terça-feira, 8 de abril de 2008

A Religião Antiga

Ela é anterior à todas as formas de religião, surgindo como o resultado dos esforços do homem, desde suas origens mais distantes, para compreender a natureza, sua beleza, sua crueldade, seu equilibrio e a maneira como pode se integrar na obra, cooperar com ela. Naturista e de nenhum modo moral, extática e de nenhum modo ritual, essa religião esforça-se para encontrar os pontos de contato entre os diversos estados de ser e para buscar sua harmoniosa cooperação, a fim de permitir a cada um realizar-se no plano físico, intelectual e espiritual e representar com plenitude seu papel na sinfonia universal.
Essa religião, com frequência perseguida e sempre renascente, continua a ser a mais moderna e parece corresponder às necessidades mais profundas do homem.
Encontramos hoje uma humanidade desamparada que se prende às religiões institucionalizadas sem sequer compreender porque elas estão morrendo. Por toda parte as pessoas sentem esse vazio, buscando encontrar um equilíbrio em um mundo ameaçado, mas não conseguem ajuda. Ao invés disso, contentam-se em ter sua própria 'religião', são vítimas de falsos profetas, de gurus de bazar, de falsas iniciações.
No entanto, um caminho permanece sempre aberto para uma volta do homem a seu verdadeiro papel. Esse caminho não tem nada a ver com as falsas virtudes, os problemas morais ou sociais artificiais em que se comprazem as religiões e as sociedades modernas, cujo objetivo é precisamente enganar os espíritos, afastar os homens da busca dos valores reais e, portanto, conduzir a humanidade ao suicídio. Esse Caminho da Sabedoria é apenas a busca da compreensão da natureza do mundo e da cooperação nessa obra. Aquele que o procura honestamente pode encontrar esse caminho, mas é necessário por em questão quase tudo o que é tido como sendo valores estabelecidos e ignorar todas as palavras vazias de sentido, todas as fórmulas publicitárias que hoje são consideradas como idéias ou doutrinas.
Nada existe no universo que não faça parte do corpo divino, que não possa ser um caminho para alcanças o divino. Todos os objetos, todos os fenômenos naturais, as plantas, os animais, assim como todos os aspectos do homem podem ser pontos de partida para nos aproximarmos do divino.
Texto baseado no livro Shiva e Dioniso, de Alain Danielou, pg 1-6.

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