Iniciada por volta de 1400, seus livros são de duas classes e de duas épocas: os dos monges inquisidores do século XV e os dos juízes leigos do tempo de Henrique IV e de Luis XIII. A volumosa compilação de Lyon, feita e dedicada ao inquisidor Nitard, reproduz uma quantidade desses tratados de monges. No fundo, contém muito pouca coisa. Repetem-se fastidiosamente.
De monge em monge, a bola de neve vai crescendo sempre. Por volta de 1600, quando os compiladores eram eles mesmos compilados, ampliados pelos que vinham depois, chegou-se a um livro enorme.
Se tudo é heresia no século XIII, tudo é magia no XIV. Na grosseria daquele tempo, a heresia difere pouco da possessão diabólica; toda crença errônea e todo pecado são um demônio, que se escorraça pela tortura e pelo chicote. Essa passagem da heresia à magia é um progresso no terror e beneficia o juiz. Nos processos de heresia (de homens, na maioria), ele tem assistentes. Mas nos de magia, de feitiçaria, que envolvem quase sempre mulheres, tem o direito de ficar só, frente a frente com o acusado.
Esse rótulo terrível de feitiçaria abrangeu pouco a pouco todas as pequenas superstições, a antiga poesia dos lares e dos campos, o traquinas, o duende, a fada. Que mulher seria inocente? A mais devota acreditava em tudo isso.
A feiticeira nasceu muito antes disso tudo e seus segredos se perdem na sombra do tempo. Os camponeses, ditos mais simplórios, ignorantes, nunca perderam o relacionamento com a terra e aquela que conhece seus mistérios, a quem sempre recorrerão para sanar suas moléstias. A literatura da feitiçaria surgiu depois, junto com a histeria e os processos da Inquisição.
Quem produziu os grimórios não foram nem os magos, nem as bruxas, mas os padres. Estes mesmos, que tiveram coragem e audácia para inventarem evangelhos, não lhes seria dificil imaginar os grimanços, ora com a tônica da denuncia, ora usando de deboche, ora para satisfazer os apetites da aristocracia e, mais tarde, da burguesia até, enfim, tornar-se cultura popular e ser definitivamente massacrada, morta e enterrada pela desintegração comercial.
Texto composto a partir do livro "A Feitiçeira" de Jules Michelet, pg 19-22.
terça-feira, 29 de abril de 2008
segunda-feira, 28 de abril de 2008
Poste de Maio
Do wikipédia, traduzido por mim.
O poste de Maio é um mastro alto de madeira (tradicionalmente feito de bordo, pilriteiro ou vidoeiro), muitas vezes erigido com várias fitas longas coloridas suspensas pelo topo, adornado com flores, envolto em folhagens e enfeitado com largas coroas, dependendo das variações locais e regionais. O que é frequentemente visto como um poste de maio Inglês/Britânico "tradicional" (uma versão um tanto mais curta, mais lisa do poste escandinavo com as fitas amarradas no alto e suspensas ao chão) é um relativamente recente desenvolvimento da tradição e é provavelmente derivado das pitorescas danças itálicas encenadas em teatros na metade do século 19. Usualmente é esse poste menor, simples que as pessoas (usualmente crianças de escola) dançam em volta, trançando as fitas para dentro e para fora para criar padrões espetaculares.
Com raízes no Paganismo Germânico, o poste de Maio tradicionalmente aparece na maior parte dos países Germânicos, nos países fronteiriços e nos invadidos pelos Germânicos após a queda do Império Romano (como Espanha, França e Itália), mas mais popularmente na Alemanha, Suécia, Áustria, Grã Bretanha, República Tcheca, Hungria, Eslováquia, Eslovênia e Finlândia nos tempos modernos para as festividades e ritos da Primavera, Dia de Maio, Beltane e Solstício de Verão.
Simbolismo:
O poste de maio é considerado um símbolo fálico, coincindindo com a adoração de figuras germãnicas fálicas como os de Freyr.
Outros significados potenciais incluem o simbolismo relacionado ao Yggdrasil, um eixo mítico que liga o Submundo, o Mundo, o Astral e vários outros reinos.
A tradição atual do poste de Maio coincide geograficamente com a área de influência dos mitos Germânicos.
A afirmação do simbolismo fálico em relação ao poste de Maio reflete seu atual valor semiótico: celebração, comunidade, jovialidade e a chegada do Verão.
O poste de Maio é um mastro alto de madeira (tradicionalmente feito de bordo, pilriteiro ou vidoeiro), muitas vezes erigido com várias fitas longas coloridas suspensas pelo topo, adornado com flores, envolto em folhagens e enfeitado com largas coroas, dependendo das variações locais e regionais. O que é frequentemente visto como um poste de maio Inglês/Britânico "tradicional" (uma versão um tanto mais curta, mais lisa do poste escandinavo com as fitas amarradas no alto e suspensas ao chão) é um relativamente recente desenvolvimento da tradição e é provavelmente derivado das pitorescas danças itálicas encenadas em teatros na metade do século 19. Usualmente é esse poste menor, simples que as pessoas (usualmente crianças de escola) dançam em volta, trançando as fitas para dentro e para fora para criar padrões espetaculares.
Com raízes no Paganismo Germânico, o poste de Maio tradicionalmente aparece na maior parte dos países Germânicos, nos países fronteiriços e nos invadidos pelos Germânicos após a queda do Império Romano (como Espanha, França e Itália), mas mais popularmente na Alemanha, Suécia, Áustria, Grã Bretanha, República Tcheca, Hungria, Eslováquia, Eslovênia e Finlândia nos tempos modernos para as festividades e ritos da Primavera, Dia de Maio, Beltane e Solstício de Verão.
Simbolismo:
O poste de maio é considerado um símbolo fálico, coincindindo com a adoração de figuras germãnicas fálicas como os de Freyr.
Outros significados potenciais incluem o simbolismo relacionado ao Yggdrasil, um eixo mítico que liga o Submundo, o Mundo, o Astral e vários outros reinos.
A tradição atual do poste de Maio coincide geograficamente com a área de influência dos mitos Germânicos.
A afirmação do simbolismo fálico em relação ao poste de Maio reflete seu atual valor semiótico: celebração, comunidade, jovialidade e a chegada do Verão.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Faces do Deus
Eu encontrei em um sebo o livro do casal Farrar entitulado "O Deus dos Magos", mas no original a melhor tradução seria "O Deus dos/as bruxos/as". Um achado e tanto, no mesmo sebo onde encontrei "A Feiticeira" de Jules Michelet. Eu pretendo usar algumas passagens desse livro algum dia, mas por ora eu vou aproveitar o ensaio histórico/antropológico lançado pelo casal Farrar para analisar as diferentes faces do Deus. Eu não concordo com a opinião em voga que todos os Deuses são o Deus dos bruxos, bem como em várias partes do livro que não há uma acuidade histórica/antropológica dos mitos, dos povos e Deuses antigos. Em diversos tópicos desse blog o dileto visitante poderá encontrar alguns indícios de meus motivos para não aceitar essa maionese cultural, então passemos à lista das faces do Deus, como descrito no livro citado do casal Farrar.
O Deus, como filho e amante.
A ordem mais provável, na mitologia Wica, é primeiro o Deus como o amante consorte da Deusa para então Ele surgir como a Criança da Promessa. A fonte de onde veio o mito de uma Deusa solitária que divide-se a si mesma (Santa Ameba?) para gerar o Deus é atribuído às bruxas toscanas, mais precisamente do relato escrito por Charles Leland em seu "Evangelho de Arádia". Considerando os aspectos do Deus e a manifestação divina no mundo natural, acreditar que a Deusa poderia sozinha gerar dela mesma um Deus tão oposto aos atributos dEla, é transformar a Deusa em uma imitação de Jeová.
O Deus que mede o tempo.
Aqui há uma confusão curiosa. A nossa espécie realmente se juntou em grupos e para organizar as coisas estipulou formas de medir o tempo. Em algumas culturas, usava-se a lua, que foi ora associada a um Deus, ora a uma Deusa. Entretanto, nossos ancestrais eram bastante observadores e notaram que o sol igualmente podia ser usado para medir o tempo e, dependendo da cultura, este foi ora identificado com um Deus ou com uma Deusa. Portanto, não há como concluir que um dos atributos do Deus seja medir o tempo. O mais correto é pensar no Deus como o Ordenador.
O Deus Sol.
Nossos ancestrais passaram a ver no sol um aspecto de algum Deus depois de começarem a cultivar a terra. Entretanto, existem culturas que associam o sol à alguma Deusa. O aspecto mais crucial do aspecto do Deus como o sol vem da associação do sol como um astro-rei e, portanto, evocado na coroação dos reis tribais. Antigamente era bem comum um rei atribuir sua paternidade a alguma forma de Deus que estava associado ao sol.
O Deus da Sabedoria.
Lembrando vagamente o que eu havia lido em "A Deusa Branca" de Robert Graves, a Sabedoria é inspirado pela Deusa. Em termos gerais, os processos mentais mais associados ao Deus são a Lógica e o Raciocínio. Tanto o Saber como o Conhecimento são atributos tanto de Deuses quanto de Deusas, mas mesmo os mitos destes demonstram que isto foi algo adquirido das experiências e vivências. Igualmente temos interessantes mitos de Deuses que são tolos, ignorantes ou ingênuos.
O Deus da Vegetação.
Igualmente ligado á face do Deus enquanto Deus do Sol, bem como de Deus que mede o tempo. A partir do momento e que nossos ancestrais dominaram a técnica de plantio, os ciclos sazonais começaram a ter maior importância, bem como o planejamento das culturas de acordo com esses ciclos. Os Sabats da Wica são um reflexo desse elo entre os ciclos das estações com os ciclos solares, dentro do aspecto do Deus enquanto Senhor dos Campos.
O Deus da Guerra.
Para alguns povos, os ciclos naturais não tinham significado algum. Estes povos nem plantavam nem criavam gado. Eram povos guerreiros e nômades. A vida desses povos consistia ou em pilhar os povos agrários ou em fazer comércio, de forma que nunca tiveram uma ligação sagrada com a natureza. Em alguns casos, mesmo em povos agrários, Deuses e Deusas da Guerra apareceram, como resultado da interação entre culturas ou mesmo do desenvolvimento dos povos e o consequente desenvolvimento da expansão territorial e mesmo da formação de reinos. Para os povos politeístas, a guerra era travada sempre em nome do rei, o Deus ou Deusa da Guerra era apenas evocado para que vencessem. Apenas os povos guerreiros e nômades fizeram guerra em nome de Deus, pois estes povos desenvolveram apenas a ideía de Deus, muitas vezes monopolista e belicoso.
O Deus Artesão.
Eu considero esta face como um reflexo do Deus como o Ordenador. Deus, assim como os homens, gosta da tecnologia, da ciência e do progresso, sempre em busca de mais conforto e eficácia nas coisas da vida. Quando associado à sua face como Deus da Guerra, existe um embotamento de sua face enquanto Deus dos Campos, o sentido sagrado da vida e da preservação do ambiente são conveninetemente esquecidos pela humanidade, fazendo com que a ciência e a tecnologia se tornem fúteis, quando não uma ameaça à nossa espécie.
O Deus de Chifres.
Todos os Deuses antigos, incluindo os Deuses monopolistas das atuais formas do monoteísmo foram ou tiveram este aspecto em algum momento em sua história mítica. A lista de Deuses antigos que eram coroados com vistosos chifres é imensa e tem um vínculo claro com a nobreza, a fertilidade e a virilidade própria do Deus. Mesmo que posteriormente este passado tenha sido esquecido, renegado ou proibido por interesses políticos, o caráter fálico dos Deuses (até os monopolistas) está presente nos ritos e nos atos atribuidos a eles. A imagem do Deus de Chifres é considerado tão antigo quanto a imagem da "Vênus" de Willendorf e simboliza o seu aspecto tanto como o Senhor da Caça quanto como o Senhor das Feras.
O Deus Gêmeo. (Dióscoros)
O exemplo mais usado e menos ideal é o mito do Rei Carvalho e do Rei Azevinho. Apesar destes serem manifestações do Deus, como os nomes dizem eles são Reis, não Deus. Eu pessoalmente considero exemplos melhores dessa face de Deus os mitos de Osiris e Set, de Cronos e Zeus, de Saturno e Júpiter, de Castor e Polux. O mito do Deus Gêmeo é uma síntese da Roda do Ano celebrada na Wica, em dois momentos cruciais: o Verão e o Inverno. Ambos os ciclos sazonais disputam em poder e força iguais o dominio sobre o nosso mundo e não são, embora opostos, antagônicos, mas sim cumprem cada um para manter o equilíbrio necessário para a existência da vida.
