases me tenham levado a pensar que existiam covens espalhados pelo mundo, na América, na Europa, particularmente na França. Não pude saber nada ao certo: um coven pode falar de si mesmo e se seus companheiros estiverem de acordo com isso, mas nada pode revelar sobre outros covens. É preciso esperar, portanto que os feiticeiros franceses, se é que existem, se manifestem. Não há nada de espantoso nisso. A Inglaterra está longe de possuir exclusividade das vivas tradições pré-cristãs. Os feiticeiros eruditos citam os trabalhos dos sábios folcloristas que, unanimemente admitem atualmente a origem pré-cristã da quase totalidade das tradições, costumes e ritos campesinos na França, na Inglaterra, na Alemanha e em toda a Europa.
Publicado em: Revista PLANETA – Junho 1973, n°. 10 , Editora Três, Por George Langelaan
Fonte: Espiralando
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Roupa de bruxa(o)
Uma busca rápida pelo oráculo do Google e o visitante curioso pode perguntar porque muitos bruxos e bruxas ostentam orgulhosamente uma túnica com capa muito parecida com as mesmas usadas por monges cristãos.
A origem da túnica vem dos povos que habitaram o Oriente Médio. A toga ou quiton, por outro lado, foi usada comumentemente por Gregos e Romanos. Com a expansão do Império Romano e sua helenização, a túnica que veio do Oriente Médio assimilou a moda do quiton, este se misturou com a toga romana para formar tanto as capas bem como as mantas e capuzes que vieram posteriormente como acessórios necessários às condições meteorológicas mais rigorosas da Europa.
Então o Cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano, mas isso não explica o motivo da adoção da túnica como vestuário exclusivo do clero. Eu encontrei uma boa resposta em um texto da internet.
O clero cristão não se vestia diferente do povo comum até a chegada de Constantino.
Contrariamente ao que pensa a opinião pública, as vestes do clero, inclusive as “vestes eclesiásticas” da tradição litúrgica da “alta igreja”, não tiveram origem nas vestes sacerdotais do AT. Tiveram origem na roupa secular do mundo greco-romano.
Clemente de Alexandria sustentava que o clero deveria vestir roupa melhor que as pessoas comuns. Já por este tempo, a liturgia da Igreja era considerada um evento formal. Clemente disse que a roupa do ministro deveria ser “simples” e “branca”.
O clero usou a cor branca por muitos séculos. Parece que tal costume foi adotado do filósofo pagão Platão que escreveu que “a cor branca era a cor dos deuses”. Nesse aspecto tanto Clemente como Tertuliano acreditavam que o colorido não se coadunava com Deus.
Com a chegada de Constantino, a distinção entre bispo, sacerdote e diácono se arraigou. Quando Constantino transladou sua corte para Bizâncio e a renomeou Constantinopla no ano 330 d.C., gradualmente a vestidura romana oficial foi adotada pelos sacerdotes e diáconos. Agora o clero era identificado por vestir-se com a roupa dos oficiais seculares.
Depois da conquista do Império Romano pelos Alemães a partir do século IV, a moda das vestes seculares mudou. A batina enfeitada dos romanos foi substituída pela túnica curta dos Godos. O clero, desejando diferenciar-se das pessoas comuns, continuou usando as antigas e arcaicas roupas romanas.
Os clérigos usavam estas antigas vestes durante o culto da igreja seguindo o modelo do ritual da corte secular. Quando os leigos adotaram o novo estilo de roupa, o clero acreditava que tal roupa era “mundana” e “bárbara”. Eles preservaram o que julgavam ser uma veste “civilizada”. Foi isso que ocorreu com as vestes clericais. Esta prática foi apoiada pelos teólogos daquele tempo.
Do século V em diante, os bispos usavam a cor roxa. Nos séculos VI e VII as vestes do clero tornaram-se mais detalhadas e caras. Durante a Idade Média, a roupa adquiriu significados místicos e simbólicos. Vestes especiais surgiram por volta dos séculos VI e VII. E surgiu o costume de colocar sobre a roupa comum um jogo de vestes especiais na sacristia.
Durante os séculos VII e VIII as vestes foram aceitas como objetos sagrados herdados das batinas dos sacerdotes levíticos do Velho Testamento. Pelo século XII o clero começou a levar a batina para a rua, o que os distinguia das pessoas comuns.
Durante a reforma, o rompimento com a tradição e as vestimentas clericais foi lento e gradual. No lugar das vestes clericais tradicionais, os reformadores adotaram a batina negra dos estudantes. Esta batina também foi conhecida como batina do filósofo, sendo que os filósofos as utilizaram durante os séculos IV e V. A nova batina foi tão predominante que chegou a ser a vestimenta do pastor protestante.
A batina do pastor reformado simboliza a autoridade espiritual. O ato de colocar a batina negra revela seu poder espiritual de ministro. Esta tendência continuou através dos séculos XVII e XVIII. Os pastores sempre usavam uma roupa escura, de preferência negra. (Cor tradicional para os advogados e doutores durante o século XVI. Era a cor dos “especialistas”).
A cor negra prontamente chegou a ser a cor de cada ministro em cada ramo da igreja. A batina negra eventualmente evoluiu a um “sobretudo” nos anos 1940-50.
