quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Ritos e mistérios nas religiões tradicionais

Desde que o ser humano percebeu a existência de seres transcendentes que podiam influenciar, positiva ou negativamente, sua vida, começou a criar cerimônias para cultuá-los ou esconjurá-los e neutralizar seus possíveis efeitos negativos. Além de orações criou rituais e encontrou símbolos com características próprias do povo que, ao longo dos séculos, foram se modificando e se fixando até se tornarem cerimônias que podemos definir como verdadeiras liturgias populares.
A finalidade desses rituais varia muito, dependendo da cultura e tradição locais, mas também dos momentos da vida a que se refere, por isso, encontramos oferendas das primícias das colheitas (entre os povos agricultores) ou da caças (povo caçadores), muitas formas de purificação, danças e até sacrifícios cruentos, como flagelações, circuncisões e assassínios rituais.
Tais celebrações podem assustar um desavisado espectador, que não pertença àquela cultura, e também, não se justificam mais no dia de hoje, mas são atos que se originaram do conceito que cada cultura tem das suas divindades e constituem o patrimônio cultural e religioso de cada povo.

Rituais nas religiões tradicionais
Nas religiões tradicionais, erroneamente chamadas "primitivas", e naquelas que se baseiam nos ciclos lunares, solares ou cósmicos, existe uma forte preocupação com a passagem desses ciclos, porque o homem percebeu, por sua secular experiência, o quanto é importante o fluxo normal e regular desse fenômenos para gozar de tranqüilidade e felicidade na vida cotidiana.
Para conseguir essa segurança, os primitivos deram grande valor aos ritos de propiciação da fertilidade humana, animal e da terra, estabelecendo rituais que podem ser oferendas, libações, purificações corporais ou do lugar, sacrifícios de animais e, até pouco tempo atrás, de pessoas (assassínio ritual).
Entre os peles-vermelhas, por exemplo, ofereciam-se cavalos; em algumas tribos dos esquimós, renas, além de se pronunciar uma oração de oferenda ao Grande Espírito para que devolvesse, em abundância, o que lhe era oferecido.
Em quase todas as culturas tradicionais, essas celebrações são realizadas com muitas danças, às vezes reservadas somente aos adultos de um ou outro sexo, ou que simulam combates simbólicos, em que, ao final, vence sempre quem representa o bem, a força da natureza.
Citamos como exemplo o ritual dos swazi, difundidos em toda a África Central, no qual se simula uma rebelião contra o rei ou chefe da tribo que é desautorizado e humilhado mas seus defensores acabam vencendo e ele é recolocado triunfalmente no trono.
Simbolicamente, a ordem foi restaurada e o povo pode confiar na benevolência dos espíritos para as próximas colheitas.
Nesses rituais, o homem tribal revela a alegria de viver, a certeza da manutenção de sua vida na abundância e sob a proteção do céu.
Em toda as suas manifestações, é perceptível a noção de que vida ou morte, riqueza e sofrimento, luz e trevas dependem não dele, mas dos seres superiores; os ritos tornam-se, então, uma maneira de comunicar com esses seres e de participar da vida deles.
Não é um simples folclore, mas uma genuína expressão da religiosidade que permeia toda a vida dessas pessoas. Os ritos da purificação não são somente para as pessoas, mas também para os lugares onde se vive e podem ser realizados através da água e do fogo.
Sua finalidade é livrar-se dos espíritos maus e de suas ações nefastas, invocando a proteção dos espíritos bons para ter colheitas e caça abundantes.

Os grandes rituais da vida
Essas culturas, pelo envolvimento existencial com a natureza, não conseguem separar o aspecto religioso da vida social e, portanto, têm rituais mais marcantes para os grandes acontecimentos da vida: o nascimento, a iniciação para a vida adulta e social, o matrimônio e a morte. Para eles, a vida é um grande mistério.
Por exemplo, devido às situações precárias de higiene ou pelo uso tradicional de remédios inadequados, existe sério perigo de morte para o nascituro e para a mãe, daí a felicidade de o filho nascer vivo e a mãe sobreviver ao parto e a preocupação de pedir a proteção divina para eles.
A mãe, antes de dar à luz, deve cumprir cerimônias para escapar da morte e ter a alegria de criar uma nova vida. Em certas tribos, como as dos índios da Amazônia, o marido também pratica um ritual de acompanhamento do parto, simulando as dores da esposa durante o nascimento do filho, como se fosse ele quem estivesse parindo e confundir os espíritos maus. Em outras tribos, as mulheres devem ficar segregadas numa cabana escura, uns dias após o parto, não somente por normas higiênicas, mas também para impedir que os espíritos maus as descubram.
Superstições? Não: rituais antigos que provêm de uma secular experiência. A cerimônia de iniciação, (quase sempre para os adolescentes de sexo masculino, embora em algumas culturas, também para as meninas) acontece num ritual complexo: geralmente, os adolescentes são isolados na floresta ou em cabanas à margem da aldeia, onde mulheres não podem entrar, e aí são preparados para a vida adulta da aldeia, recebendo ensinamentos sobre as tradições locais.
Normalmente, a cerimônia se conclui com a circuncisão ritual do prepúcio, fato dolorido que pode causar a morte por infecção generalizada. Naquele momento, o adolescente, tendo superado as provas e demonstrado coragem, torna-se adulto e guerreiro. Em certas tribo, o rito da iniciação é comparado à morte (simbólica) da criança, que ressurge como adulta, portanto, ela deve dar prova dessa maturidade, vencendo a dor.
Os nossos índios são obrigados a superar provas dolorosas, como a cerimônia da tucandeira. Outros rituais complexos e ricos de símbolos religiosos e sociais celebram o casamento e a morte.

A dança: participação na natureza
Para esses povos, viver significa participar da natureza, estar em contato com os espíritos bons e maus, com os antepassados, procurando sempre a harmonia com todo esse universo mágico.
Nesse contexto a dança tem um papel importante: serve para criar o ambiente emocional que estabelece a comunicação de todo o seu corpo - através de movimentos, música e cantos - com o universo.
Considerar, portanto, as danças tribais e seus cantos, simplesmente como algo folclórico e sensual, significa não entender uma expressão fundamental da existência social e religiosa do homem, que vibra com o universo.

Fonte:http://www.pime.org.br/mundoemissao/atualidritosmist.htm [página extinta]

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