O Deus Sacrificado.
Certamente o mito mais presente e mais imitado em várias religiões. Sem a idéia mítica dos povos pagãos de um Deus Sacrificado teria sido impossível para o Cristianismo ser bem sucedido entre os 'gentios'. Essa face de Deus está ligada à face do Deus como o Senhor dos Campos, bem como à sua face como Senhor das Feras (o que foi ignorado pelo casal Farrar). Em alguns povos infelizmente essa face do Deus ficou exacerbada, levando a massacres disfarçados de sacrifícios ao Deus, como aconteceu nos povos pré-colombianos. O sacrificio, seja de vida vegetal, seja de vida animal, seja de vida humana, tinha um sentido muito mais sagrado e específico. A ritualização da violência e da crueldade é essencial para nós, como bem disse Alain Danielou e a maior parte dos povos que praticavam sacrificios e sangue o faziam com uma única vítima sagrada, apenas em ocasiões muito especiais. Para nossos ancestrais, a morte cerimonial de um rei era fundamental para a continuidade da vida comunitária. Para se tornar o Deus do Além, o Deus se sacrifica. Sem isso, as sementes não brotariam e as almas não teriam descanso nem reencarnariam.
O Deus do Além.
A face mais temida e menos comentada nos circulos wiccanos e certamente ignorada na Wilka S/A, o que eu considero curioso existir tal tabu entre pagãos, bruxos e wiccanos quanto ao aspecto de Deus como o Senhor dos Mortos. A Deusa também tem um lado negro, terrivel e sinistro completamente alijado e renegado pela Wicca Brasileira. Os mistérios da Wica celebram a Deusa como a geradora de tudo e também como nosso destino final. Mas é a força do Deus que nos faz sair do útero da Deusa e nos chama de volta para Ela. Nessa face, Deus teve alguns 'sucessores', se considerarmos os demais Deuses dos Mortos de outros povos como 'filhos' dEle: Osiris/Anubis Hades, Plutão. Como uma continuação ou efeito de sua face como Deus Sacrificado, Deus se torna igualmente o Senhor dos Mortos bem como Aquele que Conduz, seja para uma nova encarnação, seja para a Sumerlândia.
O Deus Monopolista.
O monopólio de um Deus sobre outros Deuses e Deusas foi observado até em culturas politeístas, demonstrando que o desenvolvimento cultural da religião poderia resultar inexorávelmente em alguma forma de monoteísmo, como aconteceu com o Zoroastrismo, o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Eu não concordo com Alain e com o casal Farrar que o Deus monopolista foi uma invenção ou uma aberração de povos nômades. Assim como haviam povos agrários, haviam povos nômades e povos guerreiros e cada qual desenvolveu seus mitos e crenças. Eventualmente, pela expansão territorial ou pela formação de reinos, Deuses da Guerra se tornavam o Deus principal desses povos, quando não se tornavam monopolistas, mas não por escolha e gosto desses Deuses, mas sim por interesses políticos deliberados dos poderes seculares e sacerdotais desses povos. O caso é que a raiz mitica do Deus Monopolista que se manifestou nas atuais formas do monoteísmo provém desse passado pagão. Ahruda Mazda foi outrora o Deus do Fogo, dentre muitos Deuses que existiram no passado politeísta dos Persas, até ser elevado à condição de Senhor absoluto por Zoroaster. Jeová foi outrora um Deus Touro, dentre muitos Deuses que existiram no passado politeísta dos Hebreus, até ser elevado à condição de Senhor pelos rabinos, após a libertação do povo de Israel do cativeiro na Pérsia. Cristo foi outrora um Deus Sacrificado, uma metáfora de uma ordem iniciática que cresceu por sobre as mesmas ordens iniciáticas e mistérios antigos semelhantes à Mithra, Attis, Dioniso. Allah foi outrora um Deus Lunar, igualmente consorte de uma Deusa trifacetada.
O Antideus.
Para pagãos, bruxos e wiccanos não existe o Antideus, mas sim o Embusteiro, um papel quase semelhante ao encenado por Satan nos mitos Judaicos, Cristãos e Islâmicos. A despeito de toda a doutrina existente nessas religiões sobre Satan, é bem possivel que ele tenha sido originado de alguma raiz mítica bem próxima do Deus Gêmeo, mas que com o passar do tempo e a imposição de uma elite sacerdotal, essa raiz mítica foi renegada e trocada por uma visão maniqueísta, um tanto que copiada do Zoroastrismo. A existência de um ente divino, muitas vezes de igual poder, senão criado pelo próprio Deus, que existe apenas para seduzir a humanidade ao 'pecado' ou para usurpar o trono de Deus é um absurdo evidente, criado apenas para induzir a população a obedecer uma elite (secular e sacerdotal) e seus dogmas morais. Mesmo no papel de Deus Gêmeo, não há esse antagonismo pernicioso e fatal que existe na escatologia do monoteísmo, mas sim uma sadia transmissão de poder para manter o equilibrio necessário para a existência.
O Deus Divorciado.
Sem dúvida o capítulo mais engraçado e pitoresco do livro, para não dizer enganado ou equivocado. O monopólio de um Deus ocorreu da mesma forma em sociedades politeístas, como a Grega e a Romana. Os Judeus não deram origem a essa tendência monoteísta, mas sim os Persas, depois da 'reforma' religiosa empenhada por Zoroaster. Inequivocamente, em algum momento, O Deus Divorciado foi consorte de uma Deusa e ambos foram igualmente celebrados por estes povos, em um passado politeísta. Os Gregos e Romanos, apesar de politeístas, desenvolveram o monopólio de um Deus sobre os outros e é bem possível que, mesmo sem a influência do Cristianismo, teriam em algum momento conhecido algum reformador que postulasse o monoteísmo em torno de um Deus, perseguindo e proibindo os antigos ritos. O advento do Cristianismo como religião oficial do Império Romano apenas apressou o processo. Histórica, social, politica e religiosamente muito pouco podemos fazer a respeito da dominação das religiões monoteístas, senão torcer para que seus seguidores sejam mais tolerantes com outras religiões e venham a conhecer as reais raizes miticas e étnicas do Deus que eles adoram, para enfim nos tornarmos irmãos da mesma espécie.
O Deus, como filho e amante.
A ordem mais provável, na mitologia Wica, é primeiro o Deus como o amante consorte da Deusa para então Ele surgir como a Criança da Promessa. A fonte de onde veio o mito de uma Deusa solitária que divide-se a si mesma (Santa Ameba?) para gerar o Deus é atribuído às bruxas toscanas, mais precisamente do relato escrito por Charles Leland em seu "Evangelho de Arádia". Considerando os aspectos do Deus e a manifestação divina no mundo natural, acreditar que a Deusa poderia sozinha gerar dela mesma um Deus tão oposto aos atributos dEla, é transformar a Deusa em uma imitação de Jeová.
O Deus que mede o tempo.
Aqui há uma confusão curiosa. A nossa espécie realmente se juntou em grupos e para organizar as coisas estipulou formas de medir o tempo. Em algumas culturas, usava-se a lua, que foi ora associada a um Deus, ora a uma Deusa. Entretanto, nossos ancestrais eram bastante observadores e notaram que o sol igualmente podia ser usado para medir o tempo e, dependendo da cultura, este foi ora identificado com um Deus ou com uma Deusa. Portanto, não há como concluir que um dos atributos do Deus seja medir o tempo. O mais correto é pensar no Deus como o Ordenador.
O Deus Sol.
Nossos ancestrais passaram a ver no sol um aspecto de algum Deus depois de começarem a cultivar a terra. Entretanto, existem culturas que associam o sol à alguma Deusa. O aspecto mais crucial do aspecto do Deus como o sol vem da associação do sol como um astro-rei e, portanto, evocado na coroação dos reis tribais. Antigamente era bem comum um rei atribuir sua paternidade a alguma forma de Deus que estava associado ao sol.
O Deus da Sabedoria.
Lembrando vagamente o que eu havia lido em "A Deusa Branca" de Robert Graves, a Sabedoria é inspirado pela Deusa. Em termos gerais, os processos mentais mais associados ao Deus são a Lógica e o Raciocínio. Tanto o Saber como o Conhecimento são atributos tanto de Deuses quanto de Deusas, mas mesmo os mitos destes demonstram que isto foi algo adquirido das experiências e vivências. Igualmente temos interessantes mitos de Deuses que são tolos, ignorantes ou ingênuos.
O Deus da Vegetação.
Igualmente ligado á face do Deus enquanto Deus do Sol, bem como de Deus que mede o tempo. A partir do momento e que nossos ancestrais dominaram a técnica de plantio, os ciclos sazonais começaram a ter maior importância, bem como o planejamento das culturas de acordo com esses ciclos. Os Sabats da Wica são um reflexo desse elo entre os ciclos das estações com os ciclos solares, dentro do aspecto do Deus enquanto Senhor dos Campos.
O Deus da Guerra.
Para alguns povos, os ciclos naturais não tinham significado algum. Estes povos nem plantavam nem criavam gado. Eram povos guerreiros e nômades. A vida desses povos consistia ou em pilhar os povos agrários ou em fazer comércio, de forma que nunca tiveram uma ligação sagrada com a natureza. Em alguns casos, mesmo em povos agrários, Deuses e Deusas da Guerra apareceram, como resultado da interação entre culturas ou mesmo do desenvolvimento dos povos e o consequente desenvolvimento da expansão territorial e mesmo da formação de reinos. Para os povos politeístas, a guerra era travada sempre em nome do rei, o Deus ou Deusa da Guerra era apenas evocado para que vencessem. Apenas os povos guerreiros e nômades fizeram guerra em nome de Deus, pois estes povos desenvolveram apenas a ideía de Deus, muitas vezes monopolista e belicoso.
O Deus Artesão.
Eu considero esta face como um reflexo do Deus como o Ordenador. Deus, assim como os homens, gosta da tecnologia, da ciência e do progresso, sempre em busca de mais conforto e eficácia nas coisas da vida. Quando associado à sua face como Deus da Guerra, existe um embotamento de sua face enquanto Deus dos Campos, o sentido sagrado da vida e da preservação do ambiente são conveninetemente esquecidos pela humanidade, fazendo com que a ciência e a tecnologia se tornem fúteis, quando não uma ameaça à nossa espécie.
O Deus de Chifres.
Todos os Deuses antigos, incluindo os Deuses monopolistas das atuais formas do monoteísmo foram ou tiveram este aspecto em algum momento em sua história mítica. A lista de Deuses antigos que eram coroados com vistosos chifres é imensa e tem um vínculo claro com a nobreza, a fertilidade e a virilidade própria do Deus. Mesmo que posteriormente este passado tenha sido esquecido, renegado ou proibido por interesses políticos, o caráter fálico dos Deuses (até os monopolistas) está presente nos ritos e nos atos atribuidos a eles. A imagem do Deus de Chifres é considerado tão antigo quanto a imagem da "Vênus" de Willendorf e simboliza o seu aspecto tanto como o Senhor da Caça quanto como o Senhor das Feras.
O Deus Gêmeo. (Dióscoros)
O exemplo mais usado e menos ideal é o mito do Rei Carvalho e do Rei Azevinho. Apesar destes serem manifestações do Deus, como os nomes dizem eles são Reis, não Deus. Eu pessoalmente considero exemplos melhores dessa face de Deus os mitos de Osiris e Set, de Cronos e Zeus, de Saturno e Júpiter, de Castor e Polux. O mito do Deus Gêmeo é uma síntese da Roda do Ano celebrada na Wica, em dois momentos cruciais: o Verão e o Inverno. Ambos os ciclos sazonais disputam em poder e força iguais o dominio sobre o nosso mundo e não são, embora opostos, antagônicos, mas sim cumprem cada um para manter o equilíbrio necessário para a existência da vida.
O Deus Sacrificado.
Certamente o mito mais presente e mais imitado em várias religiões. Sem a idéia mítica dos povos pagãos de um Deus Sacrificado teria sido impossível para o Cristianismo ser bem sucedido entre os 'gentios'. Essa face de Deus está ligada à face do Deus como o Senhor dos Campos, bem como à sua face como Senhor das Feras (o que foi ignorado pelo casal Farrar). Em alguns povos infelizmente essa face do Deus ficou exacerbada, levando a massacres disfarçados de sacrifícios ao Deus, como aconteceu nos povos pré-colombianos. O sacrificio, seja de vida vegetal, seja de vida animal, seja de vida humana, tinha um sentido muito mais sagrado e específico. A ritualização da violência e da crueldade é essencial para nós, como bem disse Alain Danielou e a maior parte dos povos que praticavam sacrificios e sangue o faziam com uma única vítima sagrada, apenas em ocasiões muito especiais. Para nossos ancestrais, a morte cerimonial de um rei era fundamental para a continuidade da vida comunitária. Para se tornar o Deus do Além, o Deus se sacrifica. Sem isso, as sementes não brotariam e as almas não teriam descanso nem reencarnariam.