Hoje é o traje escuro com batina que funciona como a vestimenta clerical da maioria dos pastores protestantes. Muitos pastores não saem sem este traje. Muitas vezes se vestem com essa roupagem para aparecer em eventos públicos não religiosos. Alguns pastores protestantes levam o colar clerical — para que ninguém se esqueça de que ele é “um homem de Deus”.
Portanto a túnica e a batina receberam características para diferenciar as usadas pelas pessoas comuns das que eram usadas pelos clérigos até o século XII, quando o ofício dos tecelões, alfaiates e outros artesões se organizaram dando origem às roupas mais 'mundanas'. A tendência das roupas como símbolo de destaque social foi adotado na moda secular, para distingir o campônio do aristocrata.
Segundo Jules Michelet, foi no século XII que aconteceram as Jaqueries (revoltas dos camponeses) e as Sarabandes (assembléias das bruxas) com mais intensidade. Até que, no século XIV, a Caça às Bruxas tem seu ápice de horror, o que pode ter levado às bruxas a adotarem a túnica com capa de cor negra para se camuflarem. Portanto, o uso de tal vestuário não era para o Ofício, mas para chegar a ele e voltar para casa.
A bruxa era, geralmente, uma pessoa de poucas posses, como uma camponesa, assim também suas roupas eram as de uso comum do povo, dificilmente ela sairia ostentando sua veste sacerdotal ou qualquer outro objeto relacionado ao Ofício. Essa 'uniformização' da túnica e da capa de cor negra como veste sacerdotal deve ter surgido com a chegada dos aristocratas e escolásticos, por volta do século XIV, para contestar o poder da Igreja.
Em nosso tempo, essa obcessão por trajar um 'uniforme' tem o mesmo lugar da maquiagem 'gótica' carregada, das 'receitas instantâneas de bruxaria' e dos pingentes de pentagramas tamanho gigante, é o mais puro e superficial fetichismo.
A origem da túnica vem dos povos que habitaram o Oriente Médio. A toga ou quiton, por outro lado, foi usada comumentemente por Gregos e Romanos. Com a expansão do Império Romano e sua helenização, a túnica que veio do Oriente Médio assimilou a moda do quiton, este se misturou com a toga romana para formar tanto as capas bem como as mantas e capuzes que vieram posteriormente como acessórios necessários às condições meteorológicas mais rigorosas da Europa.
Então o Cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano, mas isso não explica o motivo da adoção da túnica como vestuário exclusivo do clero. Eu encontrei uma boa resposta em um texto da internet.
O clero cristão não se vestia diferente do povo comum até a chegada de Constantino.
Contrariamente ao que pensa a opinião pública, as vestes do clero, inclusive as “vestes eclesiásticas” da tradição litúrgica da “alta igreja”, não tiveram origem nas vestes sacerdotais do AT. Tiveram origem na roupa secular do mundo greco-romano.
Clemente de Alexandria sustentava que o clero deveria vestir roupa melhor que as pessoas comuns. Já por este tempo, a liturgia da Igreja era considerada um evento formal. Clemente disse que a roupa do ministro deveria ser “simples” e “branca”.
O clero usou a cor branca por muitos séculos. Parece que tal costume foi adotado do filósofo pagão Platão que escreveu que “a cor branca era a cor dos deuses”. Nesse aspecto tanto Clemente como Tertuliano acreditavam que o colorido não se coadunava com Deus.
Com a chegada de Constantino, a distinção entre bispo, sacerdote e diácono se arraigou. Quando Constantino transladou sua corte para Bizâncio e a renomeou Constantinopla no ano 330 d.C., gradualmente a vestidura romana oficial foi adotada pelos sacerdotes e diáconos. Agora o clero era identificado por vestir-se com a roupa dos oficiais seculares.
Depois da conquista do Império Romano pelos Alemães a partir do século IV, a moda das vestes seculares mudou. A batina enfeitada dos romanos foi substituída pela túnica curta dos Godos. O clero, desejando diferenciar-se das pessoas comuns, continuou usando as antigas e arcaicas roupas romanas.
Os clérigos usavam estas antigas vestes durante o culto da igreja seguindo o modelo do ritual da corte secular. Quando os leigos adotaram o novo estilo de roupa, o clero acreditava que tal roupa era “mundana” e “bárbara”. Eles preservaram o que julgavam ser uma veste “civilizada”. Foi isso que ocorreu com as vestes clericais. Esta prática foi apoiada pelos teólogos daquele tempo.
Do século V em diante, os bispos usavam a cor roxa. Nos séculos VI e VII as vestes do clero tornaram-se mais detalhadas e caras. Durante a Idade Média, a roupa adquiriu significados místicos e simbólicos. Vestes especiais surgiram por volta dos séculos VI e VII. E surgiu o costume de colocar sobre a roupa comum um jogo de vestes especiais na sacristia.
Durante os séculos VII e VIII as vestes foram aceitas como objetos sagrados herdados das batinas dos sacerdotes levíticos do Velho Testamento. Pelo século XII o clero começou a levar a batina para a rua, o que os distinguia das pessoas comuns.
