sexta-feira, 6 de junho de 2008

Conceitos e contradições sobre o Neopaganismo

Este é um blog de Neopaganismo para Neopagãos, mas de forma alguma deve ser confundido com o Neopaganismo comercializado pela Wilka S/A em livros (que merecem estar na seção de auto-ajuda) e revistas (que estão mais preocupadas com a quantidade da tiragem do que com a qualidade do conteúdo).

Usando uma linguagem de expressão comum, o brasileiro pergunta: Que Diabos então é o Neopaganismo?

O problema para definir o que é Neopaganismo começa ao tentarmos definir o que é Paganismo e as teorias existentes têm falhas porque são transmitidas de forma superficial.

Teoria 1: Paganismo vem de paganus, dito ou referente ao campo e ao camponês. Isto colocaria muitos Neopagãos fora do escopo, uma vez que muitos moram em cidades e também excluiria o caipira, uma vez que este se declara católico (uma forma de Cristianismo).

Teoria 2: Paganismo é um conjunto de religiões ditas ou referentes ao sagrado centrado na terra. Isto colocaria muitos dos povos do Paganismo Clássico fora do escopo, uma vez que estas civilizações cresceram através da exploração dos recursos naturais e também excluiria alguns tipos de Neopagãos, uma vez que estão mais focados no reconstrutivismo cultural.

Teoria 3: Pagão é todo aquele que não é batizado e/ou não confessa a crença no Cristianismo. Isso colocaria alguns grupos Cristãos fora do escopo, uma vez que nem todas as denominações Cristãs adotam o batismo como sacramento. Sem falar que temos os Judeus, os Muçulmanos, os Budistas e Harekrishnas, que igualmente não professam o Cristianismo, mas são formas de Monoteísmo.

Teoria 4: Paganismo é uma religião que enfoca o contato e a harmonia com a natureza. Isto colocaria uma junção entre as contradições das teorias 1 e 2, mesmo porque o caipira tem uma preocupação de ordem prática e pragmática em seu ‘contato e harmonia com a natureza’, que é a colheita, sem o que não haveria subsistência, o que leva muitas vezes a ações que são opostas ao pensamento Neopagão.

Teoria 5: Paganismo é a religião que existia antes do Cristianismo. Isso é fonte de muita confusão, uma vez que o próprio Cristianismo tem muito de suas origens em crenças e filosofias teoricamene consideradas pagãs. Muitas destas crenças pertenciam a povos que não se consideravam ‘Pagãos’ nem tinham uma relação sagrada com a terra e estavam mais preocupados com a cidade, a tecnologia e o desenvolvimento. Mas essa teoria é boa para desmascarar a teoria 6.

Teoria 6: O Neopaganismo tem origem na religião dos Celtas. Isto é um absurdo em termos históricos e antropológicos, pois mesmo os Celtas foram apenas um dos muitos povos antigos que existiram antes do Cristianismo. Mesmo a definição do que seria a ‘religião dos Celtas’ cai em contradição, uma vez que se chama genericamente de ‘Celtas’ diversos povos que existiram na Europa, com sociedades, culturas e credos distintos, conforme a região ocupada. Isso certamente excluiria muitos Neopagãos que estão ligados à outras religiões, de outros povos, como os Romanos, os Etruscos, os Gregos, os Persas, os Assírios, os Fenícios, os Arianos, os Egípcios, os Sumérios.

Teoria 7: Paganismo é a religião que respeita a vida dos outros seres vivos. Isso deixaria fora do escopo muitos dos povos que teoricamente são considerados ‘Pagãos’, como no caso sensível dos povos pré-colombianos. Mesmo os povos do Paganismo Clássico ofereciam sacrifícios de animais e pessoas aos Deuses.

Teoria 8: Paganismo é a Religião Antiga da Deusa Mãe do Neolítico e o Neopaganismo é o resgate desse sagrado feminino e da religião matrifocal. Isso colocaria uma junção entre as contradições das teorias 5 e 6, mesmo porque tal afirmação é um absurdo em termos históricos e antropológicos. Muitos Neopagãos seriam excluídos desse escopo, principalmente os que seguem as formas de Paganismo Clássico que, a despeito de serem Politeístas, tinham um culto centrado em um Deus masculino e tinham uma sociedade patriarcal.

O que a Wilka S/A e o Mercado Editorial não dirão é que o Neopaganismo é um fenômeno recente, que veio junto com o ressurgimento do ocultismo do século XIX e com o aparecimento da Contracultura do século XX. O Neopaganismo inclui o resgate do sagrado feminino, mas não se restringe a isso, pois isso levaria ao extremo oposto da ditadura do patriarcalismo, levaria ao matriarcalismo radical feminista andrófobo. O Neopaganismo inclui o Politeísmo e o Panteísmo, mas não o Henoteísmo e o Monismo. O Neopaganismo inclui um longo e árdua caminho em busca de nossas raízes e heranças, culturais e espirituais, pela superação dos vínculos e traumas causados pelo Cristianismo, sem pretender uma vingança, uma reparação ou um revisionismo histórico.

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