O Deus do Além.
A face mais temida e menos comentada nos circulos wiccanos e certamente ignorada na Wilka S/A, o que eu considero curioso existir tal tabu entre pagãos, bruxos e wiccanos quanto ao aspecto de Deus como o Senhor dos Mortos. A Deusa também tem um lado negro, terrivel e sinistro completamente alijado e renegado pela Wicca Brasileira. Os mistérios da Wica celebram a Deusa como a geradora de tudo e também como nosso destino final. Mas é a força do Deus que nos faz sair do útero da Deusa e nos chama de volta para Ela. Nessa face, Deus teve alguns 'sucessores', se considerarmos os demais Deuses dos Mortos de outros povos como 'filhos' dEle: Osiris/Anubis Hades, Plutão. Como uma continuação ou efeito de sua face como Deus Sacrificado, Deus se torna igualmente o Senhor dos Mortos bem como Aquele que Conduz, seja para uma nova encarnação, seja para a Sumerlândia.
O Deus Monopolista.
O monopólio de um Deus sobre outros Deuses e Deusas foi observado até em culturas politeístas, demonstrando que o desenvolvimento cultural da religião poderia resultar inexorávelmente em alguma forma de monoteísmo, como aconteceu com o Zoroastrismo, o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Eu não concordo com Alain e com o casal Farrar que o Deus monopolista foi uma invenção ou uma aberração de povos nômades. Assim como haviam povos agrários, haviam povos nômades e povos guerreiros e cada qual desenvolveu seus mitos e crenças. Eventualmente, pela expansão territorial ou pela formação de reinos, Deuses da Guerra se tornavam o Deus principal desses povos, quando não se tornavam monopolistas, mas não por escolha e gosto desses Deuses, mas sim por interesses políticos deliberados dos poderes seculares e sacerdotais desses povos. O caso é que a raiz mitica do Deus Monopolista que se manifestou nas atuais formas do monoteísmo provém desse passado pagão. Ahruda Mazda foi outrora o Deus do Fogo, dentre muitos Deuses que existiram no passado politeísta dos Persas, até ser elevado à condição de Senhor absoluto por Zoroaster. Jeová foi outrora um Deus Touro, dentre muitos Deuses que existiram no passado politeísta dos Hebreus, até ser elevado à condição de Senhor pelos rabinos, após a libertação do povo de Israel do cativeiro na Pérsia. Cristo foi outrora um Deus Sacrificado, uma metáfora de uma ordem iniciática que cresceu por sobre as mesmas ordens iniciáticas e mistérios antigos semelhantes à Mithra, Attis, Dioniso. Allah foi outrora um Deus Lunar, igualmente consorte de uma Deusa trifacetada.
O Antideus.
Para pagãos, bruxos e wiccanos não existe o Antideus, mas sim o Embusteiro, um papel quase semelhante ao encenado por Satan nos mitos Judaicos, Cristãos e Islâmicos. A despeito de toda a doutrina existente nessas religiões sobre Satan, é bem possivel que ele tenha sido originado de alguma raiz mítica bem próxima do Deus Gêmeo, mas que com o passar do tempo e a imposição de uma elite sacerdotal, essa raiz mítica foi renegada e trocada por uma visão maniqueísta, um tanto que copiada do Zoroastrismo. A existência de um ente divino, muitas vezes de igual poder, senão criado pelo próprio Deus, que existe apenas para seduzir a humanidade ao 'pecado' ou para usurpar o trono de Deus é um absurdo evidente, criado apenas para induzir a população a obedecer uma elite (secular e sacerdotal) e seus dogmas morais. Mesmo no papel de Deus Gêmeo, não há esse antagonismo pernicioso e fatal que existe na escatologia do monoteísmo, mas sim uma sadia transmissão de poder para manter o equilibrio necessário para a existência.
O Deus Divorciado.
Sem dúvida o capítulo mais engraçado e pitoresco do livro, para não dizer enganado ou equivocado. O monopólio de um Deus ocorreu da mesma forma em sociedades politeístas, como a Grega e a Romana. Os Judeus não deram origem a essa tendência monoteísta, mas sim os Persas, depois da 'reforma' religiosa empenhada por Zoroaster. Inequivocamente, em algum momento, O Deus Divorciado foi consorte de uma Deusa e ambos foram igualmente celebrados por estes povos, em um passado politeísta. Os Gregos e Romanos, apesar de politeístas, desenvolveram o monopólio de um Deus sobre os outros e é bem possível que, mesmo sem a influência do Cristianismo, teriam em algum momento conhecido algum reformador que postulasse o monoteísmo em torno de um Deus, perseguindo e proibindo os antigos ritos. O advento do Cristianismo como religião oficial do Império Romano apenas apressou o processo. Histórica, social, politica e religiosamente muito pouco podemos fazer a respeito da dominação das religiões monoteístas, senão torcer para que seus seguidores sejam mais tolerantes com outras religiões e venham a conhecer as reais raizes miticas e étnicas do Deus que eles adoram, para enfim nos tornarmos irmãos da mesma espécie.
A natureza do homem e do divino
Ninguém pode viver senão destruindo a vida, senão matando outros seres vivos. Nenhum ser pode subsistir sem devorar outras formas de vida, vegetal ou animal. Isso é um aspecto fundamental da natureza. Toda a vida do mundo, animal ou humana, é uma interminável matança. Existir significa comer e ser comido. Todo ser vivo alimenta-se de outros seres e irá se tornar o alimento de outros seres num ciclo interminável.
Já que ninguém pode existir sem se alimentar da vida de outros seres, deve-se assumir a responsabilidade perante a si mesmo e perante aos Deuses que o quiseram assim. Para associar os Deuses aos nossos atos, é necessário ultrapassarmos a fase instintiva, ritualizarmos o ato de matar como o ato de amor. Para partilhar com os Deuses as responsabilidades do ato fratricida pelo qual somos obrigados, para sobreviver, a devorar outros seres vivos, devemos oferecer-lhes vítimas em sacrifício. Nós devemos oferecer aos Deuses as primícias das colheitas, o primeiro bocado de todo alimento. Nós devemos matar diante deles o animal que devoraremos.
Somente se nos conscientizarmos do valor de nossos atos, realizando a vontade do Deus que quis que a vida só subsistisse pela morte, pelo assassinato, é que poderemos limitar os seus efeitos, representar a parte que nos cabe na harmonia do mundo. Só então poderemos evitar ultrapassarmos nosso papel e evitar as hecatombes que sobrevêm quando se pretende ignorar a verdadeira natureza do homem e do divino.
O homem só deveria comer a carne de animais que ele mesmo ritualmente sacrificou, tomando os Deuses como testemunhas da crueldade de um mundo onde a vida é possível apenas destruindo-se a vida e representando assim honestamente seu papel na harmonia do mundo, sem falsa sensibilidade nem hipocrisia.
Toda religião baseia-se na noção de sacrifício e consumo da vitima sacrificada, seja a vítima vegetal, animal ou humana. Nosso corpo é apenas um cemitério e servirá em sua totalidade, material ou mental, de alimento a outros seres vivos.
A crueldade, por ser um dos elementos constituintes fundamentais do mundo, faz parte da natureza de todo ser vivo, de um modo mais ou menos secreto. O gosto pela violência, pela morte, está sempre latente em todas as sociedades.
Nós não podemos lutar com eficácia contra uma dessas formas do instinto, da necessidade de crueldade e aceitar outras. Um dos objetivos dos sacrifícios sangrentos é canalizar esse instinto, enfrentá-lo, invocar dos Deuses o testemunho da nossa crueldade, vacinarmo-nos contra suas formas perversas. Os sacrifícios, que satisfazem nossa necessidade subconsciente de crueldade, juntamente com o estabelecimento de um sistema social que dá lugar a todas as raças, crenças, desvios, evita a dominação ou a perseguição de um grupo em relação a outro, são talvez a única maneira de estabelecer o equilíbrio e o desenvolvimento de uma sociedade justa e humana.
Texto composto a partir do livro "Shiva e Dioniso" de Alain Danielou, pg 145-146, 155-156.
Já que ninguém pode existir sem se alimentar da vida de outros seres, deve-se assumir a responsabilidade perante a si mesmo e perante aos Deuses que o quiseram assim. Para associar os Deuses aos nossos atos, é necessário ultrapassarmos a fase instintiva, ritualizarmos o ato de matar como o ato de amor. Para partilhar com os Deuses as responsabilidades do ato fratricida pelo qual somos obrigados, para sobreviver, a devorar outros seres vivos, devemos oferecer-lhes vítimas em sacrifício. Nós devemos oferecer aos Deuses as primícias das colheitas, o primeiro bocado de todo alimento. Nós devemos matar diante deles o animal que devoraremos.
Somente se nos conscientizarmos do valor de nossos atos, realizando a vontade do Deus que quis que a vida só subsistisse pela morte, pelo assassinato, é que poderemos limitar os seus efeitos, representar a parte que nos cabe na harmonia do mundo. Só então poderemos evitar ultrapassarmos nosso papel e evitar as hecatombes que sobrevêm quando se pretende ignorar a verdadeira natureza do homem e do divino.
O homem só deveria comer a carne de animais que ele mesmo ritualmente sacrificou, tomando os Deuses como testemunhas da crueldade de um mundo onde a vida é possível apenas destruindo-se a vida e representando assim honestamente seu papel na harmonia do mundo, sem falsa sensibilidade nem hipocrisia.
Toda religião baseia-se na noção de sacrifício e consumo da vitima sacrificada, seja a vítima vegetal, animal ou humana. Nosso corpo é apenas um cemitério e servirá em sua totalidade, material ou mental, de alimento a outros seres vivos.
A crueldade, por ser um dos elementos constituintes fundamentais do mundo, faz parte da natureza de todo ser vivo, de um modo mais ou menos secreto. O gosto pela violência, pela morte, está sempre latente em todas as sociedades.
Nós não podemos lutar com eficácia contra uma dessas formas do instinto, da necessidade de crueldade e aceitar outras. Um dos objetivos dos sacrifícios sangrentos é canalizar esse instinto, enfrentá-lo, invocar dos Deuses o testemunho da nossa crueldade, vacinarmo-nos contra suas formas perversas. Os sacrifícios, que satisfazem nossa necessidade subconsciente de crueldade, juntamente com o estabelecimento de um sistema social que dá lugar a todas as raças, crenças, desvios, evita a dominação ou a perseguição de um grupo em relação a outro, são talvez a única maneira de estabelecer o equilíbrio e o desenvolvimento de uma sociedade justa e humana.
Texto composto a partir do livro "Shiva e Dioniso" de Alain Danielou, pg 145-146, 155-156.
sábado, 19 de abril de 2008
O Deus Desconhecido
Saulo, novo converso ao Cristianismo, foi o apóstolo que iniciou de forma incisiva a evangelização dos povos chamados de 'gentios' pelos Judeus. O trabalho missionário de Saulo não foi bem recebido pelos demais apóstolos, o núcleo de Jerusalém acreditava que Cristo tinha vindo para salvar apenas aos Judeus, reunir as doze tribos de Israel, restaurar o Reino de Judá para então iniciar o Milênio do Ha-Massiah.
Os cidadãos que estavam reunidos no Areópago para ouvir o discurso de Saulo sobre o 'Deus desconhecido' tinham poucos motivos para serem otimistas quanto ao futuro da religião. Os Caminhos Antigos estavam morrendo, os Deuses Antigos pareciam abstratos e embora cultos e filosofias apareciam em todo lugar, nenhuma delas pareciam ser ideais para a tarefa de dar às pessoas desse Império Cosmopolita uma visão moral capaz de fazer sentido em um mundo tão diferente do mundo de seus ancestrais. A velha religião agrária trazia nostalgia, mas era obsoleta e incompatível para governar um Império Cosmopolita; as filosofias gregas do Platonismo e do Estoicismo eram intelectualmente satisfatórias, mas tinham pouco apelo ao homem comum; o Judaismo estava se espalhando e tinha seus atrativos, mas a questão política da independencia judaica tornava dificil reconcicliar com o patriotismo romano; as religiões de mistério de deuses-salvadores como Dioniso ou Mithra produziram poderosas experiências religiosas, mas elas não davam pistas de como canalizar essa energia para algum propósito social útil.