Durante a reforma, o rompimento com a tradição e as vestimentas clericais foi lento e gradual. No lugar das vestes clericais tradicionais, os reformadores adotaram a batina negra dos estudantes. Esta batina também foi conhecida como batina do filósofo, sendo que os filósofos as utilizaram durante os séculos IV e V. A nova batina foi tão predominante que chegou a ser a vestimenta do pastor protestante.
A batina do pastor reformado simboliza a autoridade espiritual. O ato de colocar a batina negra revela seu poder espiritual de ministro. Esta tendência continuou através dos séculos XVII e XVIII. Os pastores sempre usavam uma roupa escura, de preferência negra. (Cor tradicional para os advogados e doutores durante o século XVI. Era a cor dos “especialistas”).
A cor negra prontamente chegou a ser a cor de cada ministro em cada ramo da igreja. A batina negra eventualmente evoluiu a um “sobretudo” nos anos 1940-50.
Hoje é o traje escuro com batina que funciona como a vestimenta clerical da maioria dos pastores protestantes. Muitos pastores não saem sem este traje. Muitas vezes se vestem com essa roupagem para aparecer em eventos públicos não religiosos. Alguns pastores protestantes levam o colar clerical — para que ninguém se esqueça de que ele é “um homem de Deus”.
Portanto a túnica e a batina receberam características para diferenciar as usadas pelas pessoas comuns das que eram usadas pelos clérigos até o século XII, quando o ofício dos tecelões, alfaiates e outros artesões se organizaram dando origem às roupas mais 'mundanas'. A tendência das roupas como símbolo de destaque social foi adotado na moda secular, para distingir o campônio do aristocrata.
Segundo Jules Michelet, foi no século XII que aconteceram as Jaqueries (revoltas dos camponeses) e as Sarabandes (assembléias das bruxas) com mais intensidade. Até que, no século XIV, a Caça às Bruxas tem seu ápice de horror, o que pode ter levado às bruxas a adotarem a túnica com capa de cor negra para se camuflarem. Portanto, o uso de tal vestuário não era para o Ofício, mas para chegar a ele e voltar para casa.
A bruxa era, geralmente, uma pessoa de poucas posses, como uma camponesa, assim também suas roupas eram as de uso comum do povo, dificilmente ela sairia ostentando sua veste sacerdotal ou qualquer outro objeto relacionado ao Ofício. Essa 'uniformização' da túnica e da capa de cor negra como veste sacerdotal deve ter surgido com a chegada dos aristocratas e escolásticos, por volta do século XIV, para contestar o poder da Igreja.
Em nosso tempo, essa obcessão por trajar um 'uniforme' tem o mesmo lugar da maquiagem 'gótica' carregada, das 'receitas instantâneas de bruxaria' e dos pingentes de pentagramas tamanho gigante, é o mais puro e superficial fetichismo.
sábado, 19 de julho de 2008
Crânios na Bruxaria
Autor: Raven Grimassi.
O Crânio é um símbolo de sabedoria e conhecimento guardado. Nos mistérios internos dos ensinamentos o crânio é um símbolo da natureza interna despojada de sua origem através do processo de Iniciação nos grandes Mistérios do Ocultismo. Ele também é um símbolo da morte, seja a morte da carne ou a morte do ego/ de si mesmo. Esta é uma razão pela qual o crânio aparece nas cerimônias de iniciação na Antiga Religião. Aqui, ele é um lembrete de que a antiga personalidade estava morrendo para uma nova consciência. O crânio, particularmente quando mostrado com os ossos cruzados, também é um símbolo do Deus em antigas religiões Pagãs. Os ossos cruzados abaixo do crânio são símbolos do Deus Sacrificado, e um sinal da ressurreição da morte. Na Bruxaria, o crânio algumas vezes é mostrado colocado na frente de um caldeirão. Nesta posição ele simboliza o renascimento através dos poderes da transformação associada com o caldeirão. Na Bruxaria Italiana o crânio também representa a culminação do conhecimento ancestral.
Na magia e no misticismo, o crânio é uma ligação para os espíritos dos mundos Sobrenaturais através de sua associação com a morte. Ele também é um receptáculo para a energia psíquica e, por esta razão, normalmente é colocado próximo dos instrumentos de adivinhação como a bola de cristal e o espelho mágico. Uma vez que os magos se tornaram mais sofisticados, o simbolismo do crânio evoluiu na arte da frenologia. Esta arte foi popularizada no século XVIII pelo Dr. Franz Joseph Gall, que teorizou que as faculdades do cérebro poderiam ser determinadas a partir da forma do crânio.
Autores: Evan John Jones e Doreen Valiente.
O crânio é um dos instrumentos com associações mais antigas e conhecidas sob várias formas de pensamento e trabalho ocultos, embora na tradição da Arte não seja objeto tão comum, principalmente por, suspeito, estar ligado ao roubo e à profanação de sepulturas, satanismo, vodu, etc. Talvez o uso do crânio em rituais seja visto como algo demoníaco em conseqüência do pensamento cristão em relação a qualquer prática mágica contrária à palavra de Deus, bem como por estar ligado ao Demônio e ao lado obscuro da natureza humana.
