Este é um assunto polêmico entre pagãos, bruxos e wiccanos, eu espero que meu texto seja lido com reservas, visto que existem muitas críticas. Mas como diz o velho ditado: quem desdenha, quer comprar.
Antes de mais nada, eu parto da premissa simples que Bruxaria é uma coisa e Wica é outra, muito embora seja 'herdeira' das práticas da Bruxaria Britânica, que é por sua vez uma das muitas formas de Bruxaria da Europa, que é por sua vez uma das muitas formas de Bruxaria da História.
Eu desconfio de qualquer sacerdote wiccano que afirma não haver linhagem e ancestralidade na Wica e ainda assim se identificar como sacerdote de uma Tradição da Wicca. Eu desconfio ainda mais quando a tradição que este diz representar afirma que rompeu com a tradição-mãe, defende a auto-iniciação, defende a adoção de outros panteões e defende o ecletismo.
Eu vou frisar o óbvio: para que haja uma tradição é necessário que tenha um grupo, que tenha seguido uma sequência de ritos e preceitos, que são transmitidos aos seus alunos. Essa sequência que é transmitida tem uma origem que remonta a muitas épocas, povos e culturas, por isso que é um absurdo antropológico e histórico afirmar que existiu uma forma pura de Religião da Deusa no neolítico.
A Bruxaria Moderna, tal como nós conhecemos, começou a se tornar possível graças ao trabalho de bruxos como Gerald Gardner. Ainda que ele não tenha sido o único ou o mais original, a religião Wica começou a tomar forma a partir dele, que amalgamou seu conhecimento com aquilo que ele aprendeu no Coven de Bruxas de New Forest.
Por muitos anos, grupos que surgiram posteriormente se apropriaram do nome Wicca devido à visão estereotipada da Bruxaria. Curiosamente, muitos desses grupos deixaram atualmente de usar o nome Wicca para se designarem como Bruxaria Moderna, talvez porque queriam ter mais liberdade, talvez porque queriam se desvincular da Wica.
O fato é que existem muitas formas de bruxaria além da européia. Em muitos países a prática ainda é proibida e punida por lei, porque a bruxaria sempre rompe com os padrões sociais impostos pelas elites. Ou seja, eu reitero minha opinião que deveria ser restrito a maiores de 21 anos os livros sobre bruxaria, porque essa prática não é coisa de criança nem é passatempo para adolescente.
O sentido de hereditariedade na bruxaria não deve ser apenas entendido como laços sanguíneos familiares, poucos e raros são os bruxos que efetivamente descendem de uma família de bruxas. Na própria prática de bruxaria existe o 'herdeiro' que recebeu o conhecimento ancestral de uma bruxa (que está morrendo) depois da transmissão do poder e existe o 'herdeiro' que foi treinado pela bruxa. A prática da bruxaria sempre terá algum antecessor, ainda que o conhecimento da prática tenha vindo por meio de livros.
A preocupação em traçar uma linhagem sanguínea ininterrupta é uma opção individual, coletivamente a preocupação de quem pratica a Bruxaria (Tradicional ou Moderna) e a Wica está mais na linhagem sacerdotal, na herança cultural e na herança genética que recebemos.
Quando Gerald Gardner conheceu o Coven de New Forest, a prática estava fragmentada, mas ele recebeu uma iniciação formal nesse Coven. Havia, então, uma linhagem e ancestralidade, senão não haveria o que transmitir, nem a Tradição Gardneriana seria tão bem sucedida. Apenas quem esteve lá, quem recebeu a iniciação, fez os votos ou conheceu a Gardner e seus iniciadores pode questionar alguns fatores, mas não a tradição em si mesma.
O que incomoda, como sempre às pessoas vaidosas e com sede de poder, é que para ser um wiccano é necessário receber uma iniciação formal, porque foi assim que a Bruxaria Moderna recebida por Gardner, a Wica, foi transmitida e 'herdada'. Essa não é a única forma de praticar a Bruxaria Moderna e certamente não é a única forma de Paganismo, mas criticar a tradição da Wica é coisa de quem não tem respeito pela religião.
ola, gostei muito do texto, foi muito bem explicado, e desmistificou muito sobre a wicca, tirou muito de minha duvidas sobre a religião e a tradição, quando puder receitarei que outras pessoas o leiam, até a próxima
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