- Homens de Atenas! Em tudo vejo que vocês são muito religiosos. Porque, quando eu estava passando pela cidade, olhando os lugares onde fazem suas reuniões religiosas, encontrei um altar no qual está escrito AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse Deus que vocês adoram sem conhecer á justamente aquele que eu estou anunciando.
A exposição paulina foi curta. Disse à platéia dos aeropagitas que considerava os atenienses o povo mais religiosos do mundo porque, quando visitava a cidade, em meio a incontáveis estátuas de deuses, encontrara uma inscrição singular que lhe chamara a atenção: "ao Deus Desconhecido", dizia ela. Naquele cidade até um deus que ninguém sabia quem era, ou quem fosse, era digno de veneração! A existência desse deus abstrato entre tantos outros cultuados, mostrara a Paulo ter o nascente cristianismo um ponto em comum com os atenienses, pois o Deus que ele pregava "não habita em templo feito por mão humana" e, igualmente, "não é servido por mãos humanas".
Era, pois, também um "Deus desconhecido", que paira sobre tudo e está acima de tudo.
Parece ter comovido poucos. Depois, correndo a noticia da sua chegada, alguns filósofos, supõe-se que estóicos e epicuristas, teriam manifestado o desejo, simples curiosidade, de conhecer o evangelista mais de perto, pois, "os atenienses, com efeito, e também os estrangeiros aí residentes, não se entretinham com outra coisa senão em dizer, ou ouvir, as últimas novidades". Quais seriam suas idéias, e o que vinha aquele pregador da Judéia anunciar que eles de antemão já não soubessem?
Nada ouviram falar dele, mas a cidade há séculos estivera com suas portas abertas para todo e qualquer tipo de pensamento. Atitude aliás, acerbamente reprovada por Sócrates e seu discípulo Platão. Mas Atenas era assim, um bazar da filosofia e da mais diversas excentricidades.
Os atenienses que se interessaram pela nova religião viram nela o potencial que esperavam. Ela unia o monoteismo mitico dos Judeus ao monismo de Platão e adicionava uma advertência para dar a César o que era de César. Ela propiciava um novo salvador cujos rituais eram semelhantes aos de Mithra e produzia uma experiência religiosa poderosa chamada Espírito Santo.
A idéia de um Deus Universal, uma Causa Primordial, não era novo aos Gregos, muito antes de dominarem os Judeus a filosofia de Platão havia cristalizado o conceito do Logos e os Judeus helenizados souberam usar desse conceito para dar ao Deus dos Israelitas uma identidade mais cosmopolita e mais universal.
O que Saulo, como bom proselitista da nova religião, não expôs aos atenienses naquela tarde que em breve não faria muita diferença, eram os detalhes quanto às raízes e origens desse Deus Desconhecido, bem como a terrível doutrina que deveria ser seguida à custa de perder o contato com os amigos, os familiares e a sociedade.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Beijo da bruxa
Um assunto polêmico e evitado pelos pseudo-bruxos e sacerdotes é o folclore que cerca o suposto hábito entre as bruxas de beijar o trazeiro do Bode do Sabat.
Encontrei uma vaga citação do livro "Wicca: A Feitiçaria Moderna" de Gerina Dunwich:
"O culminar da mitologia da bruxaria ocorreu na descrição dos Sabbath, nos processos contra a Bruxaria, na famigerada Caça às Bruxas. O Sabbath era considerado uma paródia da Missa. Bruxas e feiticeiros eram representados como voando em vassouras ou bodes, até ao Sabbath onde o Diabo celebraria a Missa Negra. Haveria danças obscenas, um banquete com poções feitas em caldeirões. Um ato particular do Sabbath incluía o beijo ritual do traseiro do Diabo, aparentemente uma farsa ao tradicional ato cristão de submissão, de ajoelhar e beijar a mão ou o anel do clérigo."
Entretanto tal ato, ao invés de ser humilhante, pode conter um mistério iniciático. Segundo Alain Danielou (Shiva e Dioniso, pg 106):
"No corpo humano, a porta estreita que conduz ao centro-terra, à Deusa-Serpente, é o anus. O iogue que consegue despertar a energia enrolada atinge, um a um, todos os centros onde residem as formas superiores da vida e os poderes sutis que farão dele senhor de todas as energias latentes em si mesmo e fora de si, e que lhe permitirão dominar as forças obscuras da natureza elementar."
O 'beijo infame', como foi chamado, servia não como um sinal de submissão, mas era um ato ritual para despertar esse centro e, com isso, despertar a divindade interior do celebrante. Outras ordens iniciáticas foram igualmente acusadas dessa prática, como os Albigenses, os Valdenses, os Cátaros, os Templários.
Doreen Valiente no livro 'Witchcraft for Tomorrow' explicou a prática do Beijo Quíntuplo na Wica:
"Muitas práticas mágico-religiosas posteriores também influenciaram o culto dos bruxos medievais, tais como o conhecimento de técnicas de magia sexual e os cinco beijos rituais, legados pelos sarracenos, invasores da Península Ibérica na Idade Média. Atualmente, em covens modernos, o Beijo Quíntuplo é dado sobre os pés, joelhos, púbis, seios ou peito e boca, porém entre os iniciados tradicionalistas e em covens que ainda seguem o velho caminho, esses beijos são dados sobre os pontos energéticos destinados a levantar o poder."
A escola de mistérios sarracena é explicada por E.W.Liddell, na revista 'The Cauldron':
"As únicas inovações da Arte que podem ser positivamente atribuídas às fontes sarracenas foram: o uso das cordas, o conceito do 'segundo templo', os cinco beijos rituais e as específicas técnicas de magia sexual. Os chamados cinco beijos e as técnicas sexuais estão interrelacionadas. Os adeptos árabes ativavam vários centros no corpo dos iniciados soprando de um modo peculiar em regiões específicas. Muitos praticantes interpretaram mal o 'sopro mágico' dos mestres árabes e fomentaram a prática de beijar certas partes do corpo do candidato. Os adeptos sarracenos sopravam os pés do iniciado para remover impurezas cármicas e medos. Os pés representam o eu inferior ou a mente subconsciente, nas escolas de mistérios do Oriente Médio. Os adeptos sarracenos sopravam no falo para acelerar o poder solar no corpo masculino. A correta aplicação da energia sexual habilitava o aspirante a construir o 'segundo templo', a região da virilha para a garganta era considerada como representante do eu médio, ou mente consciente. Os mestres árabes sopravam na boca para ativar os centros da cabeça. Os centros da garganta, testa e cabeça eram ativados por um sopro quente e frio, técnicas dos adeptos sarracenos. É trágico que o sopro mágico aplicado no ânus ou centro da raíz tenha sido mal interpretado, pois os mestres árabes sopravam ali para desobstruir as faculdades psíquicas dos iniciados. Isso está ligado com habilidades de clarividência e memórias cármicas."
Formas posteriores contemporâneas da religião Wica acabou por incorporar causas mais políticas e ideológicas do que sagradas, como o feminismo radical, a exclusão do Deus e o foco na Deusa, a invenção de divindades para sacralizar a homossexualidade, a ausência dos ritos eróticos e da nudez ritual, a mistura de panteões e o sincretismo de métodos. A Wicca Brasileira está se tornando uma imitação do Cristianismo por colocar a Deusa no centro do culto, como uma substituta do Deus Cristão e por promover o puritanismo sexualmente recalcado, quando não é usada para agendas pessoais.
Encontrei uma vaga citação do livro "Wicca: A Feitiçaria Moderna" de Gerina Dunwich:
"O culminar da mitologia da bruxaria ocorreu na descrição dos Sabbath, nos processos contra a Bruxaria, na famigerada Caça às Bruxas. O Sabbath era considerado uma paródia da Missa. Bruxas e feiticeiros eram representados como voando em vassouras ou bodes, até ao Sabbath onde o Diabo celebraria a Missa Negra. Haveria danças obscenas, um banquete com poções feitas em caldeirões. Um ato particular do Sabbath incluía o beijo ritual do traseiro do Diabo, aparentemente uma farsa ao tradicional ato cristão de submissão, de ajoelhar e beijar a mão ou o anel do clérigo."
Entretanto tal ato, ao invés de ser humilhante, pode conter um mistério iniciático. Segundo Alain Danielou (Shiva e Dioniso, pg 106):
"No corpo humano, a porta estreita que conduz ao centro-terra, à Deusa-Serpente, é o anus. O iogue que consegue despertar a energia enrolada atinge, um a um, todos os centros onde residem as formas superiores da vida e os poderes sutis que farão dele senhor de todas as energias latentes em si mesmo e fora de si, e que lhe permitirão dominar as forças obscuras da natureza elementar."
O 'beijo infame', como foi chamado, servia não como um sinal de submissão, mas era um ato ritual para despertar esse centro e, com isso, despertar a divindade interior do celebrante. Outras ordens iniciáticas foram igualmente acusadas dessa prática, como os Albigenses, os Valdenses, os Cátaros, os Templários.
Doreen Valiente no livro 'Witchcraft for Tomorrow' explicou a prática do Beijo Quíntuplo na Wica:
"Muitas práticas mágico-religiosas posteriores também influenciaram o culto dos bruxos medievais, tais como o conhecimento de técnicas de magia sexual e os cinco beijos rituais, legados pelos sarracenos, invasores da Península Ibérica na Idade Média. Atualmente, em covens modernos, o Beijo Quíntuplo é dado sobre os pés, joelhos, púbis, seios ou peito e boca, porém entre os iniciados tradicionalistas e em covens que ainda seguem o velho caminho, esses beijos são dados sobre os pontos energéticos destinados a levantar o poder."
A escola de mistérios sarracena é explicada por E.W.Liddell, na revista 'The Cauldron':
"As únicas inovações da Arte que podem ser positivamente atribuídas às fontes sarracenas foram: o uso das cordas, o conceito do 'segundo templo', os cinco beijos rituais e as específicas técnicas de magia sexual. Os chamados cinco beijos e as técnicas sexuais estão interrelacionadas. Os adeptos árabes ativavam vários centros no corpo dos iniciados soprando de um modo peculiar em regiões específicas. Muitos praticantes interpretaram mal o 'sopro mágico' dos mestres árabes e fomentaram a prática de beijar certas partes do corpo do candidato. Os adeptos sarracenos sopravam os pés do iniciado para remover impurezas cármicas e medos. Os pés representam o eu inferior ou a mente subconsciente, nas escolas de mistérios do Oriente Médio. Os adeptos sarracenos sopravam no falo para acelerar o poder solar no corpo masculino. A correta aplicação da energia sexual habilitava o aspirante a construir o 'segundo templo', a região da virilha para a garganta era considerada como representante do eu médio, ou mente consciente. Os mestres árabes sopravam na boca para ativar os centros da cabeça. Os centros da garganta, testa e cabeça eram ativados por um sopro quente e frio, técnicas dos adeptos sarracenos. É trágico que o sopro mágico aplicado no ânus ou centro da raíz tenha sido mal interpretado, pois os mestres árabes sopravam ali para desobstruir as faculdades psíquicas dos iniciados. Isso está ligado com habilidades de clarividência e memórias cármicas."
Formas posteriores contemporâneas da religião Wica acabou por incorporar causas mais políticas e ideológicas do que sagradas, como o feminismo radical, a exclusão do Deus e o foco na Deusa, a invenção de divindades para sacralizar a homossexualidade, a ausência dos ritos eróticos e da nudez ritual, a mistura de panteões e o sincretismo de métodos. A Wicca Brasileira está se tornando uma imitação do Cristianismo por colocar a Deusa no centro do culto, como uma substituta do Deus Cristão e por promover o puritanismo sexualmente recalcado, quando não é usada para agendas pessoais.
A comunhão pela carne
O corpo é a base, o instrumento de toda a realização.
O método do tantra desenvolve e utiliza as possibilidades físicas, sutis e espirituais do ser humano, tendo em conta a interdependência dos aspectos do ser vivo e sua correspondência com os aspectos do ser cósmico. Esse método tem por objetivo despertar, utilizar, controlar, partindo da energia enrolada no centro e na base, as energias potenciais que estão ligadas a todas as funções do corpo que são a própria base da vida, mas também aos poderes latentes, percepções sutis não condicionadas pelo tempo e espaço, poderes mágicos supra intelectuais, espirituais, que não estão diretamente sob o controle do pensamento e da vontade.
Toda tentativa de experiência que não leve em conta a natureza do ser vivo em sua totalidade é uma ilusão. O desenvolvimento aparente de certas faculdades mentais correspondem a uma diminuição global das percepções intuitivas, da força vital e é uma decadência que anuncia a morte da espécie.