Ao mesmo tempo, dentro da igreja cristã houve e ainda existe o reconhecimento de que os restos mortais pertencentes a determinadas pessoas_ os santos_ possuem certos poderes. Estes em geral envolvem cura, e, conseqüentemente, eram tratados como relíquias sagradas. Conservadas em tumbas magníficas, tornaram-se foco de peregrinações. Acredita-se que estas relíquias, quando acompanhadas de preces, formam, para os crentes, um elo com o espírito do santo na esperança de obter alguma graça sob a forma de milagre. Da mesma maneira, o crânio, nos rituais, agia como foco de moradia para um espírito. Havia somente esse tipo de contato em nível pessoal para o grupo ou coven e restrito somente àquele grupo.
No passado, várias culturas criaram alguma mitologia sobre crânio ou ossos como instrumentos de culto. Historicamente falando, no caso do pensamento europeu, essas idéias basicamente originam-se no culto celta às cabeças. Para os celtas, a cabeça era a fonte de poder espiritual e força de vida do homem. Com ela, o poder do homem morto era transferido para quem o tivesse matado e trabalharia a seu favor. Ao segurá-la, a coragem e a bravura do guerreiro morto poderiam ser invocadas para agir como defesa contra qualquer forma de perigo sobrenatural.
Ao decorar a casa, paliçada, estaca do portão ou os portais do templo com crânios ou cabeças cortadas tanto dos inimigos do clã como dos guerreiros da tribo, a mensagem era: esse local ou área está defendido pelas almas unidas desses guerreiros mortos. A crença de que existe uma relação entre a alma da pessoa morta e a cabeça fazia com que o crânio de um antigo sacerdote ou xamã servisse freqüentemente como foco no ritual de invocação da alma de um homem morto, habitante do outro mundo. Como na vida era reconhecida como moradia do poder espiritual da pessoa viva, na morte tornava-se a casa vazia do mesmo espírito. Por meio do ritual, aquele espírito podia ser chamado para aquele objeto reconhecível a fim de ajudar e proteger os membros vivos da família, grupo ou clã do morto.
Uma das coisas que achamos difícil compreender hoje em dia é que a morte não fosse barreira entre os mundos, como é agora. Com as palavras "descanse em paz", o que estamos querendo dizer ou pedir é que a alma da pessoa permaneça em seu mundo e não atravesse para o nosso, embora para os celtas os mundos físico e psíquico estivessem interligados nesse plano. Em vez da luz e das trevas, havia um reino obscuro através do qual determinadas pessoas podiam atravessar a separação entre o mundo dos vivos e o dos mortos, trazendo informação, enquanto os mortos podiam contatar os vivos com os mesmos objetivos em mente. Dessa forma, passado e futuro podiam ser trazidos para o presente. Ao reconhecer isto, considera-se possível para a alma atravessar do outro mundo para este, o material, sob a forma de guardião ou espírito profético.
Ao reconhecer a possibilidade de contato com o bem vindo do além, não podemos nos esquecer de que o mal possui o mesmo poder. Portanto, é necessária proteção sobrenatural contra o mal sobrenatural. O culto ao crânio deveria crescer para se equiparar às necessidades espirituais de qualquer época.Acredito que tenhamos nos afastado desses conceitos e idéias, tendendo a considerá-las fantasia e superstição primitivas. Mas o fato de termos agido dessa maneira não significa que não haja verdade nisso tudo. Muitas pessoas acreditam na imortalidade da alma, embora, ao mesmo tempo, neguem a existência de fantasmas. A idéia de que um "fantasma" é o eco de acontecimentos passados constitui uma das teorias atuais mais comentadas. Isto ignora o reconhecimento de que, se existe alma imortal dentro de uma pessoa, essa alma deve ter o poder de retornar a um determinado local de alguma forma importante para ela em existência passada.
Neste sentido, o crânio dentro do círculo é o reconhecimento desse fato. Além disso, os ritos e rituais ligados ao crânio não são, de forma alguma, tentativa de chamar os mortos por encantamentos ou para prender aquela alma ou espírito para servir ao grupo. Qualquer contato feito com o outro lado será na base de vontade e desejo mútuo de ambos os mundos, dentro do contexto das práticas e rituais da arte.
O fato de haver determinada utilidade no crânio em determinados aspectos da prática da Arte não justifica a profanação em nome da fé. Os grupos podem e realizam rituais sem ele. Alguns nunca sequer pensaram em ter um. Quanto a isso, se houver a possibilidade e o grupo desejar obter um crânio por meios legais de fornecimento a escolas de medicina, não há razão para não fazê-lo. Mas não podemos esquecer que um grupo que usa um crânio está aberto a todos os tipos de carga.
Um dos primeiros rituais é o de limpeza [eu diria consagração] do crânio realizado com e em nome dos quatro elementos: terra, ar fogo e água. Por trás desse ato está o reconhecimento de que o crânio deve ser limpo de todas as suas ligações passadas. Num sentido oculto, o crânio não está sendo usado como meio de chamar de volta a alma que o habitou, mas como meio de atrair o fantasma de uma pessoa com ligações com a feitiçaria. Nesse sentido, o crânio age como uma chave para o reconhecimento de que, por um lado, o grupo está trabalhando dentro da estrutura reconhecível de "O Crânio dentro dos ritos". Por outro, os membros do grupo estão se abrindo para um contato sobre o rio do esquecimento.
