terça-feira, 13 de novembro de 2007

O poder da palavra

Historiadores e antropólogos estão incertos de quando, onde e porque nossa espécie desenvolveu esse sistema complexo de comunicação conhecido por linguagem. O que se pode afirmar é que foi o resultado de um processo e que a habilidade foi passada e aperfeiçoada através das gerações.
No tempo de nossos ancestrais, o conhecimento era transmitido via oral, ou pelos mais velhos, ou pelos xamãns. A palavra falada ganhava entonações que lhe conferia densidade, textura e intensidade que tornavam a narrativa mais dramática e assustadora.
Posteriormente, o som das palavras foi sendo codificado em seqüências de símbolos coerentes, até formarem os primeiros alfabetos silábicos, que depois se desenvolveram e resultaram nos sistemas de letras, mas fáceis de memorizar. Com isso, o conhecimento passou a ser registrada e transmitida via literal, por textos escritos.
Entretanto, o conhecimento da escrita ainda pertencia a poucos, as pessoas que exerciam a profissão de escriba eram tão sagradas quanto os sacerdotes e o ofício era passado de pai para filho. Por causa dessa condição, era muito comum o escriba ser empregado nos templos e ser muito solicitado para a construção dos mesmos.
Não foi por acaso que a primeira religião monoteísta, o Zoroastrismo, procurou registrar por escrito os pensamentos e as doutrinas instituídas por Zaratustra como sendo a verdadeira religião de Deus, chamado então de Ormuz. Mas antes, uma breve explicação sobre mecanismos psicológicos.
Para nós, muitos objetos são mais do que coisas, eles tem um significado emocional ou simbolizam algo mais. Esse significado dado a objetos se chama fetichismo e é um princípio muito usado na magia. Em certo sentido, a palavra escrita também é um objeto, ainda que expresse uma idéia. Assim, enquanto objeto, a palavra também carrega sua dose de fetichismo exatamente quando quem a lê reproduz e recria, como na magia, o momento sagrado quando Deus se revelou aos homens.
Com isso, fica fácil entender o motivo pelo qual as religiões monoteístas são caracterizadas por serem fundamentadas por um livro sagrado. O Zend Avesta, a Torah, os Evangelhos, o Corão não são apenas obras humanas que registram uma experiência espiritual dentro de um contexto histórico e social, mas são efetivamente as palavras de Deus que exprimem e determina de forma universal o jeito correto de se relacionar com Deus.
Na Wica existe o Livro das Sombras, mas este é usado para consulta e orientação prática, nós não temos livros sagrados, a revelação dos Deuses vem pela experiência direta com a natureza e a magia; nós usamos palavras de poder, mas este vem de nós, não das palavras. Para o pagão é muito difícil aceitar uma religião revelada por escrituras, pois uma religião assim não adora a um Deus, mas ao poder da palavra.

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