O tantra, antes de considerar uma libertação além do mundo, tem como efeito principal a realização da liberdade no mundo, pelo retorno aos instintos vitais elementares, à sua natureza mais profunda e mais recalcada, a natureza que ainda está mais próxima do divino. A promiscuidade, o desaparecimento momentâneo de qualquer limite, a evocação e a reativação do Caos primordial favorece o êxtase, o retorno à origem da vida e o principio gerador divino. A sagração e a ritualização da vida eram características de todas as civilizações tradicionais.
Toda beleza, toda alegria do mundo manifestam-se por uma explosão erótica. Tudo está organizado nos seres vivos em função dessa expressão de prazer, de alegria, de beleza, de felicidade, que é a natureza divina de tudo o que existe. O Eros é o laço de atração que une dois polos opostos e complementares. O ato sexual pode ser um procedimento de identificação mística do mesmo modo que outros meios provocam o êxtase, seu emprego é normal desde que grupo social deseje aliar-se com as forças naturais, representadas por protagonistas sagrados. A identificação com o ser divino no prazer se realiza através dos ritos sexuais, todo ato sexual pode se tornar um sacramento.
No rito, o homem se identifica com o primeiro princípio e a mulher com o outro. Essa união reproduz o Hiero Gamos, o Casal Divino, o Andrógino, bem como o mistério da natureza desse mundo, um mundo que é manifestado e condicionado, em que a humanidade aparece como separados em uma dualidade, vão se unir por um instante. No orgasmo sexual, a lei da dualidade é suspensa, o êxtase ocorre e, no arrebatamento, conduz os celebrantes à iluminação absoluta.
Texto composto a partir do livro "Shiva e Dioniso", Alain Danielou, pg 131-134, 139-141.
Nota: Na década de 60, no século XX, a Revolução Cultural não conseguiu vencer o enorme puritanismo e a repressão sexual porque na ideologia do "Amor Livre" faltaram a sacralidade e a ritualização nessa nova forma de relacionamento humano. Ainda no século XXI formas de sexualidade diferentes das convenções sociais são perseguidas, ainda há um enorme tabu quando o assunto é sexo, propiciando o aparecimento de doenças, violências e desvios sexuais.
O método do tantra desenvolve e utiliza as possibilidades físicas, sutis e espirituais do ser humano, tendo em conta a interdependência dos aspectos do ser vivo e sua correspondência com os aspectos do ser cósmico. Esse método tem por objetivo despertar, utilizar, controlar, partindo da energia enrolada no centro e na base, as energias potenciais que estão ligadas a todas as funções do corpo que são a própria base da vida, mas também aos poderes latentes, percepções sutis não condicionadas pelo tempo e espaço, poderes mágicos supra intelectuais, espirituais, que não estão diretamente sob o controle do pensamento e da vontade.
Toda tentativa de experiência que não leve em conta a natureza do ser vivo em sua totalidade é uma ilusão. O desenvolvimento aparente de certas faculdades mentais correspondem a uma diminuição global das percepções intuitivas, da força vital e é uma decadência que anuncia a morte da espécie.
O tantra, antes de considerar uma libertação além do mundo, tem como efeito principal a realização da liberdade no mundo, pelo retorno aos instintos vitais elementares, à sua natureza mais profunda e mais recalcada, a natureza que ainda está mais próxima do divino. A promiscuidade, o desaparecimento momentâneo de qualquer limite, a evocação e a reativação do Caos primordial favorece o êxtase, o retorno à origem da vida e o principio gerador divino. A sagração e a ritualização da vida eram características de todas as civilizações tradicionais.
Toda beleza, toda alegria do mundo manifestam-se por uma explosão erótica. Tudo está organizado nos seres vivos em função dessa expressão de prazer, de alegria, de beleza, de felicidade, que é a natureza divina de tudo o que existe. O Eros é o laço de atração que une dois polos opostos e complementares. O ato sexual pode ser um procedimento de identificação mística do mesmo modo que outros meios provocam o êxtase, seu emprego é normal desde que grupo social deseje aliar-se com as forças naturais, representadas por protagonistas sagrados. A identificação com o ser divino no prazer se realiza através dos ritos sexuais, todo ato sexual pode se tornar um sacramento.
No rito, o homem se identifica com o primeiro princípio e a mulher com o outro. Essa união reproduz o Hiero Gamos, o Casal Divino, o Andrógino, bem como o mistério da natureza desse mundo, um mundo que é manifestado e condicionado, em que a humanidade aparece como separados em uma dualidade, vão se unir por um instante. No orgasmo sexual, a lei da dualidade é suspensa, o êxtase ocorre e, no arrebatamento, conduz os celebrantes à iluminação absoluta.
Texto composto a partir do livro "Shiva e Dioniso", Alain Danielou, pg 131-134, 139-141.
Nota: Na década de 60, no século XX, a Revolução Cultural não conseguiu vencer o enorme puritanismo e a repressão sexual porque na ideologia do "Amor Livre" faltaram a sacralidade e a ritualização nessa nova forma de relacionamento humano. Ainda no século XXI formas de sexualidade diferentes das convenções sociais são perseguidas, ainda há um enorme tabu quando o assunto é sexo, propiciando o aparecimento de doenças, violências e desvios sexuais.
quarta-feira, 16 de abril de 2008
A raiz dos conflitos religiosos
O fenômeno religioso manifestou-se e concretizou-se sob duas formas opostas e contraditórias. Uma ligada ao mundo da natureza, a outra ligada ao mundo da cidade.
A religião da natureza representa o conjunto dos esforços do homem para compreender a natureza, para harmonizar-se com ela, penetrar-lhe os segredos, cooperar na obra dela. Nessa aproximação não há separação do domínio corporal do domínio intelectual e espiritual, o corpo é o instrumento de todas as realizações humanas e deve ser tratado como tal.
Nessa religião, somente aqueles que compreendem o mundo natural, que se identifica com ele, que ocupa um lugar entre as árvores e animais é que pode se aproximar do mundo dos espíritos e dos Deuses. Para o homem consciente de que a natureza é a própria forma do divino, todo ser, toda vida, todo ato ganha um caráter sagrado, torna-se um rito, um meio de comunicação com o mundo astral. A alegria e sobrevivência do homem dependem da realização do lugar que ele ocupa entre os seres vivos - como espécie - e entre os homens - como indivíduo. Quando o homem atribui a si um papel que não é o seu na sociedade, ele se torna um inimigo da sociedade; quando atribui a si um papel de predador, um inimigo das outras espécies, ele se torna um inimigo dos Deuses.
A religião das cidades, da sociedade dos homens, impõe sanções divinas a convenções sociais, erige leis humanas em atos sagrados, serve de desculpa às ambições humanas para dominar e usar a natureza, promove a prepotência humana em detrimento à outras espécies, até as supranaturais.
Essa religião adquiriu esse caráter antropocentrista surgiu sob a influência das concepções religiosas rudimentares dos conquistadores nômades. Os povos nômades não tem verdadeiro contato com a natureza, não vivem em comunidade com os outros seres, a não ser os que dominaram ou domesticaram e por isso eram mais predispostos ao monoteísmo. Qualquer religião que considera seus fiéis como eleitos que pretendem ter recebido de um deus o direito e o dever de propagar suas crenças, seus costumes e destruir ou sujeitar os 'incrédulos' é uma impostura.
Quer se trate do brahmanismo, do zoroastrismo, do budismo, do judaismo, do cristianismo, do islamismo, sempre se encontrará a mesma oposição à Religião Antiga. Uma das armas dessa religião é a tirania moral, baseada em dogmas que lhes permitem disciplinar o homem, opor-se à sua realização. O puritanismo é totalmente desconhecido no mundo natural, a perseguição à sexualidade é uma técnica característica de todas as tiranias patriarcais, sejam estas políticas ou religiosas. O poder secular ou sacerdotal autoritários são incompatíveis com a liberdade necessária a toda pesquisa, seus sacramentos são apenas ritos sociais, sua moral reduz-se a uma perseguição do sexual que faz daqueles que suportam tal tirania em seres frustrados, agressivos e perigosos.
Texto composto a partir do livro: Shiva e Dioniso de Alain Danielou, pg 7-12.
Nota: Nossa espécie tem por característica a necessidade de viver em grupos e disso se desenvolveram a sociedade, a cidade e a civilização. Paradoxalmente faz parte de nossa natureza e, portanto, é igualmente uma forma do divino. Nós vivemos em um mundo dual e celebramos a Polaridade Divina. Coisas opostas não são necessáriamente antagônicas e conflitos poderiam ser resolvidos sem violência.
A religião da natureza representa o conjunto dos esforços do homem para compreender a natureza, para harmonizar-se com ela, penetrar-lhe os segredos, cooperar na obra dela. Nessa aproximação não há separação do domínio corporal do domínio intelectual e espiritual, o corpo é o instrumento de todas as realizações humanas e deve ser tratado como tal.
Nessa religião, somente aqueles que compreendem o mundo natural, que se identifica com ele, que ocupa um lugar entre as árvores e animais é que pode se aproximar do mundo dos espíritos e dos Deuses. Para o homem consciente de que a natureza é a própria forma do divino, todo ser, toda vida, todo ato ganha um caráter sagrado, torna-se um rito, um meio de comunicação com o mundo astral. A alegria e sobrevivência do homem dependem da realização do lugar que ele ocupa entre os seres vivos - como espécie - e entre os homens - como indivíduo. Quando o homem atribui a si um papel que não é o seu na sociedade, ele se torna um inimigo da sociedade; quando atribui a si um papel de predador, um inimigo das outras espécies, ele se torna um inimigo dos Deuses.
A religião das cidades, da sociedade dos homens, impõe sanções divinas a convenções sociais, erige leis humanas em atos sagrados, serve de desculpa às ambições humanas para dominar e usar a natureza, promove a prepotência humana em detrimento à outras espécies, até as supranaturais.
Essa religião adquiriu esse caráter antropocentrista surgiu sob a influência das concepções religiosas rudimentares dos conquistadores nômades. Os povos nômades não tem verdadeiro contato com a natureza, não vivem em comunidade com os outros seres, a não ser os que dominaram ou domesticaram e por isso eram mais predispostos ao monoteísmo. Qualquer religião que considera seus fiéis como eleitos que pretendem ter recebido de um deus o direito e o dever de propagar suas crenças, seus costumes e destruir ou sujeitar os 'incrédulos' é uma impostura.
Quer se trate do brahmanismo, do zoroastrismo, do budismo, do judaismo, do cristianismo, do islamismo, sempre se encontrará a mesma oposição à Religião Antiga. Uma das armas dessa religião é a tirania moral, baseada em dogmas que lhes permitem disciplinar o homem, opor-se à sua realização. O puritanismo é totalmente desconhecido no mundo natural, a perseguição à sexualidade é uma técnica característica de todas as tiranias patriarcais, sejam estas políticas ou religiosas. O poder secular ou sacerdotal autoritários são incompatíveis com a liberdade necessária a toda pesquisa, seus sacramentos são apenas ritos sociais, sua moral reduz-se a uma perseguição do sexual que faz daqueles que suportam tal tirania em seres frustrados, agressivos e perigosos.
Texto composto a partir do livro: Shiva e Dioniso de Alain Danielou, pg 7-12.
Nota: Nossa espécie tem por característica a necessidade de viver em grupos e disso se desenvolveram a sociedade, a cidade e a civilização. Paradoxalmente faz parte de nossa natureza e, portanto, é igualmente uma forma do divino. Nós vivemos em um mundo dual e celebramos a Polaridade Divina. Coisas opostas não são necessáriamente antagônicas e conflitos poderiam ser resolvidos sem violência.
terça-feira, 8 de abril de 2008
A Religião Antiga
Ela é anterior à todas as formas de religião, surgindo como o resultado dos esforços do homem, desde suas origens mais distantes, para compreender a natureza, sua beleza, sua crueldade, seu equilibrio e a maneira como pode se integrar na obra, cooperar com ela. Naturista e de nenhum modo moral, extática e de nenhum modo ritual, essa religião esforça-se para encontrar os pontos de contato entre os diversos estados de ser e para buscar sua harmoniosa cooperação, a fim de permitir a cada um realizar-se no plano físico, intelectual e espiritual e representar com plenitude seu papel na sinfonia universal.
Essa religião, com frequência perseguida e sempre renascente, continua a ser a mais moderna e parece corresponder às necessidades mais profundas do homem.
Encontramos hoje uma humanidade desamparada que se prende às religiões institucionalizadas sem sequer compreender porque elas estão morrendo. Por toda parte as pessoas sentem esse vazio, buscando encontrar um equilíbrio em um mundo ameaçado, mas não conseguem ajuda. Ao invés disso, contentam-se em ter sua própria 'religião', são vítimas de falsos profetas, de gurus de bazar, de falsas iniciações.