Com esse objetivo, a pergunta é exatamente o que está sendo contatado ou o que está vindo. Será uma pessoa que morreu há muito tempo e que espera o renascimento ou um aspecto do Deus Cornudo, se manifestando enquanto pessoa? Esta é mais uma pergunta sem resposta. Creio que, na maioria das vezes, se trata do fantasma, espírito ou alma de alguém que já morreu e pertenceu à Fé.
Desde os tempos pré-históricos, tem havido o reconhecimento do elo mágico entre o caçador e sua vítima. Foram encontrados vários exemplos desse elo, desde as famosas pinturas rupestres da máscara de veado, do Deus coberto de hera ou do mago na Caverne des Trois Frères, em Arège, até as pilhas ritualísticas de ossos de animais escondidas no fundo das cavernas. Crescendo nesse conceito de harmonia mágica entre caça e caçador, passando por determinados rituais mágicos, o passo seguinte seria o reconhecimento gradual por parte do clã ou da tribo do animal envolvido: urso, bisão, veado ou qualquer outro. Entrelaçado com o conceito do ritual para uma caçada proveitosa veio o reconhecimento de que a fertilidade das espécies caçadas era de importância primordial. Se elas não procriassem, significaria a fome para a tribo. O tempo trouxe mudanças. Não havia mais rituais realizados no fundo das cavernas, mas ao ar livre, dentro do círculo. Como parte do ritual, a agora familiar estaca das Bruxas era montada como porta de acesso ao círculo. No lugar da estaca em forquilha que conhecemos, havia um mastro reto com um crânio do animal totêmico fincado na extremidade. Embora a vida tenha mudado da sobrevivência que dependia das caçadas para as atividades agrícola e pastoril, no ciclo da natureza e na fertilidade dos campos, o culto ao Deus Cornudo e a Deusa Grávida ainda tem garantindo o seu lugar. Nessa fé havia ainda o conceito do sacrifício animal como agradecimento aos deuses guardiões dos rebanhos e manadas e, acima de tudo, à Deusa Mãe da terra. Na verdade, parte do animal sacrificado era consagrada aos deuses e queimada no fogo sagrado. O resto era cozido e comido depois pelo grupo. Era festa sagrada, partilhada pelos deuses e pelo povo. O que tinha sido praticado dentro das cavernas era realizado agora ao ar livre, com envolvimento maior do grupo ou clã nos rituais. Mesmo que as circunstâncias e o estilo de vida tenham mudado, o conceito de fertilidade permanece o mesmo. mudando apenas na aparência externa. Em vez de boa caçada, orava-se por boa colheita.
À medida que o conceito da Deusa e dos Deuses Antigos tomava forma mais humana, a natureza do sacrifício também mudava.
Assim como a vida se tornava mais complexa e organizada, expandia-se a visão sobre os deuses. Em vez do sacrifício animal, surgia o conceito do mensageiro humano. Deuses e Deusa ganhando caráter mais humano podiam ser contatados por um ser humano, essa alma levando as preces e os pedidos da tribo. Desenvolvido paralelamente ao conceito de mensageiro dos deuses, e com o mesmo objetivo de força e bem-estar para a tribo, surgiu o sacrifício do Rei Divino, em que a força da tribo era fixada em uma pessoa não por direito de nascimento ou de herança, mas por seleção. Enquanto o rei fosse forte e vigoroso, assim seria a tribo. Sacrificado em seu apogeu, o rei tornava-se companheiro dos deuses pelo bem da tribo.
Posteriormente esse conceito foi modificado, e o sacrifício voltou mais uma vez a ser animal, com o que surgiu o conceito muito interessante de bode expiatório. O infeliz animal, portador de todos os males e pecados da comunidade, deveria levá-los diante dos deuses junto com a sua vida, como símbolo de expiação e pagamento para libertação - uma vida substituindo a do rei.
Com esse conceito da possibilidade de transferir doenças e pecados para um animal a ser sacrificado e, ao mesmo tempo como lembrança do sacrifício do Rei Divino, o Mestre [Sumo Sacerdote/ Magister] detém os poderes de um líder, e deve pagar um preço por esses poderes. Durante sete anos, pelas graças da Senhora [Suma Sacerdotisa/ Magistra], o Mestre lidera o coven. No final do sétimo ano, o preço dessa regra é transferido para o "Carneiro Real". A vida do carneiro é oferecida à Deusa, substituindo a do Mestre. As partes sagradas são oferecidas ao fogo sagrado, e as outras são utilizadas nas festas sagradas. A cabeça do carneiro sacrificado é queimada ao lado da "Ponte entre os Dois Mundos".
Autora da citação: Nádia Bertolazzi.
Fonte da citação: comunidade do Orkut "Sociedade Wicca".
O Crânio é um símbolo de sabedoria e conhecimento guardado. Nos mistérios internos dos ensinamentos o crânio é um símbolo da natureza interna despojada de sua origem através do processo de Iniciação nos grandes Mistérios do Ocultismo. Ele também é um símbolo da morte, seja a morte da carne ou a morte do ego/ de si mesmo. Esta é uma razão pela qual o crânio aparece nas cerimônias de iniciação na Antiga Religião. Aqui, ele é um lembrete de que a antiga personalidade estava morrendo para uma nova consciência. O crânio, particularmente quando mostrado com os ossos cruzados, também é um símbolo do Deus em antigas religiões Pagãs. Os ossos cruzados abaixo do crânio são símbolos do Deus Sacrificado, e um sinal da ressurreição da morte. Na Bruxaria, o crânio algumas vezes é mostrado colocado na frente de um caldeirão. Nesta posição ele simboliza o renascimento através dos poderes da transformação associada com o caldeirão. Na Bruxaria Italiana o crânio também representa a culminação do conhecimento ancestral.
Na magia e no misticismo, o crânio é uma ligação para os espíritos dos mundos Sobrenaturais através de sua associação com a morte. Ele também é um receptáculo para a energia psíquica e, por esta razão, normalmente é colocado próximo dos instrumentos de adivinhação como a bola de cristal e o espelho mágico. Uma vez que os magos se tornaram mais sofisticados, o simbolismo do crânio evoluiu na arte da frenologia. Esta arte foi popularizada no século XVIII pelo Dr. Franz Joseph Gall, que teorizou que as faculdades do cérebro poderiam ser determinadas a partir da forma do crânio.
Autores: Evan John Jones e Doreen Valiente.
O crânio é um dos instrumentos com associações mais antigas e conhecidas sob várias formas de pensamento e trabalho ocultos, embora na tradição da Arte não seja objeto tão comum, principalmente por, suspeito, estar ligado ao roubo e à profanação de sepulturas, satanismo, vodu, etc. Talvez o uso do crânio em rituais seja visto como algo demoníaco em conseqüência do pensamento cristão em relação a qualquer prática mágica contrária à palavra de Deus, bem como por estar ligado ao Demônio e ao lado obscuro da natureza humana.
Ao mesmo tempo, dentro da igreja cristã houve e ainda existe o reconhecimento de que os restos mortais pertencentes a determinadas pessoas_ os santos_ possuem certos poderes. Estes em geral envolvem cura, e, conseqüentemente, eram tratados como relíquias sagradas. Conservadas em tumbas magníficas, tornaram-se foco de peregrinações. Acredita-se que estas relíquias, quando acompanhadas de preces, formam, para os crentes, um elo com o espírito do santo na esperança de obter alguma graça sob a forma de milagre. Da mesma maneira, o crânio, nos rituais, agia como foco de moradia para um espírito. Havia somente esse tipo de contato em nível pessoal para o grupo ou coven e restrito somente àquele grupo.
No passado, várias culturas criaram alguma mitologia sobre crânio ou ossos como instrumentos de culto. Historicamente falando, no caso do pensamento europeu, essas idéias basicamente originam-se no culto celta às cabeças. Para os celtas, a cabeça era a fonte de poder espiritual e força de vida do homem. Com ela, o poder do homem morto era transferido para quem o tivesse matado e trabalharia a seu favor. Ao segurá-la, a coragem e a bravura do guerreiro morto poderiam ser invocadas para agir como defesa contra qualquer forma de perigo sobrenatural.
Ao decorar a casa, paliçada, estaca do portão ou os portais do templo com crânios ou cabeças cortadas tanto dos inimigos do clã como dos guerreiros da tribo, a mensagem era: esse local ou área está defendido pelas almas unidas desses guerreiros mortos. A crença de que existe uma relação entre a alma da pessoa morta e a cabeça fazia com que o crânio de um antigo sacerdote ou xamã servisse freqüentemente como foco no ritual de invocação da alma de um homem morto, habitante do outro mundo. Como na vida era reconhecida como moradia do poder espiritual da pessoa viva, na morte tornava-se a casa vazia do mesmo espírito. Por meio do ritual, aquele espírito podia ser chamado para aquele objeto reconhecível a fim de ajudar e proteger os membros vivos da família, grupo ou clã do morto.
Uma das coisas que achamos difícil compreender hoje em dia é que a morte não fosse barreira entre os mundos, como é agora. Com as palavras "descanse em paz", o que estamos querendo dizer ou pedir é que a alma da pessoa permaneça em seu mundo e não atravesse para o nosso, embora para os celtas os mundos físico e psíquico estivessem interligados nesse plano. Em vez da luz e das trevas, havia um reino obscuro através do qual determinadas pessoas podiam atravessar a separação entre o mundo dos vivos e o dos mortos, trazendo informação, enquanto os mortos podiam contatar os vivos com os mesmos objetivos em mente. Dessa forma, passado e futuro podiam ser trazidos para o presente. Ao reconhecer isto, considera-se possível para a alma atravessar do outro mundo para este, o material, sob a forma de guardião ou espírito profético.
Ao reconhecer a possibilidade de contato com o bem vindo do além, não podemos nos esquecer de que o mal possui o mesmo poder. Portanto, é necessária proteção sobrenatural contra o mal sobrenatural. O culto ao crânio deveria crescer para se equiparar às necessidades espirituais de qualquer época.Acredito que tenhamos nos afastado desses conceitos e idéias, tendendo a considerá-las fantasia e superstição primitivas. Mas o fato de termos agido dessa maneira não significa que não haja verdade nisso tudo. Muitas pessoas acreditam na imortalidade da alma, embora, ao mesmo tempo, neguem a existência de fantasmas. A idéia de que um "fantasma" é o eco de acontecimentos passados constitui uma das teorias atuais mais comentadas. Isto ignora o reconhecimento de que, se existe alma imortal dentro de uma pessoa, essa alma deve ter o poder de retornar a um determinado local de alguma forma importante para ela em existência passada.