No entanto, um caminho permanece sempre aberto para uma volta do homem a seu verdadeiro papel. Esse caminho não tem nada a ver com as falsas virtudes, os problemas morais ou sociais artificiais em que se comprazem as religiões e as sociedades modernas, cujo objetivo é precisamente enganar os espíritos, afastar os homens da busca dos valores reais e, portanto, conduzir a humanidade ao suicídio. Esse Caminho da Sabedoria é apenas a busca da compreensão da natureza do mundo e da cooperação nessa obra. Aquele que o procura honestamente pode encontrar esse caminho, mas é necessário por em questão quase tudo o que é tido como sendo valores estabelecidos e ignorar todas as palavras vazias de sentido, todas as fórmulas publicitárias que hoje são consideradas como idéias ou doutrinas.
Nada existe no universo que não faça parte do corpo divino, que não possa ser um caminho para alcanças o divino. Todos os objetos, todos os fenômenos naturais, as plantas, os animais, assim como todos os aspectos do homem podem ser pontos de partida para nos aproximarmos do divino.
Texto baseado no livro Shiva e Dioniso, de Alain Danielou, pg 1-6.
Essa religião, com frequência perseguida e sempre renascente, continua a ser a mais moderna e parece corresponder às necessidades mais profundas do homem.
Encontramos hoje uma humanidade desamparada que se prende às religiões institucionalizadas sem sequer compreender porque elas estão morrendo. Por toda parte as pessoas sentem esse vazio, buscando encontrar um equilíbrio em um mundo ameaçado, mas não conseguem ajuda. Ao invés disso, contentam-se em ter sua própria 'religião', são vítimas de falsos profetas, de gurus de bazar, de falsas iniciações.
No entanto, um caminho permanece sempre aberto para uma volta do homem a seu verdadeiro papel. Esse caminho não tem nada a ver com as falsas virtudes, os problemas morais ou sociais artificiais em que se comprazem as religiões e as sociedades modernas, cujo objetivo é precisamente enganar os espíritos, afastar os homens da busca dos valores reais e, portanto, conduzir a humanidade ao suicídio. Esse Caminho da Sabedoria é apenas a busca da compreensão da natureza do mundo e da cooperação nessa obra. Aquele que o procura honestamente pode encontrar esse caminho, mas é necessário por em questão quase tudo o que é tido como sendo valores estabelecidos e ignorar todas as palavras vazias de sentido, todas as fórmulas publicitárias que hoje são consideradas como idéias ou doutrinas.
Nada existe no universo que não faça parte do corpo divino, que não possa ser um caminho para alcanças o divino. Todos os objetos, todos os fenômenos naturais, as plantas, os animais, assim como todos os aspectos do homem podem ser pontos de partida para nos aproximarmos do divino.
Texto baseado no livro Shiva e Dioniso, de Alain Danielou, pg 1-6.
O monoteísmo
O homem, fazendo parte da criação, só pode conceber ou conhecer os aspectos múltiplos da divindade. O monoteísmo é uma aberração do ponto de vista da experiência espiritual. Oriundo de uma concepção cosmológica que resulta na idéia de uma causa primeira, ou melhor, de um dualismo primeiro, o monoteísmo não se poderia aplicar à realidade da experiência religiosa. Não se poderia comunicar com a causa primeira do universo, além das galáxias, para receber instruções pessoais de ordem prática.
A simplificação monoteísta parece ter-se originado de uma concepção religiosa de nômades, surgida entre povos que procuram se afirmar, justificar sua ocupação de territórios e conquistas. O Deus é concebido à imagem do homem. Deus é reduzido ao papel de um guia que acompanha a tribo em suas migrações, dá instruções pessoais a seu chefe. Só se interessa pelo homem e, entre os homens, pelo grupo dos 'eleitos'. Ele torna-se um pretexto fácil para a conquista, para o genocídio, para a destruição da ordem natural, como podemos observar ao longo da história. Na origem, não exclui os deuses das outras tribos, os 'falsos deuses', mas apenas para opor-se a eles, destruí-los, impor sua dominação e a de 'seu povo'.
Foram os supostos 'profetas', que pretendem comunicar-se diretamente com um Deus pessoal e único, ditando regras de conduta que, na verdade, não passam de convenções sociais e não tem nada a ver com a religião ou com o domínio espiritual, os principais artífices dos desvios do mundo moderno. O monoteísmo é contrário à experiência religiosa dos homens; não é um desenvolvimento natural, mas uma simplificação imposta. A noção de um deus que, tendo criado o mundo, aguardaria milhões de anos para ensinar aos homens, com um atraso difícil de desculpar, a via da salvação, é evidentemente um absurdo.
A impertinência e o orgulho com que os 'crentes' atribuem a 'deus' seus preconceitos sociais, alimentares, sexuais - que, aliás, variam de uma religião a outra - seriam cômicos se não resultassem inevitavelmente em formas de tirania, de caráter puramente temporal. A obrigação de conformar-se com crenças e modos de ação arbitrários é um meio de aviltar e submeter a personalidade do indivíduo, do qual todas as tiranias, sejam elas religiosas ou políticas, sabem se servir-se muito bem.
Autor: Alan Danielou. Citado do livro: Shiva e Dioniso, pg 202-204.
A simplificação monoteísta parece ter-se originado de uma concepção religiosa de nômades, surgida entre povos que procuram se afirmar, justificar sua ocupação de territórios e conquistas. O Deus é concebido à imagem do homem. Deus é reduzido ao papel de um guia que acompanha a tribo em suas migrações, dá instruções pessoais a seu chefe. Só se interessa pelo homem e, entre os homens, pelo grupo dos 'eleitos'. Ele torna-se um pretexto fácil para a conquista, para o genocídio, para a destruição da ordem natural, como podemos observar ao longo da história. Na origem, não exclui os deuses das outras tribos, os 'falsos deuses', mas apenas para opor-se a eles, destruí-los, impor sua dominação e a de 'seu povo'.
Foram os supostos 'profetas', que pretendem comunicar-se diretamente com um Deus pessoal e único, ditando regras de conduta que, na verdade, não passam de convenções sociais e não tem nada a ver com a religião ou com o domínio espiritual, os principais artífices dos desvios do mundo moderno. O monoteísmo é contrário à experiência religiosa dos homens; não é um desenvolvimento natural, mas uma simplificação imposta. A noção de um deus que, tendo criado o mundo, aguardaria milhões de anos para ensinar aos homens, com um atraso difícil de desculpar, a via da salvação, é evidentemente um absurdo.
A impertinência e o orgulho com que os 'crentes' atribuem a 'deus' seus preconceitos sociais, alimentares, sexuais - que, aliás, variam de uma religião a outra - seriam cômicos se não resultassem inevitavelmente em formas de tirania, de caráter puramente temporal. A obrigação de conformar-se com crenças e modos de ação arbitrários é um meio de aviltar e submeter a personalidade do indivíduo, do qual todas as tiranias, sejam elas religiosas ou políticas, sabem se servir-se muito bem.
Autor: Alan Danielou. Citado do livro: Shiva e Dioniso, pg 202-204.
sábado, 5 de abril de 2008
Dicas para a "Nouveau Witch"
Texto de Lynna Landstreet.
Durante meus 13 anos na Arte, e particularmente nos últimos dois anos em que comecei a aceitar aprendizes, notei um certo número de peculiaridades entre muitos dos membros mais jovens e recém-entrados na comunidade Pagã. Peculiaridades que vão de mais ou menos irritantes a tremendamente nojentas. Muitos desses problemas caem na categoria de Atitude com A maiúsculo.
Antes de avançar, devo dizer que tenho certeza de ter sido culpada das mesmas coisas em meus primeiros anos na Arte. Encaremos o fato, nós todos fomos. Aliás, aqueles de nós que classificam as atitudes atuais como “nouveau witch” – emperequetar-se todo em preto e com cristais, ankas e pentagramas pendurados em todas as partes concebíveis do corpo; insistir em informar a todos, do motorista de táxi à garçonete da birosca que é um bruxo; ou demonstrar seus recém-descobertos Grandes Poderes Psíquicos traçando pentagramas de invocação para convocar um ônibus atrasado ou ficar analisando em voz muito alta a aura dos outros na rua – costumavam ser os piores quando éramos jovens. Não estou dizendo que todo wiccaniano experiente seja necessariamente um perfeito anjo (desculpem a metáfora judaico-cristã). Ainda que muitos de nós superem esses hábitos tediosos com o tempo, ocasionalmente um ou mais deles permanecem. E, acreditem-me, é muito mais fácil livrar-se deles quando se é novo do que lidar com eles depois que se tornam hábitos estabelecidos.
Bem, tendo isso em mente, ofereço os seguintes Exercícios de Reconhecimento e Ajuste de Atitude:
ATITUDE #1:“Olhe para mim, sou uma Bruxa!”
Descrição:Se você está lendo no Metrô um livro sobre a Arte, faz questão de segurá-lo de forma a que todos possam ver o título? Quantos adereços você usa normalmente são específica e obviamente ligados ao ocultismo? Você se pilha falando ininterruptamente sobre a Arte, especialmente na presença de não-pagãos? todas as pessoas que você conhece sabem que você é wiccaniano? Ficam sabendo cinco minutos após te conhecerem?
Ajuste: Não estou dizendo para voltarmos para o “armário de vassouras”, mas pense em como se sentiria se trabalhasse com um cristão renascido que não conseguisse parar de falar em Jesus. Ficaria entediado rapidamente, não? Falar ininterruptamente sobre a Arte para não-pagãos provavelmente vai apenas encher a paciência deles, além de dar a impressão que somos todos fanáticos religiosos obsessivos.
Primeiro, esteja ciente do problema. Cada vez que se perceber falando da Arte em meios não-pagãos, preste atenção e pense a respeito. Era realmente necessário dizer o que disse? Se não, qual seu verdadeiro motivo? Você apenas está habituado a falar livremente por andar com outros pagãos? Ou, talvez, culpado de tentar ostentar um pouquinho para afugentar a hesitação? Não se preocupe, todos nós fazemos isso de vez em quando. O importante é saber quando está fazendo, de forma a poder lidar com isso.
Estabeleça para si mesmo o desafio de pensar antes de falar sempre. Pergunte a si mesmo: eles precisam saber disso? Se não, por que estou dizendo? Tente perceber como parece/soa para os outros. Lembre-se do que nós freqüentemente falamos sobre os fundamentalistas: qualquer um que esteja genuinamente seguro de em paz com a própria fé não tem a necessidade em enfiá-la na garganta dos outros o tempo todo. Não significa não mencionar nunca – apenas lembre, moderação em tudo.
Lembre-se dos tradicionais quatro poderes do ocultista: saber, ousar, querer e calar. Trabalhe nisso!
ATITUDE #2:Vivendo uma Vida Mágica – 24 Horas por Dia!
Descrição:É parente próximo da atitude número 1: é um outro meio de garantir que o mundo todo saiba que você é pagão, mas dessa vez com ações em vez de palavras. Você está sempre fazendo pequenos atos de magia a cada cinco minutos? E garantindo que todos saibam o que está fazendo?
Ajuste: Antes de mais nada, esteja atento, como no número 1. pense antes de agir. É necessário? Não existe um meio mais fácil e não-mágico de fazer o que quer? Quais são os seus verdadeiros motivos para fazer mágica neste momento e na frente desta platéia? Mais uma vez não estou dizendo para nunca fazê-lo – uma das melhores coisas da Arte é que ela pode e deve ser vivida o tempo todo. Mas seja discreto. Se quer praticar a leitura de auras dentro do ônibus, vá em frente, mas você não precisa apregoar os resultados conforme os atinge. Há milhões de pequenas maneiras de fazer de sua religião e sua arte parte de seu dia-a-dia sem precisar se exibir. Tente estar ciente de seus motivos. Pratique usando sua Arte de formas que não sejam óbvias. Leia novamente os comentários do número 1.
ATITUDE #3:Guerras de Bruxas
Descrição:Alguns dizem que a fofoca é o segundo passatempo favorito da comunidade pagã (perdendo para a síndrome de Pega – colecionar objetos brilhantes); outros afirmam que, se tiver que escolher entre conseguir um novo badulaque e saber alguma sujeira sobre alguém que mal conhece, a maioria dos pagãos vai sempre escolher a fofoca.