Neste sentido, o crânio dentro do círculo é o reconhecimento desse fato. Além disso, os ritos e rituais ligados ao crânio não são, de forma alguma, tentativa de chamar os mortos por encantamentos ou para prender aquela alma ou espírito para servir ao grupo. Qualquer contato feito com o outro lado será na base de vontade e desejo mútuo de ambos os mundos, dentro do contexto das práticas e rituais da arte.
O fato de haver determinada utilidade no crânio em determinados aspectos da prática da Arte não justifica a profanação em nome da fé. Os grupos podem e realizam rituais sem ele. Alguns nunca sequer pensaram em ter um. Quanto a isso, se houver a possibilidade e o grupo desejar obter um crânio por meios legais de fornecimento a escolas de medicina, não há razão para não fazê-lo. Mas não podemos esquecer que um grupo que usa um crânio está aberto a todos os tipos de carga.
Um dos primeiros rituais é o de limpeza [eu diria consagração] do crânio realizado com e em nome dos quatro elementos: terra, ar fogo e água. Por trás desse ato está o reconhecimento de que o crânio deve ser limpo de todas as suas ligações passadas. Num sentido oculto, o crânio não está sendo usado como meio de chamar de volta a alma que o habitou, mas como meio de atrair o fantasma de uma pessoa com ligações com a feitiçaria. Nesse sentido, o crânio age como uma chave para o reconhecimento de que, por um lado, o grupo está trabalhando dentro da estrutura reconhecível de "O Crânio dentro dos ritos". Por outro, os membros do grupo estão se abrindo para um contato sobre o rio do esquecimento.
Com esse objetivo, a pergunta é exatamente o que está sendo contatado ou o que está vindo. Será uma pessoa que morreu há muito tempo e que espera o renascimento ou um aspecto do Deus Cornudo, se manifestando enquanto pessoa? Esta é mais uma pergunta sem resposta. Creio que, na maioria das vezes, se trata do fantasma, espírito ou alma de alguém que já morreu e pertenceu à Fé.
Desde os tempos pré-históricos, tem havido o reconhecimento do elo mágico entre o caçador e sua vítima. Foram encontrados vários exemplos desse elo, desde as famosas pinturas rupestres da máscara de veado, do Deus coberto de hera ou do mago na Caverne des Trois Frères, em Arège, até as pilhas ritualísticas de ossos de animais escondidas no fundo das cavernas. Crescendo nesse conceito de harmonia mágica entre caça e caçador, passando por determinados rituais mágicos, o passo seguinte seria o reconhecimento gradual por parte do clã ou da tribo do animal envolvido: urso, bisão, veado ou qualquer outro. Entrelaçado com o conceito do ritual para uma caçada proveitosa veio o reconhecimento de que a fertilidade das espécies caçadas era de importância primordial. Se elas não procriassem, significaria a fome para a tribo. O tempo trouxe mudanças. Não havia mais rituais realizados no fundo das cavernas, mas ao ar livre, dentro do círculo. Como parte do ritual, a agora familiar estaca das Bruxas era montada como porta de acesso ao círculo. No lugar da estaca em forquilha que conhecemos, havia um mastro reto com um crânio do animal totêmico fincado na extremidade. Embora a vida tenha mudado da sobrevivência que dependia das caçadas para as atividades agrícola e pastoril, no ciclo da natureza e na fertilidade dos campos, o culto ao Deus Cornudo e a Deusa Grávida ainda tem garantindo o seu lugar. Nessa fé havia ainda o conceito do sacrifício animal como agradecimento aos deuses guardiões dos rebanhos e manadas e, acima de tudo, à Deusa Mãe da terra. Na verdade, parte do animal sacrificado era consagrada aos deuses e queimada no fogo sagrado. O resto era cozido e comido depois pelo grupo. Era festa sagrada, partilhada pelos deuses e pelo povo. O que tinha sido praticado dentro das cavernas era realizado agora ao ar livre, com envolvimento maior do grupo ou clã nos rituais. Mesmo que as circunstâncias e o estilo de vida tenham mudado, o conceito de fertilidade permanece o mesmo. mudando apenas na aparência externa. Em vez de boa caçada, orava-se por boa colheita.
À medida que o conceito da Deusa e dos Deuses Antigos tomava forma mais humana, a natureza do sacrifício também mudava.
Assim como a vida se tornava mais complexa e organizada, expandia-se a visão sobre os deuses. Em vez do sacrifício animal, surgia o conceito do mensageiro humano. Deuses e Deusa ganhando caráter mais humano podiam ser contatados por um ser humano, essa alma levando as preces e os pedidos da tribo. Desenvolvido paralelamente ao conceito de mensageiro dos deuses, e com o mesmo objetivo de força e bem-estar para a tribo, surgiu o sacrifício do Rei Divino, em que a força da tribo era fixada em uma pessoa não por direito de nascimento ou de herança, mas por seleção. Enquanto o rei fosse forte e vigoroso, assim seria a tribo. Sacrificado em seu apogeu, o rei tornava-se companheiro dos deuses pelo bem da tribo.