Vale dizer que isso é provavelmente natural. Pegue um grupo de pessoas – de qualquer tipo – e a primeira coisa da qual elas vão falar é, adivinhe, das outras pessoas. Entretanto, há uma sutil diferença entre o disse-me-disse inevitável de uma comunidade e a fofoca genuinamente maliciosa. Se você não tem certeza da diferença, pergunte-se: Eu diria isso na cara pessoa a que se refere? Diria isso para alguém que sei ser amigo dela? Se não, por que estou dizendo por trás?
Mais ainda: pergunte-se se você realmente tem certeza de que o que está dizendo é verdade, ou se apenas ouviu de alguém que ouviu de alguém que ouviu de alguém etc. E mesmo se você souber que é verdade, é realmente necessário espalhar essa verdade? As pessoas às quais você está falando têm alguma necessidade de saber o que você está contando, além da curiosidade?
Ajuste: Parecido com a número 1. Pense antes de falar. E lembre-se dos quatro poderes, especialmente o primeiro e o quarto.
Não, não, não repita qualquer fofoca a respeito de outra pessoa, por mais deliciosa que seja, senão estiver absolutamente certo dos fatos. Não presuma que qualquer pessoa seja uma fonte infalível de informação, não importa o grau, tradição ou nível de respeito dentro da comunidade. Sacerdotes são humanos, como qualquer um.
Há pelo menos dois lados de cada história, e geralmente mais. Não suponha que você entende uma situação com base no relato de uma pessoa, principalmente se não conhecer todos os envolvidos. Se você ouve histórias horríveis de um lado de um conflito, de qualquer espécie, por que não procurar a outra pessoa e pedir a ela que conte seu lado da história? Você ficará surpreso ao perceber como a mesma situação parece diferente quando vista de duas perspectivas.
E mesmo se você estiver certo o bastante de que conhece os fatos, pense um pouco se é realmente necessário dizer o que sabe. Fofoca, disse-me-disse e “Guerras de Bruxas” pouco fazem para fortalecer uma comunidade. Elas não estão, para dizer de forma gentil, em sintonia com os princípios de perfeito amor e perfeita confiança.
Se você acha que alguém representa uma verdadeira ameaça à comunidade ou que está acontecendo algo de que as pessoas devem estar informadas, conte aos outros (supondo, claro, que você tem certeza de que é verdade). Mas no caso de fofoca inútil, ou você-não-sabe-da-última, deixe para lá. Lembre-se que são necessários dois para fazer fofoca – o que fala e o que ouve. Se alguém começar a falar algo que viole os princípios acima, você não precisa ouvir. Você sempre pode dizer “Eu preciso ouvir isso?”ou “Se você tem um problema com fulana, por que não fala com ela em vez de falar comigo?” ou o que achar melhor.
Esse é um dos hábitos mais difíceis de romper, e todos nós incorremos nele de vez em quando, mas é um dos maiores problemas em nossa comunidade, logo, vale o esforço.
ATITUDE #4:Eu sou o bom!
Descrição:Todo mundo tem algo a ensinar e algo a aprender, algo em que é bom e algo em que não é tão bom assim. Mas você vai descobrir que é mais vantajoso – e as pessoas vão descobrir que é mais fácil de lidar – se você evitar se vangloriar constantemente de tudo em que é bom ou que pensa saber mais que os outros, e se concentrar mais em aprender com os outros e melhorar nas suas fraquezas, em vez de fazer quem todos saibam de seus pontos fortes.
Por um motivo, se você é como a maioria das pessoas, provavelmente não sabe tanto quanto pensa. Uma das primeiras coisas que aprendi após minha iniciação como Sacerdotisa é que há muito mais coisas aí que eu não sei mais coisas do que eu sei. O aprendizado nunca termina. Cada iniciação, cada conquista, é um novo início e, principalmente se você ainda está em seus primeiros tempos na Arte, vale mais aprender que ensinar, que dar conselhos que ninguém pediu ou jactar-se do que aprendeu até agora.
Confiança excessiva também pode ser perigosa, levando-o a tentar coisas que realmente não sabe como fazer. Um pouco de conhecimento é uma coisa perigosa. Eu não enfadá-los detalhando de todo exorcismo mal feito de que ouvi falar, ou dos revezes psíquicos e feitiços fracassados que eu mesma encarei, ou do caso do regressionista a vidas passadas que acabou falando com quatro vozes diferentes numa cela acolchoada no Pinel. Basta dizer que o poder da magia é real, assim como são os perigos. Na dúvida, não tente.
Ajuste: Tente contar o número de vezes durante um dia típico em que você diz frases que começam com “eu”, especialmente “eu posso...”, “eu sei...”, “eu sou realmente bom em...”, “eu sei como...” etc. E tente diminuir esse total. Pense: a pessoa com quem estou falando realmente precisa saber isso? Sou realmente o especialista que penso ser? Essa pessoa tem algo a me ensinar, algo que ela sabe mais do que eu? O que eu posso aprender com eles? Até um idiota tem algo a ensinar. Lembre-se da frase da Rede Wiccaniana, de Doreen Valiente: “Fale pouco, ouça muito”. Pratique isso.
E se você estiver pensando em fazer qualquer tipo de trabalho mágico que nunca fez antes, peça conselho a alguém que já fez. Se lhe disserem que você ainda não está pronto, ouça. Aprender a arte não é uma corrida. Não é ser o primeiro da turma a fazer esse ou aquele feitiço ou dominar esse ou aquele talento. Preste atenção ao que Starhawk chama de “trabalho básico de magia” e tenha certeza que você o aprendeu antes de tentar brincar com fogos de artifício. Ou, em outras palavras, não tente correr enquanto não tiver dominado completamente a arte de andar.
ATITUDE #5:Não é simplesmente uma boa idéia – É a Lei!
Descrição:Você considera cada palavra do seu professor como uma Escritura Sagrada? Ela não faz nada que te pareça errado? Você pede conselho a ele todas as vezes que precisa tomar uma decisão, não importa o quão trivial? Você acha que as práticas da sua tradição estão gravadas na pedra e fica horrorizado se vê alguém agindo de outra forma? Você tem o hábito de sair proclamando aos quatro ventos que qualquer um que te irrite está violando a Lei da Arte? Você censura abertamente os recém-chegados no círculo e sai apontando em voz alta todas as peças de vestuário ou ornamentos que ele não deveria usar na sua tradição?
Ajuste: Relaxe, porra! Respire fundo. Solte esses músculos anais. Tome uma pílula de ervas para os nervos – aliás, tome três. Então encare os seguintes princípios: Seu professor não é perfeito. você não é perfeito. ninguém é perfeito. Sua tradição não é a única que existe. “A lei foi feita para guiar, não para atar.” O céu provavelmente não vai cair porque alguém está no círculo usando uma vestimenta de US$ 5 comprada de um camelô e que poderia parecer muito uma vestimenta sacerdotal da sua tradição se vista à luz de velas através de uma pesada fumaça de incenso por alguém com visão 20/200.
Agora, pode-se argumentar que esse problema de atitude pode, pelo menos para iniciantes, ser menos daninho que seu oposto, a visão eu-posso-tudo citada acima. E é certamente melhor ter uma consciência superdesenvolvida que uma subdesenvolvida. Mas os danos não devem ser subestimados. Alguém que precisa o tempo todo que lhe digam o que fazer e que se agarra à forma da Lei a ponto de ignorar seu espírito carece seriamente de intuição, confiança e capacidade de julgamento.
Cedo ou tarde sua professora não vai estar por perto quando você precisar. Ou não haverá uma lei que se aplique a uma determinada situação em que você se encontre (na verdade, provavelmente não há – ouço um monte de gente com esse problema afirmar que várias coisas são “contra as Leis da Arte” que não são abordadas em nenhuma versão das Leis que eu conheça). Quando isso acontecer, você vai ter que aprender a fazer algo que é mais difícil quanto mais tarde começar. Isso mesmo, você vai ter que aprender a pensar por si mesmo.
Falando apropriadamente, “fundamentalista pagão” deveria ser uma contradição de termos. A Arte sempre deu muito valor à consciência individual, à intuição e ao “livre exercício da sabedoria”. Somos, em última análise, responsáveis por nossas consciências perante os Deuses, e não os vejo segurando um livro de regras numa mão e fichas na outra, marcando ansiosamente cada suposta ofensa como se fossam faltas numa prova de direção.
Certamente não estou sugerindo que você vá ao outro extremo e abrace o enfoque vale-tudo, deixa-rolar e você-cria-sua-própria-realidade adotado pelas tradições mais “Californizadas”. A Lei – em todas as suas numerosas variações – existe por um motivo: fornecer uma base firme em ética, costumes e visão de mundo wiccaniana. Se você decidiu estudar com um professor, deve respeitar sua autoridade. Mas isso não significa abdicar de sua capacidade de pensamento crítico.
Da mesma forma, qualquer que seja a tradição com a qual trabalhe, presumivelmente você está nela porque sente que é a ideal para você. Mas isso não significa que seja a ideal para todos. Não fique se agarrando a tecnicalidades – olhe, em vez disso, para as idéias básicas e para as intenções que sublinham as práticas mágicas e espirituais, e você provavelmente verá que diversas tradições da Arte têm mais em comum do que pensa.
E por favor, por favor, resista à tentação de agir feito um sargentão sempre que vir alguém fazer algo que considere errado. O ritual inteiro não vai fracassar só porque algum novato deu dois passos no sentido anti-horário ou não olhou para o quadrante certo na hora certa, ou esqueceu de tirar o relógio, ou que for. Relaxe. Se você acha que deve falar com ele, fale – de forma educada e respeitosa e, se possível, após o ritual. Se você fica entrando em pânico por qualquer errinho, vai se estressar à toa e afastar as outras pessoas. Não sue por coisas pequenas. Não vale a pena.
De qualquer maneira, aqui terminam a lista dos problemas de atitude que vêm na cabeça no momento. Eu tenho certeza que existem mais, mas isto terá que esperar pelos próximos artigos. Enquanto isso, se esse texto salvar a sanidade mental de alguém, valerá bem o papel (reciclado) em que foi impresso.
original:http://www.wildideas.net/temple/library/attitude.html
Durante meus 13 anos na Arte, e particularmente nos últimos dois anos em que comecei a aceitar aprendizes, notei um certo número de peculiaridades entre muitos dos membros mais jovens e recém-entrados na comunidade Pagã. Peculiaridades que vão de mais ou menos irritantes a tremendamente nojentas. Muitos desses problemas caem na categoria de Atitude com A maiúsculo.
Antes de avançar, devo dizer que tenho certeza de ter sido culpada das mesmas coisas em meus primeiros anos na Arte. Encaremos o fato, nós todos fomos. Aliás, aqueles de nós que classificam as atitudes atuais como “nouveau witch” – emperequetar-se todo em preto e com cristais, ankas e pentagramas pendurados em todas as partes concebíveis do corpo; insistir em informar a todos, do motorista de táxi à garçonete da birosca que é um bruxo; ou demonstrar seus recém-descobertos Grandes Poderes Psíquicos traçando pentagramas de invocação para convocar um ônibus atrasado ou ficar analisando em voz muito alta a aura dos outros na rua – costumavam ser os piores quando éramos jovens. Não estou dizendo que todo wiccaniano experiente seja necessariamente um perfeito anjo (desculpem a metáfora judaico-cristã). Ainda que muitos de nós superem esses hábitos tediosos com o tempo, ocasionalmente um ou mais deles permanecem. E, acreditem-me, é muito mais fácil livrar-se deles quando se é novo do que lidar com eles depois que se tornam hábitos estabelecidos.
Bem, tendo isso em mente, ofereço os seguintes Exercícios de Reconhecimento e Ajuste de Atitude:
ATITUDE #1:“Olhe para mim, sou uma Bruxa!”
Descrição:Se você está lendo no Metrô um livro sobre a Arte, faz questão de segurá-lo de forma a que todos possam ver o título? Quantos adereços você usa normalmente são específica e obviamente ligados ao ocultismo? Você se pilha falando ininterruptamente sobre a Arte, especialmente na presença de não-pagãos? todas as pessoas que você conhece sabem que você é wiccaniano? Ficam sabendo cinco minutos após te conhecerem?
Ajuste: Não estou dizendo para voltarmos para o “armário de vassouras”, mas pense em como se sentiria se trabalhasse com um cristão renascido que não conseguisse parar de falar em Jesus. Ficaria entediado rapidamente, não? Falar ininterruptamente sobre a Arte para não-pagãos provavelmente vai apenas encher a paciência deles, além de dar a impressão que somos todos fanáticos religiosos obsessivos.