Posteriormente esse conceito foi modificado, e o sacrifício voltou mais uma vez a ser animal, com o que surgiu o conceito muito interessante de bode expiatório. O infeliz animal, portador de todos os males e pecados da comunidade, deveria levá-los diante dos deuses junto com a sua vida, como símbolo de expiação e pagamento para libertação - uma vida substituindo a do rei.
Com esse conceito da possibilidade de transferir doenças e pecados para um animal a ser sacrificado e, ao mesmo tempo como lembrança do sacrifício do Rei Divino, o Mestre [Sumo Sacerdote/ Magister] detém os poderes de um líder, e deve pagar um preço por esses poderes. Durante sete anos, pelas graças da Senhora [Suma Sacerdotisa/ Magistra], o Mestre lidera o coven. No final do sétimo ano, o preço dessa regra é transferido para o "Carneiro Real". A vida do carneiro é oferecida à Deusa, substituindo a do Mestre. As partes sagradas são oferecidas ao fogo sagrado, e as outras são utilizadas nas festas sagradas. A cabeça do carneiro sacrificado é queimada ao lado da "Ponte entre os Dois Mundos".
Autora da citação: Nádia Bertolazzi.
Fonte da citação: comunidade do Orkut "Sociedade Wicca".
O Embusteiro
Traduzido do wikipédia.
Na mitologia e no estudo do folclore e religião, o embusteiro é um Deus ou uma Deusa, um espírito, um homem ou mulher, um animal antropomórfico que prega peças ou desobedece as regras e normas de comportamento.
Muitas tradições nativas tem palhaços e embusteiros como essenciais para qualquer contato com o sagrado. As pessoas não poderiam orar enquanto não tivessem rido, porque o riso abre e liberta do rigido preconceito.
Os seres humanos tem que ter embusteiros inseridos nas mais sagradas cerimônias para lembrar que o sagrado vem da surpresa. O embusteiro é essencial à criação, ao nascimento.
Uma das características mais importantes do embusteiro é sua abertura à multiplicidade e aos paradoxos da vida.
O embusteiro rompe com as regras dos Deuses ou da natureza, às vezes de forma maliciosa, mas geralmente, embora sem querer, com efeitos positivos no final.
O embusteiro pode ser ardiloso ou ingênuo ou ambos, ele geralmente é engraçado mesmo quando é considerado sagrado ou executando importantes tarefas culturais.
Em muitas culturas, o embusteiro e o herói cultural estão combinados. Em muitas mitologias, o embusteiro rouba o fogo [ou outro objeto-NT] dos Deuses e são mais traiçoeiros do que os heróis culturais.
Freqüentemente o embusteiro tem diversos gêneros e formas, mudando os papéis sexuais e praticando a homossexualidade.
Em algumas culturas, existem mitos dualistas envolvendo dois demiurgos criando o mundo ou dois heróis culturais ordenando o mundo de uma forma complementar. Cosmologias dualistas estão presentes em todos os continentes e mostra grande variedade: mostram heróis culturais, mas também demiurgos ou outros personagens, que podem colaborar ou competir; podem ser neutros ou contrastados como o Bem contra o Mal; podem ter a mesma importância ou diferenciados como o fraco contra o forte; podem ser irmãos (mesmo gêmeos) ou não terem qualquer parentesco.
Na mitologia e no estudo do folclore e religião, o embusteiro é um Deus ou uma Deusa, um espírito, um homem ou mulher, um animal antropomórfico que prega peças ou desobedece as regras e normas de comportamento.
Muitas tradições nativas tem palhaços e embusteiros como essenciais para qualquer contato com o sagrado. As pessoas não poderiam orar enquanto não tivessem rido, porque o riso abre e liberta do rigido preconceito.
Os seres humanos tem que ter embusteiros inseridos nas mais sagradas cerimônias para lembrar que o sagrado vem da surpresa. O embusteiro é essencial à criação, ao nascimento.
Uma das características mais importantes do embusteiro é sua abertura à multiplicidade e aos paradoxos da vida.
O embusteiro rompe com as regras dos Deuses ou da natureza, às vezes de forma maliciosa, mas geralmente, embora sem querer, com efeitos positivos no final.
O embusteiro pode ser ardiloso ou ingênuo ou ambos, ele geralmente é engraçado mesmo quando é considerado sagrado ou executando importantes tarefas culturais.
Em muitas culturas, o embusteiro e o herói cultural estão combinados. Em muitas mitologias, o embusteiro rouba o fogo [ou outro objeto-NT] dos Deuses e são mais traiçoeiros do que os heróis culturais.
Freqüentemente o embusteiro tem diversos gêneros e formas, mudando os papéis sexuais e praticando a homossexualidade.
Em algumas culturas, existem mitos dualistas envolvendo dois demiurgos criando o mundo ou dois heróis culturais ordenando o mundo de uma forma complementar. Cosmologias dualistas estão presentes em todos os continentes e mostra grande variedade: mostram heróis culturais, mas também demiurgos ou outros personagens, que podem colaborar ou competir; podem ser neutros ou contrastados como o Bem contra o Mal; podem ter a mesma importância ou diferenciados como o fraco contra o forte; podem ser irmãos (mesmo gêmeos) ou não terem qualquer parentesco.