Primeiro, esteja ciente do problema. Cada vez que se perceber falando da Arte em meios não-pagãos, preste atenção e pense a respeito. Era realmente necessário dizer o que disse? Se não, qual seu verdadeiro motivo? Você apenas está habituado a falar livremente por andar com outros pagãos? Ou, talvez, culpado de tentar ostentar um pouquinho para afugentar a hesitação? Não se preocupe, todos nós fazemos isso de vez em quando. O importante é saber quando está fazendo, de forma a poder lidar com isso.
Estabeleça para si mesmo o desafio de pensar antes de falar sempre. Pergunte a si mesmo: eles precisam saber disso? Se não, por que estou dizendo? Tente perceber como parece/soa para os outros. Lembre-se do que nós freqüentemente falamos sobre os fundamentalistas: qualquer um que esteja genuinamente seguro de em paz com a própria fé não tem a necessidade em enfiá-la na garganta dos outros o tempo todo. Não significa não mencionar nunca – apenas lembre, moderação em tudo.
Lembre-se dos tradicionais quatro poderes do ocultista: saber, ousar, querer e calar. Trabalhe nisso!
ATITUDE #2:Vivendo uma Vida Mágica – 24 Horas por Dia!
Descrição:É parente próximo da atitude número 1: é um outro meio de garantir que o mundo todo saiba que você é pagão, mas dessa vez com ações em vez de palavras. Você está sempre fazendo pequenos atos de magia a cada cinco minutos? E garantindo que todos saibam o que está fazendo?
Ajuste: Antes de mais nada, esteja atento, como no número 1. pense antes de agir. É necessário? Não existe um meio mais fácil e não-mágico de fazer o que quer? Quais são os seus verdadeiros motivos para fazer mágica neste momento e na frente desta platéia? Mais uma vez não estou dizendo para nunca fazê-lo – uma das melhores coisas da Arte é que ela pode e deve ser vivida o tempo todo. Mas seja discreto. Se quer praticar a leitura de auras dentro do ônibus, vá em frente, mas você não precisa apregoar os resultados conforme os atinge. Há milhões de pequenas maneiras de fazer de sua religião e sua arte parte de seu dia-a-dia sem precisar se exibir. Tente estar ciente de seus motivos. Pratique usando sua Arte de formas que não sejam óbvias. Leia novamente os comentários do número 1.
ATITUDE #3:Guerras de Bruxas
Descrição:Alguns dizem que a fofoca é o segundo passatempo favorito da comunidade pagã (perdendo para a síndrome de Pega – colecionar objetos brilhantes); outros afirmam que, se tiver que escolher entre conseguir um novo badulaque e saber alguma sujeira sobre alguém que mal conhece, a maioria dos pagãos vai sempre escolher a fofoca.
Vale dizer que isso é provavelmente natural. Pegue um grupo de pessoas – de qualquer tipo – e a primeira coisa da qual elas vão falar é, adivinhe, das outras pessoas. Entretanto, há uma sutil diferença entre o disse-me-disse inevitável de uma comunidade e a fofoca genuinamente maliciosa. Se você não tem certeza da diferença, pergunte-se: Eu diria isso na cara pessoa a que se refere? Diria isso para alguém que sei ser amigo dela? Se não, por que estou dizendo por trás?
Mais ainda: pergunte-se se você realmente tem certeza de que o que está dizendo é verdade, ou se apenas ouviu de alguém que ouviu de alguém que ouviu de alguém etc. E mesmo se você souber que é verdade, é realmente necessário espalhar essa verdade? As pessoas às quais você está falando têm alguma necessidade de saber o que você está contando, além da curiosidade?
Ajuste: Parecido com a número 1. Pense antes de falar. E lembre-se dos quatro poderes, especialmente o primeiro e o quarto.
Não, não, não repita qualquer fofoca a respeito de outra pessoa, por mais deliciosa que seja, senão estiver absolutamente certo dos fatos. Não presuma que qualquer pessoa seja uma fonte infalível de informação, não importa o grau, tradição ou nível de respeito dentro da comunidade. Sacerdotes são humanos, como qualquer um.
Há pelo menos dois lados de cada história, e geralmente mais. Não suponha que você entende uma situação com base no relato de uma pessoa, principalmente se não conhecer todos os envolvidos. Se você ouve histórias horríveis de um lado de um conflito, de qualquer espécie, por que não procurar a outra pessoa e pedir a ela que conte seu lado da história? Você ficará surpreso ao perceber como a mesma situação parece diferente quando vista de duas perspectivas.
E mesmo se você estiver certo o bastante de que conhece os fatos, pense um pouco se é realmente necessário dizer o que sabe. Fofoca, disse-me-disse e “Guerras de Bruxas” pouco fazem para fortalecer uma comunidade. Elas não estão, para dizer de forma gentil, em sintonia com os princípios de perfeito amor e perfeita confiança.
Se você acha que alguém representa uma verdadeira ameaça à comunidade ou que está acontecendo algo de que as pessoas devem estar informadas, conte aos outros (supondo, claro, que você tem certeza de que é verdade). Mas no caso de fofoca inútil, ou você-não-sabe-da-última, deixe para lá. Lembre-se que são necessários dois para fazer fofoca – o que fala e o que ouve. Se alguém começar a falar algo que viole os princípios acima, você não precisa ouvir. Você sempre pode dizer “Eu preciso ouvir isso?”ou “Se você tem um problema com fulana, por que não fala com ela em vez de falar comigo?” ou o que achar melhor.
Esse é um dos hábitos mais difíceis de romper, e todos nós incorremos nele de vez em quando, mas é um dos maiores problemas em nossa comunidade, logo, vale o esforço.
ATITUDE #4:Eu sou o bom!
Descrição:Todo mundo tem algo a ensinar e algo a aprender, algo em que é bom e algo em que não é tão bom assim. Mas você vai descobrir que é mais vantajoso – e as pessoas vão descobrir que é mais fácil de lidar – se você evitar se vangloriar constantemente de tudo em que é bom ou que pensa saber mais que os outros, e se concentrar mais em aprender com os outros e melhorar nas suas fraquezas, em vez de fazer quem todos saibam de seus pontos fortes.
Por um motivo, se você é como a maioria das pessoas, provavelmente não sabe tanto quanto pensa. Uma das primeiras coisas que aprendi após minha iniciação como Sacerdotisa é que há muito mais coisas aí que eu não sei mais coisas do que eu sei. O aprendizado nunca termina. Cada iniciação, cada conquista, é um novo início e, principalmente se você ainda está em seus primeiros tempos na Arte, vale mais aprender que ensinar, que dar conselhos que ninguém pediu ou jactar-se do que aprendeu até agora.
Confiança excessiva também pode ser perigosa, levando-o a tentar coisas que realmente não sabe como fazer. Um pouco de conhecimento é uma coisa perigosa. Eu não enfadá-los detalhando de todo exorcismo mal feito de que ouvi falar, ou dos revezes psíquicos e feitiços fracassados que eu mesma encarei, ou do caso do regressionista a vidas passadas que acabou falando com quatro vozes diferentes numa cela acolchoada no Pinel. Basta dizer que o poder da magia é real, assim como são os perigos. Na dúvida, não tente.
Ajuste: Tente contar o número de vezes durante um dia típico em que você diz frases que começam com “eu”, especialmente “eu posso...”, “eu sei...”, “eu sou realmente bom em...”, “eu sei como...” etc. E tente diminuir esse total. Pense: a pessoa com quem estou falando realmente precisa saber isso? Sou realmente o especialista que penso ser? Essa pessoa tem algo a me ensinar, algo que ela sabe mais do que eu? O que eu posso aprender com eles? Até um idiota tem algo a ensinar. Lembre-se da frase da Rede Wiccaniana, de Doreen Valiente: “Fale pouco, ouça muito”. Pratique isso.
E se você estiver pensando em fazer qualquer tipo de trabalho mágico que nunca fez antes, peça conselho a alguém que já fez. Se lhe disserem que você ainda não está pronto, ouça. Aprender a arte não é uma corrida. Não é ser o primeiro da turma a fazer esse ou aquele feitiço ou dominar esse ou aquele talento. Preste atenção ao que Starhawk chama de “trabalho básico de magia” e tenha certeza que você o aprendeu antes de tentar brincar com fogos de artifício. Ou, em outras palavras, não tente correr enquanto não tiver dominado completamente a arte de andar.
ATITUDE #5:Não é simplesmente uma boa idéia – É a Lei!
Descrição:Você considera cada palavra do seu professor como uma Escritura Sagrada? Ela não faz nada que te pareça errado? Você pede conselho a ele todas as vezes que precisa tomar uma decisão, não importa o quão trivial? Você acha que as práticas da sua tradição estão gravadas na pedra e fica horrorizado se vê alguém agindo de outra forma? Você tem o hábito de sair proclamando aos quatro ventos que qualquer um que te irrite está violando a Lei da Arte? Você censura abertamente os recém-chegados no círculo e sai apontando em voz alta todas as peças de vestuário ou ornamentos que ele não deveria usar na sua tradição?
Ajuste: Relaxe, porra! Respire fundo. Solte esses músculos anais. Tome uma pílula de ervas para os nervos – aliás, tome três. Então encare os seguintes princípios: Seu professor não é perfeito. você não é perfeito. ninguém é perfeito. Sua tradição não é a única que existe. “A lei foi feita para guiar, não para atar.” O céu provavelmente não vai cair porque alguém está no círculo usando uma vestimenta de US$ 5 comprada de um camelô e que poderia parecer muito uma vestimenta sacerdotal da sua tradição se vista à luz de velas através de uma pesada fumaça de incenso por alguém com visão 20/200.
Agora, pode-se argumentar que esse problema de atitude pode, pelo menos para iniciantes, ser menos daninho que seu oposto, a visão eu-posso-tudo citada acima. E é certamente melhor ter uma consciência superdesenvolvida que uma subdesenvolvida. Mas os danos não devem ser subestimados. Alguém que precisa o tempo todo que lhe digam o que fazer e que se agarra à forma da Lei a ponto de ignorar seu espírito carece seriamente de intuição, confiança e capacidade de julgamento.
Cedo ou tarde sua professora não vai estar por perto quando você precisar. Ou não haverá uma lei que se aplique a uma determinada situação em que você se encontre (na verdade, provavelmente não há – ouço um monte de gente com esse problema afirmar que várias coisas são “contra as Leis da Arte” que não são abordadas em nenhuma versão das Leis que eu conheça). Quando isso acontecer, você vai ter que aprender a fazer algo que é mais difícil quanto mais tarde começar. Isso mesmo, você vai ter que aprender a pensar por si mesmo.
Falando apropriadamente, “fundamentalista pagão” deveria ser uma contradição de termos. A Arte sempre deu muito valor à consciência individual, à intuição e ao “livre exercício da sabedoria”. Somos, em última análise, responsáveis por nossas consciências perante os Deuses, e não os vejo segurando um livro de regras numa mão e fichas na outra, marcando ansiosamente cada suposta ofensa como se fossam faltas numa prova de direção.
Certamente não estou sugerindo que você vá ao outro extremo e abrace o enfoque vale-tudo, deixa-rolar e você-cria-sua-própria-realidade adotado pelas tradições mais “Californizadas”. A Lei – em todas as suas numerosas variações – existe por um motivo: fornecer uma base firme em ética, costumes e visão de mundo wiccaniana. Se você decidiu estudar com um professor, deve respeitar sua autoridade. Mas isso não significa abdicar de sua capacidade de pensamento crítico.
Da mesma forma, qualquer que seja a tradição com a qual trabalhe, presumivelmente você está nela porque sente que é a ideal para você. Mas isso não significa que seja a ideal para todos. Não fique se agarrando a tecnicalidades – olhe, em vez disso, para as idéias básicas e para as intenções que sublinham as práticas mágicas e espirituais, e você provavelmente verá que diversas tradições da Arte têm mais em comum do que pensa.
E por favor, por favor, resista à tentação de agir feito um sargentão sempre que vir alguém fazer algo que considere errado. O ritual inteiro não vai fracassar só porque algum novato deu dois passos no sentido anti-horário ou não olhou para o quadrante certo na hora certa, ou esqueceu de tirar o relógio, ou que for. Relaxe. Se você acha que deve falar com ele, fale – de forma educada e respeitosa e, se possível, após o ritual. Se você fica entrando em pânico por qualquer errinho, vai se estressar à toa e afastar as outras pessoas. Não sue por coisas pequenas. Não vale a pena.
De qualquer maneira, aqui terminam a lista dos problemas de atitude que vêm na cabeça no momento. Eu tenho certeza que existem mais, mas isto terá que esperar pelos próximos artigos. Enquanto isso, se esse texto salvar a sanidade mental de alguém, valerá bem o papel (reciclado) em que foi impresso.
original:http://www.wildideas.net/temple/library/attitude.html